domingo, 17 de julho de 2011

Leitura de Domingo



[...]Não escrevas poemas de amor; evite a princípio aquelas formas que são muito usuais e muito comuns; são elas as mais difíceis, pois é necessário uma força grande e amadurecida para manisfestar algo de próprio onde há uma profusão de tradições boas, algumas brilhantes. Por isso, resguarde-se dos temas gerais para acolher aqueles que seu próprio cotidiano lhe oferece; descreva suas tristezas, seus desejos, os pensamentos passageiros e a crença em alguma beleza - descreva tudo isso com sinceridade intima, serena, paciente, e utilize, para se expressar, as coisas do seu ambiente, as imagens de seus sonhos e os objetos de sua lembrança. Caso seu cotidiano lhe pareça pobre, não reclame dele, reclame de si mesmo, diga para si mesmo que não é poeta o bastante para evocar suas riquezas; pois para o criador não há nenhuma pobreza e nenhum ambiente pobre, insignificante. Mesmo que estivesse numa prisão, cujos muros não permitissem que nenhum ruídos do mundo chegasse a seus ouvidos, o senhor não teria sempre a sua infância, essa riqueza preciosa, régia, esse tesouro das recordações ? Volte para ela a atenção. Procure trazer à tona as sensações submersas desse passado tão vasto; sua personalidade ganhará firmeza, sua solidão se ampliará e se tornará uma habitação a meia-luz, da qual passa longe o burburinho dos outros.

[.....]

Rainer Maria Rilke

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Diane Birch




a música dela tem uma acentuação setentista. aquele saudosismo nos arranjos, nos vocais. aquela produção que só quem trabalha muito em estúdio percebe que vai colar no ouvido do sujeito. uma voz parecida com tantas. uma música para alpha-fm, ou antena 1 nas palavras do paulinho. embora uma delas possa ser ouvida na eldorado-fm. olhando na ficha técnica de Bible belt, seu único trabalho, se lê o nome de Betty Wright, cantora que frequentadores dos bailes de música negra conhecem muito bem e que também tem feito trabalhos com Joss Stone. a primeira foto que vi dela, com o chapéu, me lembrei da atriz maria schneider, do filme o último tango em paris. e depois vi outras. e em muitas com chapéu e vestida com cara de menina dos 70. ouvi mais algumas músicas e reforcei a idéia daquela saudade dos 70 mais ingênuos. tinha alguma coisa daryl hall & john oates. porque assoviei fools um dia desses fui atrás de um vídeo dela. uma das primeiras opções é ela no programa de daryl hall, que reúne amigos. assim como teem feito por aqui arnaldo antunes e davi moraes. aquele saudosimo setentista cravava suas garras.


quarta-feira, 13 de julho de 2011

De volta Àquele Paraíso



na última sexta naquele mercado de bandeira francesa que está em vias de se fundir com um de bandeira brasileira, encontrei uma gôndola de livros.

e se tem livro, paro. não que os títulos valessem a pena. mas entre livros de auto-ajuda, espíritas e de padres, achei o Noites Tropicais (MOTTA Nelson, Ponto de leitura, + ou - 400 pgs). o livro já tem um tempo de lançado e ganhou uma edição de bolso e estava baratinho e perdidinho naquela gôndola.

o Nelson Motta que ainda gosto é aquele crítico musical que li desde a infância, o apresentador do Sábado Som, o primeiro programa com filmes musicais da tv que assisti. o Nelson Motta dos últimos tempos dispenso. embora seja ele da irmandade dos escorpinianos ortodoxos. coloquei o livro nas compras.

li o livro em talagadas nas madrugadas de sexta para sábado e de sábado para o amanhecer de domingo. Motta convive com ícones da mpb desde a adolescência. as histórias no livro são saborosas. elencadas em ordem cronológica de 1958 até 1992, é um livro das memórias musicais do jornalista, produtor cultural de primeira e com feeling, quer gostemos ou não.

há lapsos, confusões de datas no livro mas nada que o desabone. e quase no fim do livro Motta se pergunta, que é uma pergunta que também me faço, se aquilo tudo existiu mesmo ou foi como ele viu a coisa.

me deparei então no começo da tarde de domingo, com um depoimento de Ferreira Gullar, outro de quem já gostei mais, sobre um poema que leu na Flip. o poema foi escrito na intenção de chamar a atenção de uma mulher. aí alguém perguntou se a ação deu certo e Gullar respondeu:"não!", e riu.

com estas sensações parceiras tomando conta de mim vi que o Centro Cultural São Paulo estava exibindo uma seleção dos filmes de Terrence Malick.

