sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Inventário -




trecho de texto não terminado, escrito com qual intenção não sei. escrito com caneta esferográfica azul e lápis. com borrões, letras sumindo e palavras desaparecidas. texto que quase vai embora na limpeza para mudança de casa. sem correções. e publicado sem autorização.

Para Márcia Pescuma, que deu uma resposta bonita sobre minha amizade com Ele, o Zé Amaral, autor do texto.


(...) Conheci o Pedrão num colégio onde eu estudava, junto com sua mãe, Dona Benedita na Vila Guilherme, Zona Norte de S. Paulo. Era um lugar bonito, com um pracinha ao lado, que numa época como esta, primavera, inundava o chão, feito de cascalhinhos, com pétalas de flores. Havia lá também duas quadras onde jogávamos bola, inclusive com as meninas, por sinal, que arranhavam mais do que outra coisa.
Ele tendia sempre por estar caindo pela ponta direita do campo, de meias arriadas, a camisa para fora do calção. Acho que era prá fazer charme. Afinal todo gol bonito que fazia, corria prá comemorar junto à uma certa garota, sentada sempre num dos corners. O gozado é que nunca foram, que eu saiba, apresentados formalmente. Mas ela andava sempre por lá e ele corria sempre para lá. Mistérios.....
O apartamento da família dele não tinha uma vista muito privilegiada mas a atmosfera que acontecia lá dentro compensava de longe.
No quarto apertado dele e do irmão, repleto de discos, livros, jornais e revistas espalhados para tudo quanto era lado, cruzávamos com Beto Guedes, Fernando Pessoa, Fassbinder, Djavan, Clarice Lispector, Ademir da Guia, Capitão América, Paulinho da Viola, Albera Hunter, Ray Charles, Charlie Brown, Walt Whitman, Milton Nascimento, Caetano, Tostão, Spielberg, Beatles, Duke Ellington, Mônica & Cebolinha e sei lá quantos mais. Fundamos (nossa!!!) um jornal, "O Moita" uma homenagem ao "O Capim" do Barão de Itararé.(....)


fim da parte escrita com esferográfica. a parte escrita à lápis está apagada. quase toda.



Filosoficamente pensei de quem é o texto? meu ou dele? Se está comigo é porque de alguma forma ele me entregou. Não devo ter tirado das mãos dele. Penso que ele queria escrever mais. A segunda parte escrita à lápis quase não se é possível ler. Ele também não fez as correções. Não há um referência de data. Mas me parece ser um texto já dos 80. Há palavras rasuradas, sobrepostas, desvio de pensamentos. A folha está amarelada. Não é uma folha de caderno. Parece parte de uma folha de impressora. Detalhes que me chamaram atenção. Lendo o texto, falando da praça, do colégio, de Vila Guilherme e dele. só faltava mesmo aparecer a menina dos perfumes misturados, pelos olhos dEle.