quarta-feira, 28 de setembro de 2011

São só 16 ?



enquanto me serve um pingado a moça da lanchonete vê meu interesse na televisão e me avisa; é novela nova, das seis! no exato instante em que neusa borges aparece na tela sendo abraçada por um bonitinho de plantão que eu já vi num filme polêmico sobre incesto e homossexualismo, cujo nome não sei. neusa borges, quando fora do ar, costuma reclamar por papéis, quando volta é o mesmo, assistente do lar. nunca é diferente para o ator negro brasileiro.
quando foi diferente foi uma grita geral. recentemente colocaram lázaro ramos encantando e cantando mulheres bonitas numa outra novela. a sociedade brasileira mostrou sua face. ramos costuma mostrar a dele, não foge de brigas, tem estofo e programa para ser visto no canal brasil, o espelho. e é um homem bonito.
tanto que ainah carvalho o citou numa faculdade da cidade, onde estuda jornalismo, em detrimento de bonitinhos que abraçariam neusa borges em outras novelas, como caio castro e henri castelli. o voto de ainah causou desconforto.
tivesse lido o artigo de luiz antonio palma e silva para o "debates fundap", ainah poderia acreditar em sociedade plural. mas ela se encaixa em outro ponto do artigo. aquele em que o autor fala do alcance das políticas públicas. as políticas públicas de inclusão na sociedade plural de palma e silva, nem chegaram aos pés de ainah que estudou em escola pública com boas notas e como muitos afro ascendentes procura emprego para pagar uma faculdade particular. políticas públicas dependem de dinheiro público.
dinheiro público que a usp, por exemplo tem. onde segundo e-mail do professor mestre zé amaral, um grupo de 16 alunos de extrema direita se aliou aos skinheads. leia aqui. sou a favor da meritocracia mas quem estuda em escola pública deveria ao final do curso repor para a população de alguma forma os anos de estudo passados às custas do erário público. no entanto numa sociedade de pensamento torto eles querem eliminar a sociedade plural de ainah e palma e silva. e desconhecem no discurso a formação étnica do país. não estão sozinhos.
desconhecem a formação étnica brasileira por exemplo, os publicitários da recente campanha da caixa econômica federal, que nos mostrou um machado de assis, branco. mas aí deve ser culpa até do bom autor. que fez em seus ótimos livros, o que a sociedade sempre faz, escondeu os negros. não colou a mão na ferida como lima barreto. coragem para ser espelhada passou longe.
coragem que precisaremos ter se quisermos viver numa sociedade plural que abarque papéis melhores para neusa borges, lázaro ramos e ainah carvalho.



e a coragem de rosa parker?


atualização:

suprimi a última parte deste post. que falava sobre um programa da oprah winfrey. ao pesquisar melhor, vi que se tratava mais de um boato da internet.
para quem não leu falava de um e-mail que circula por aí de que o estilista tommy hilfiger teria sido convidado pela apresentadora, para se retirar do palco, por ter dito uma frase infeliz, sobre negros, judeus e latinos. oprah e tommy continuam amigos. vejam aqui. e uma das lições é ouvir sensatamente os dois lados de uma história.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Mexendo nos vinis - Warne Marsh



o atendente do sebo em pinheiros era atencioso. tinha boa conversa. nossos assuntos ultrapassavam o musical. poesia, filmes, fotografia, filosofia, playboy x hustler, john holmes x long dong silver, pinball x jogão de botão, careca x serginho chulapa e naquele momento, jânio x fernando henrique. nossas conversas chamavam a atenção de algumas freguesas que em muitas ocasiões formaram ao nosso redor uma roda e ainda saboreavam o vinho branco que ele guardava no frigobar. percebemos também que os vestidos curtos e as minissaias estavam de volta e que o uso de sutiã era opcional. e talvez se adauto novaes tivesse passado por lá, nos tivesse convidado para os seminários que criaria um ano e meio depois. o assunto rolando e música no prato do aparelho da loja. bandas europeias, africanos, música clássica.
ele, vinicíus, achava que eu gostava de umas coisas diferentes. e eu devia levar aquele disco, mesmo não conhecendo os instrumentistas mas pelos produtores, donald fagen e walter becker, vigas mestras do steely dan.
e nunca tinha ouvido falar mesmo em pete christilieb ou warne marsh. mas gostei de apogee, o título do disco. o som do disco encantou a todos na loja e vinicius marcou mais um ponto. ele gostava da formação do disco, christilieb e marsh tocavam sax tenor e dialogavam em todas faixas do disco acompanhados por baixo piano e bateria. em dias mais ou menos ensolarados da alma assovio inteiras, magma ou rapunzel, faixas do disco. mesmo em aparelho de som mequetrefe o som continua bom. há algum tempo fazendo um freelancer para uma revista de audio, levei o disco para uma equalização de aparelhos, ele voltou a impressionar.
mas não ouvi mais falar em warne marsh ou pete christilieb, nem se realizaram outros trabalhos juntos. passei a achar o disco um delírio de meus sonhos, duvidei da existência do vinícius, das moças na loja, da minha vida naquele período. o sebo fechou as portas, fiz duas grandes burradas em minha vida, isolei o disco numa memória menos sofrida.
só recentemente voltei a ler sobre warne marsh . foi no blog do érico cordeiro, sugerido em link pelo sidnei brito, o JAZZ + BOSSA + BARATOS OUTROS . me empolguei novamente. resolvi ler um pouco mais sobre ele, soube do trabalho dele com lee konitz, lennie tristano, encontrei muito assunto, confirmava-se sua existência. faltava eu mexendo nos vinis encontrar o exemplar que ainda guardo com o selo do sebo, respirar fundo e comemorar com um vinho branco em homenagem ao vinicius e suas frequesas.





