quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Um ano Novo na medida

So many stars – letra e tradução abaixo:

The dawn is filled with dreams
So many dreams which one is mine
One must be right for me
Which dream of all the dreams
When there’s a dream for every star
And there are oh so many stars
So many stars
The wind is filled with songs
So many songs, which one is mine
One must be right for me
Which song of all the songs
When there’s a song for every star
And there are oh so many stars
So many stars
Along the countless days
The endless nights
That I have searched
So many eyes, so many hearts, so many smiles
Which one to choose
Which way to go
How can I tell, how will I know
Out of oh so many stars
So many stars

(Tradução)

A madrugada está cheia de sonhos
tantos sonhos qual deles é o meu
Um deles deve ser o meu
Qual sonho entre todos os sonhos
quando há um sonho para cada estrela
E há tantas estrelas
tantas estrelas
O vento está cheio de canções
tantas canções, qual será a minha
uma delas deve ser a minha
Qual canção entre todas as canções
quando há uma canção para cada estrela
E há tantas estrelas
tantas estrelas
Por incontáveis dias
infinitas noites
que procurei
tantos olhos, tantos corações, tantos sorrisos
qual deles escolher
qual caminho seguir
Como posso dizer, como saberei
diante de tantas estrelas
tantas estrelas

entre as boas gravações dessa música, a que rivaliza com essa, na minha leiga opinião, é a da Sarah Vaughan, mas troquei de mal com ela depois de ler a biografia da Billie Holiday anos atrás. Sarah, por enquanto está de escanteio




Raros Leitores. Um ano Novo na medida Mezzo Cool Mezzo Funk

Para a Vida Moçada !!!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Vince Guaraldi






Explorador caminhante de Vila Guilherme, bairro da zona norte paulistana, um dia topei com a "Banca do Gil", na Rua Maria Cândida. Já havia passado por ela outras vezes mas, por estar instalada numa porta, achava se tratar de uma papelaria. Só entrei quando vi alguns garotos numa certa tarde do lado de fora, falando sobre gibis. E não houve semana depois disso, em que eu não entrasse lá ao menos uma vez, nem que fosse só para conversar ou ouvir as conversas.
Mais tarde conversando com amigos que se formaram e firmaram no ensino médio, descobri que muitos frequentavam a "banca" no mesmo período e eu não me lembrava deles.
O certo é que foi lá que vi pela primeira vez, um gibi do Charlie Brown,criação do desenhista Charles M. Schulz, e que no Brasil ganhou mais fama ainda, depois da homenagem de Benito di Paula. Me lembro que era importado e usado. Estava largado no canto dos usados. Voltei tempos depois com alguns trocados, perguntei o preço e o Gil perguntou se eu queria levar? Com a minha confirmação, fez um preço irrisório, comprei e fui pela rua, folheando, querendo chegar em casa e decifrar as palavras. O gibi e o encarte do disco do Elton John, Captain Fantastic and Brown Dirty Cowboy, foram naqueles tempos, parte das minhas lições de inglês, inesquecíveis.
O desenho de Charlie Brown, acho só chegou por aqui nos 80, mesmo assim em episódios picotados pelas emissoras exibidoras.
O desenho mantinha aquela sensação de que tudo ali na turminha era um prato cheio para tratados psicológicos. E além disso,por trás das histórias, tinham aquelas pequenas células de temas jazzísticos, que hipnotizavam ainda mais. A coisa era séria.
O autor dos temas era Vince Guaraldi, músico de jazz que tinha, entre outras, feito parte do grupo do vibrafonista Cal Tjader. Guaraldi foi convidado a princípio pelo diretor Lee Mendelson, para fazer a trilha de um documentário sobre Charles Schulz. Acabou nascendo uma parceria para os especiais do desenho dos fins de ano.
Os temas compostos acabaram virando clássicos natalinos para os americanos, ofuscando o que o músico fizera anteriormente em sua carreira. Embora isso pareça afastá-lo do mundo do jazz, há uma turma que nos últimos tempos tem visitado sua obra para os desenhos de Charlie Brown.
Wynton Marsalis o fez em Joe Cool's Blues, e David Benoit fez o mesmo caminho o ano passado em Jazz for Peanuts.
Mesmo assim, para provar que Vince Guaraldi não é só os temas do desenho, eis que sai lá fora, uma compilação do pianista, de dar inveja. Claro com um tema ou outro do desenho.Quem sabe, eu não volte à andar por Vila Guilherme, pela Maria Cândida e não encontre o cd, na parte de usados da "Banca do Gil", daqui há algum tempo?