Terrence Malick tem 40 anos de carreira. só realizou 5 filmes. é considerado um cineasta difícil. recentemente ganhou a Palma de Ouro em Cannes com o filme A Árvore da Vida.

naquela última sessão de filmes da Globo assisti Terra de ninguém(Badlands, 1973) com Martin Sheen e uma ruivinha que iria quebrar tudo anos depois, Sissy Spacek. Sheen é Kit um assassino e Spacek, Holly por quem se apaixona. Depois de matar o pai da garota os dois fogem estradas afora. Momentos tristes, momentos belos.

Mas na mostra de Malick o que me levou a lembrar das frases de Motta e Gullar e deixar meu coração assim assim na melancolia dominical, coisa de brasileiro segundo Motta no livro lido, foi saber que o também belo, As cinzas do Paraíso(Days of heaven, 1978) estava programado para aquela tarde. me lembro direitinho do dia em que o assisti a primeira vez. e fui abalroado por aquela sensação que tenho toda vez que tenho alguma notícia do filme, um misto de alegria, incredulidade e de fortaleza, uns sentimentos misturados, como alguém que fazia misturas com seus perfumes.

Assisti o filme no cine Gemini na Avenida Paulista. O cinema fechou suas portas no final do ano passado(2010). Assisti o filme acompanhado por uma pessoa que deu um norte para minha auto estima impensado. que me mostrou que apesar de muitas manifestações ao contrário, eu não acreditava muito na poesia que havia em muitos momentos na minha vida. e que eu era sim capaz de gerar encantamentos. com esse espírito e grana ajuntada de pai e mana, nos encontramos na novidade de transporte na cidade naquele tempo, o metrô.

o encontro foi na estação carandiru, eu chegando em caminhada da josé bernardo pinto, ela chegando com o ônibus vila ede, marron e creme da viação parada inglesa. linda em calça jeans, uma de suas batas bordada, três perfumes misturados e sorrisos.

descemos na estação paraíso e caminhamos à pé pela Avenida Paulista até o 807 onde ficava o cinema no térreo e prédio da Rádio Jovem Pan, rádio de quem gostava entre outros de Zuza Homem de Mello. com que me encontraria uns dias depois para um trabalho escolar. Jovem Pan que naquele momento estava ganhando a atenção dos mais jovens por ter uma emissora em fm com som melhor e sucessos e era sintonizada por todos os bares e lanchonetes no térreo do edificio onde podia se ouvir the closer l get to you com roberta flack e donny hathaway, que tinha caído no gosto popular, bonita e melosa e por estar num comercial de cigarros na tv.

visto o filme uma olhada na loja de disco, que ficava do outro lado da avenida no térreo do número 900, onde ela teve a comprovação de que Beto Guedes existia e tinha lp nas lojas e nunca seria executado no programa de Zé Bettio.

o dono da loja, onde voltaria muitas vezes depois já com dinheiro ganho com o próprio trabalho, informava que amor de índio era o segundo disco de Guedes e que ele achava a capa, com o cantor vestido com uma manta diante de uma janela, bonita.

a rádio difusora-am iria distribuir o disco um tempo depois numa promoção. promoção da qual participaria saindo correndo do apartamento com fichas telefonicas nos bolsos até um orelhão desocupado e conseguindo a ligação mas chegando atrasado e só ganhando um compacto do chris rea com fool (if you think it's over) que a emissora tocava.

ela, ao ouvir o disco de Beto no sistema de som da loja, gostou da faixa gabriel, como outras meninas também gostariam ao ouví-la, e plantou a dúvida na cabeça dela sobre o nome de possíveis futuros filhos. ali era pedro ou gabriel. mas também gostou da sonoridade de breezin' do ainda intrumental george benson. que tocava quando entramos na loja

tomamos sorvetes naquele sábado. discutimos as capas dos discos, músicas. falamos do filme. de como ele era bonito. de como eram bonitos richard gere e brooke adams. ela falando que sempre me achava maduro. e eu dizendo que era o fato de ter repetido, por negligência e desencanto, alguns anos escolares. ela dizendo que não era só isso. e eu querendo saber se a postura da personagem do filme tinha fundamento. no que ela ficou triste. corroborando a decisão da personagem. havia sacrifícios no gostar e às vezes na vida de uma mulher. eu a ouvindo e achando que madura e forte era ela.

e depois a longa e delicada e deliciosa caminhada, quando onde em alguns momentos ela pegava na minha mão começando pelo dedo mindinho, da estação santana até a praça oscar.

Gullar, um poema meu deu certo. Motta, às vezes também penso se foi mesmo verdade.

Tudo isso na vida de um Pivete Neguinho.