terça-feira, 20 de setembro de 2011

Primavera com promessas

rascunhando; coisas boas, coisas ruins, coisas....




Do que ele lembra. lembra dos discos e do violão da dona da casa e do irmão dela. das pessoas espalhadas no chão e no sofá. lembra das duas músicas que ele cantou, "chuva" do paulinho da viola e "faça seu jogo" do lo borges.
lembra que falou do clube da esquina, lo e beto guedes, no que aquela menina que ele andava vendo no corredor do colégio olhando para ele e o novo amigo dele, duvidou da existência do cantor.
aquela menina que ele via no corredor. e que tinha certeza que estava tendo alguma coisa com aquele amigo novo dele. o amigo era discreto, ele achava. devia querer que a situação não causasse inveja nas pessoas. só estava esperando o dia em que ele chegaria com aquela maneira peculiar de chamar a atenção; "meu chapa, tem uma menina na outra classe...!", e então ele finalmente falaria dela. ele só, quando ela olhava, sorria em boca chiusa e levantava a sobrancelhas em respeito ao novo amigo.
quando ele foi saindo ela também disse que estava saindo, ele lembra. lembra que no curto caminho da casa da amiga em comum na cassio de almeida até a praça oscar, até falar a frase final, ela fez uma pergunta, duas observações e falou duas vezes um "hã?" porque não tinha entendido a única frase dele naquela caminhada. frase que pedia para ela ficar do lado de dentro da calçada. ele então pediu desculpas mentalmente para aquele novo amigo dele, pegou na cintura dela e a colocou do lado de dentro da calçada. ela sorriu apertando o olhos e ele ficou com inveja daquele novo amigo.
quando chegaram na praça ela foi revirando o caderno que levava. o perfume dela pareceu tomar a tarde na praça. ele sentiu uma saudade do nada. uma saudade que vinha com uma tristeza junto. ela estendeu um papelzinho para ele. "Então Pedrão....pode ler!". Aquela saudade e aquela tristeza aumentaram no coração dele. ela deu um beijo no rosto dele, atravessou apressada a rua, a praça, a maria candida. ele lembrou que não gostava de ver as costas de quem parte enquanto ela sumia pelo estacionamento do supermercado. envolto pela nuvem de perfume dela , que ele saberia mais tarde que era a mistura de três. ele foi abrindo devagar o papelzinho.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Boa sorte para você

rascunhando; coisas boas, coisas ruins, coisas boas...

para a mulher com nome de princesa da Família Real Luso-Brasileira, Teresa Cristina