P.S. - só não sei se irei ao Centro Cultural. se for derreterei na cadeira.

sábado, 9 de julho de 2011

Roda de Sábado - Billy Blanco (1924-2011)



apaixonado por bandas, instrumentos de sopro, músicos de jazz em geral, ouvi meu pai cantar poucas músicas com letras.

uma delas era do cantor miltinho; "cara de palhaço/pinta de palhaço/roupa de palhaço/foi esse meu amargo fim."

e a outra foi a banca do distinto. que ele cantava enquanto se barbeava ou fazia alguma outra coisa, imitando nelson gonçalves, enchendo de erres, o pedaço; "não carrrrrrrreeeega embrulho." ou "prá que tanta pose doutorrr/pra que esse orrrrgulho"

aos 87 anos o distinto e produtivo billy blanco, autor da música e de outras quase 500, se foi. seu obituário de poucas linhas no sitios por ai, e é de uma vergonha só para quem enfileirou clássicos e mais clássicos.

se destacássemos só duas de suas obras, como por exemplo, Sinfonia Paulistana ou Sinfonia do Rio de Janeiro, elas já dariam tema de conversa para anos.

mas nesse mundo cheio de pose....


ah e a Sinfonia Paulistana foi descrita assim pelo sidnei , o dono do (Quase) Tudo[Monólogo], não vou roubar na caruda, cliquem aqui.



quarta-feira, 6 de julho de 2011

Audrey


claro este post aqui será objeto de debate na próxima reunião da Confraria dos Negões, da qual faço parte. Onde já se viu um negão gostando de Bonequinha de luxo e das foto de Audrey Hepburn. dois dos motivos da minha sonolência nesta quarta.
se você, raro leitor, assina uma daquelas operadoras de tv fechada sabe que um filme pode ser reprisado cinco minutos depois de seu término. algumas vezes eles estão em canais diferentes ao mesmo tempo.
mas algumas vezes você gosta da reprise. nas últimas madrugadas sem sono peguei Bonequinha de luxo duas vezes. parafraseando a letra do grupo rumo;delírio meu, delírio.



e só pra me lembrar também de onde vem aquele fetiche de gostar de mulher vestida com camisa social masculina, andando pela casa sem preucupação. flanando, flanando, deixando o tempo passar.




e o que dizer de penteados rabos de cavalo






é, e podia ser pior a próxima reunião daquela Confraria, minha intenção era escrever sobre bailarinos que admiro. fica prá próxima.


segunda-feira, 4 de julho de 2011

Própria (pa)Lavra

eu sei
quando é
aquele feriado
que criei
para desfilar
meu manto bordado
com aquele nome
grafado
gravado

eu saio
com minha retreta
teu nome
em minha camiseta.


sexta-feira, 1 de julho de 2011

Mexendo nos vinis - Bryan Ferry






descobri que vender a própria casa não é fácil. mesmo com interessados mil te visitando. interessante foi reparar na cumplicidade dos homens ao se deparem com um dos quartos, aquele que os sobrinhos ora chamam de livraria, ora de biblioteca.
os homens olham para as esposas e para mim com aquele olhar; tá vendo, não sou só eu. ou nossa quanto disco, ou quanto livro. tem time de botão. olha, tem gibi.
e as mulheres, olhando para aquela que me atura envergonhada, nossa que bagunça.
mas a venda de uma casa é complicada. todos ao seu redor são investigados. até o davi que só está nesta superfícíe quente há um ano e meio, merece uma página no processo. isto porque você quer vender sua casa.
enquanto a coisa não se confirma se arruma as tralhas como pode. e as visitas vão se sucedendo. dias desses, separando os vinis no quarto, apareceu mais um. da minha geração. viu os gibis, os times de botão e um vinil do roxy music que escapava do monte que ajeitei no chão.
nossa você tem este disco. me achavam esquisito por gostar desses caras. tocava uma música deles naquela rádio a ...antena 1, eu. pois é, ele. aquela do john lennon é com eles? jeaulous guy, eu. não sei, às vezes acho que é solo do bryan ferry. mas tinha uma outra, ele. more than this? essa, ele. e avalon? e love is the drug, é deles? nossa tanta coisa, ele. é mesmo, eu. e o disco solo dele, voce também tem? tenho. nossa é muito disco, nem procura.o cara era "pintoso", ele. rsss, eu. invejava o cara, ele.
o que você vai fazer com os discos? vem com o apartamento, rsss? engraçadinho!!!, pensei.

depois que saem. deu saudade do album solo do bryan ferry. cadê? cadê? estava aqui em algum lugar...
a discoteca deve estar na quarta ou quinta geração. há discos da adolescencia, os presentes, os deixados, os roubados, os não devolvidos., lembranças, lembranças.
e mexendo nos vinis me lembrei que o disco solo do bryan ferry, boys and girls. já esteve sob minhas posses em duas ocasiões e nas duas foram passadas para outras mãos, mais macias que as minhas.
será que elas, mexendo nos vinis delas, se lembram de como eles chegaram la?. se é que eles ainda estão por lá. ou não foram entregues como parte das vendas delas.