Tina

você só vai entender porque eu começo este post, dedicado para você pela pequena história que conheço do Clube de Regatas Tietê lá no fim, bem no fim.
O Clube de Regatas Tietê é um clube tradicional da cidade de São Paulo, hoje tem duas sedes. A de que vou falar fica na beira do Rio Tietê no bairro da Ponte Pequena.
Nos tempos de rio limpo o clube participava de competições de remo contra o vizinho que se localiza defronte a ele do outro lado do rio, o Clube Esperia. Competia também contra o Germania, o São Paulo que então estava na várzea do Canindé, também na beira do rio e contra aquele clube que fundado por italianos, espanhóis, anarquistas das fábricas paulistanas e do povo e que tirou de um time inglês seu nome e comprou um terreno lá no lado leste da cidade numa curva onde hoje passa a Via Dutra que te leva para o aeroporto, quando você fica aqui nesta cidade cinza, para ganhar força para o voo para seu apartamento em Paris, o Corinthians.
Os negros que frequentavam o Clube Tietê eram talvez seus funcionários e somente estes. Nem sei se algum sócio fazia o que seu irmão fazia comigo me colocando para dentro do Clube Canadá em Londrina.
Um carnaval alguns negros foliões só querendo uma festa foram barrados no Clube Tietê. Alguns pivetes neguinhos perceberam que na casa dos sucessores daquele terreno que era do São Paulo lá na várzea do Canindé, os portugueses da Portuguesa de Desportos, que montaram ali seu estádio e clube, tinham melhor tratamento. E em algumas tardes em suas piscinas puderam confirmar o que os uniformes dos colégios de bairros próximos como Vila Guilherme, Pari, Vila Paiva, Carandiru, escondiam das meninas que chamavam atenção. Não eram ainda as praias europeias mas já era alguma coisa.
A Faculdade Zumbi dos Palmares é oriunda do curso pré-vestibular ligado a Educafro, uma instituição que batalha pela inclusão de negros na vida acadêmica do país. Não sei por qual acordo, a Zumbi dos Palmares está instalada dentro do Clube Tietê, depois de passar pelos bairros da Luz e Barra Funda. O edifício da Faculdade fica no fundão do terreno do clube. Ironia, se antes pelo portão principal eram só os funcionários negros, hoje uma horda discente com mais de 80% de afrodescendentes, passa pelo portão principal de cabeça erguida.
O clube mantem as suas atividades ali, quadras de tênis, piscinas, restaurantes e há ainda uma outra faculdade lá dentro, de Educação Física, com 100% de alunos brancos, fato que já provocou uma reflexão de Joel, aluno do oitavo semestre de Direito da Zumbi e engajado e que contou uma história bonita sobre a Faculdade que logo será contada por aqui.
Uma das coisas, resquício dessa má aceitação do negro ali, é que as aulas da Zumbi, para que os alunos também trabalhem, são ministradas no período noturno e o clube cheio de árvores e caminhos, apaga a iluminação fazendo com que só se perceba as luzes da Marignal Tietê e a da avenida Santos Dumont por onde sai a maioria dos estudantes.

Aqui é que chega a parte que cabe na lembrança que tive de você hoje. Estou na biblioteca. Entro nela quando chego mais cedo. Ao lado dela ficam as quadras de outra escola instalada no clube, a da Escola de Ensino Fundamental. Enquanto esperam os pais, os alunos brincam nas quadras, fazem algazarra pelas dependências do clube. Os ouvindo, tentando cair de cabeça em Bobbio, Kant, Venosa, Miguel Reale, Maria Helena Diniz, os ouvi escolhendo os times. Me lembrei de uma música do Stevie Wonder de um disco duplo que te presentei, o "The secret life of plants", junto com um livro do Fernando Pessoa, "Outside my window"
É que dormir está difícil e tenho tido epifanias, algumas delas com você me aparecendo, para que eu me desculpe. A médica linda com o nome bordado no jaleco, hoje apareceu com um vestido estampado, mais curto e leve decote e fez a mesma coisa que você fez lá no seu quarto londrinense e muito feminino, só que com intenção científica. Tampou meu olho ruim, só não me beijou.
Um passarinho londrinense me disse que você ...me LÊ, uau. Então Beijo e desculpa. Desculpas por tê-la feito me esperar e chorar muito e por dar um rumo dramático para parte de nossas vidas. Desculpas pelos meus delírios químicos que foram me deixando inconveniente e sem norte. Quando falo de você, minha terapeuta abre uma pasta que ela chama de; Como boicotar a própria felicidade por Pedro Geraldo. E reze nessa "igrejinha" aí da Nossa Senhora parisiense na intenção de cinco minutos de sono, tô precisando. Ou senão grava aquele mantra que você recitava às vezes para me segurar no chão:

"Sossega, Menino que não se ama, Sossega.
Relaxa, Menino que não se ama, Relaxa."

Avisa o casal Sarkozy que vou me atrasar para o vinho e reserve uma esteira na areia de Saint Tropez para mim.

Lembrei de desejar Boa sorte prá você
Tenha uma vida delicada.

Beijo delicado

(a.k.a) Pedrão

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Se Você deixar o coração bater sem medo



rascunhando; coisas boas coisas ruins, coisas boas, coisas ruins

coisa boa : a sexta-feira que ela entrou na vida dele





Inventário de piquenique



refrigerantes comprados no bar, com promessa de devolução dos cascos


vidro de geleia


sanduiches de pão pulmann que ela preparou em casa.


bolo pulmman


guardanapo de papel


tres livros de coletâneas de poemas


gravador emprestado


tres fitas cassetes para "ambientação de piquenique" nas palavras dele.


flores silvestres


os perfumes misturados dela


cavaleiro errando, craque em futebol de botão


princesa com dote prometido


a segunda vez em que ela falou o nome dele no aumentativo.


_ eu sinto uma inveja do amaral quando ele te chama de pedrão!