Wynton Marsalis


David Benoit


e claro




mais uma dica hein Papai Noel?

domingo, 20 de dezembro de 2009

ELA

'Cença

Para Teca


Chove muito agora/ muitas nuvens pesadas/ mas depois/ entre ciciar de cigarras, quem sabe/ o sol de novo estalando seu brilho/ você não aceite sair para brincar.novamente.

Ela
Queria ter tido um filho com a minha cor. Faz aniversário no mesmo dia do meu avô Augusto. As crianças gostam dela. Não gosta de músicas cantadas em inglês. Prefere MPB e alguns sertanejos. Engasga às vezes quando ri muito. Se assusta com alguns filmes. Tem as caixas das temporadas de Sex and the City mas assisti as reprises na tv.Estudou muito, conhece todas as orações subordinadas e figuras de linguagem. Faz perguntas durante os filmes.Queria ter feito Medicina.Trabalha muito.Gosta da família à exaustão. Quando encarna, sai de baixo. Tem gosto sazonais, já houve a temporada do mel do Mosteiro de São Bento por exemplo.Tem muitos sapatos.Não está nem aí para a Internet e nem para esse blog.Gosta de massagens nos pés.Adora praia. É mais inteligente que imagina, mas tem vergonha . Gosta de batata doce com leite. Não gosta de futebol mas, de alguns jogadores. É positiva. Adora queijo Minas, vinho tinto suave, suco de uva. Devora melancias.Vê novela. Cansou de ler. Acho que ainda quer dançar.Deu o "sim" mais enigmático. Perguntou se
Eu
voltaria na terça. e Eu
queria ter tido uma filha com a cara dela.

e se eu disser à vocês que usei parte de algumas falas dessa cena, para digamos assim, "chamar a atenção" dELA, só que na PUC, pois é.





quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Quase Ode à Clarice


parte da entrevista de Clarice Lispector para Julio Lerner, falando do livro A Hora da estrela, seu último trabalho. Ela faleceria logo em seguida à essa entrevista.


O primeiro livro de Clarice Liospector que li foi A hora da estrela. Antes vieram as crônicas que ela escrevia para o Jornal do Brasil e mais tarde uma entrevista para Julio Lerner da Tv Cultura de São Paulo e o Caso Especial na Tv Globo baseado no conto, Feliz aniversário.
A impressão era de tristeza e amargura sempre, ainda é. Uma profusão de sentimentos, ou aquela sensação diante da beleza que me paralisa e me entristece. Fui entrando pelos textos de Clarice, pelo não menos densos, contos de, A cidade sitiada, Laços de família e A legião estrangeira.
As palavras não me incomodavam.O incômodo vinha das situações estampadas, das reflexões e da tristeza, sentimento confirmada quando assisti a entrevistada dada à Júlio Lerner. Mas estava picado para sempre pela obra da escritora, e fazer com os livros dela o que faço com os de Machado de Assis, ler algum deles ao ano, qualquer um. O escolhido desse ano foi a coletânea dos artigos que ela escreveu para o Jornal do Brasil, A Descoberta do mundo, a edição que possuo da Editora Nova Fronteira é de 1984, um calhamaço de mais de 400 páginas, delírio.
Benjamim Moser, escritor, crítico e tradutor americano, já escreveu para o New York Times, se apaixonou por Clarice Lispector ao ler, A Hora da Estrela. Acaba de chegar ao Brasil, Clarice, (leia-se, Clarice Vírgula), saiu aqui pela Editora Cosac Naify, custando alguns contos, mais de 500 páginas mostrando dramas e explicando muito da latente tristeza e beleza dos textos de Clarice.
Há aqueles que acham que se ela escrevesse em outro idioma, teria tido mais "sucesso", o texto abaixo, escrito por ela, é uma resposta para "esses que aí estão".


Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter sutilezas e de reagir às vezes com um verdadeiro pontapé contra os que temerariamente ousam transformá-la numa linguagem de sentimento e de alerteza. E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo.

Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado. Às vezes se assusta com o imprevisível de uma frase. Eu gosto de manejá-la – como gostava de estar montada num cavalo e guiá-lo pelas rédeas, às vezes lentamente, às vezes a galope.

Eu queria que a língua portuguesa chegasse ao máximo nas minhas mãos. E este desejo todos os que escrevem têm. Um Camões e outros iguais não bastaram para nos dar para sempre uma herança da língua já feita. Todos nós que escrevemos estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê vida.

Essas dificuldades, nós as temos. Mas não falei do encantamento de lidar com uma língua que não foi aprofundada. O que recebi de herança não me chega.

Se eu fosse muda, e também não pudesse escrever, e me perguntassem a que língua eu queria pertencer, eu diria: inglês, que é preciso e belo. Mas como não nasci muda e pude escrever, tornou-se absolutamente claro para mim que eu queria mesmo era escrever em português. Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só para que a minha abordagem do português fosse virgem e límpida.





que dica hein Papai Noel ?

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Querido Papai Noel



Querido Papai Noel

acho que fui um bom menino.respeitei meus pais, irmãos,amigos, colegas e vizinhos.
falei alguns palavrões é certo, alguns cabeludos, mas observe que eles foram proferidos quando um certo time de futebol jogava, e eram dirigidos a certos pernas-de-pau, que "ousaram" vestir o manto sagrado do Todo Poderoso.
mas separei e leve o lixo para fora. desliguei a torneira enquanto escovava os dentes, evitei pisar "nas grama do jardim", salvo os dias em que frequentei os parques da cidade, não atirei pedras em animais, enfim, quase um santo.
Por conta disso, ou por em parte disso, Nobre Santa, fiquei sabendo, e talvez você também saiba, que a gravadora Verve, aquele selo de jazz classudo, lançou um caixa de Ella Fitzgerald com 4 cds e com um livro bacana com fotos. A gravadora falou que é um material nunca lançado,se eu acredito em você, não acreditaria neles ?
O material é de apresentações d'ELLA num clube de jazz da California,quando ainda não era governada pelo "amigo" do "Sierra". Coisa fina, dá só uma olhada na cara do Duke Ellington, encantado com ELLA.O título da caixa é Twelve Nights in Hollywood, anote aí no seu caderninho.
Por isso meu caro Noel, se você achar que eu mereça, por favor,minha parte de presentes na árvore ainda está fraca, pensa direitinho aí.
Obrigado e bom trabalho e pense em todos e um abraço para o dono do aniversário mais importante deste mês.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Mos Def


Quando eu já me recuperava do remorso, de não ter insistido mais com a bilheteria do Sesc Santo André, ou mesmo ter ido lá e só ouvir o "som" do show, que ele deu semana passada por lá, eis que a televisão me move de novo para o cadafalso do arrependimento.
Fizeram um mini festival, do cantor e ator Mos Def, na madrugada sem sono deste fim de semana, com dois trabalhos para o cinema.
O primeiro, que teve até direito a uma sessão no SBT, foi o remake de Um golpe à italiana, que na primeira versão, em 1969, tinha Michael Caine no papel principal, rebatizado de Uma saída de mestre numa produção de 2003. Aqui os companheiros de elenco de Mos, são Charlize Theron, Mark Wahlberg, Donald Sutherland e Edward Norton.
E para me cutucar ainda mais, a zézima reprise de 16 Quadras, com Bruce Willis no elenco, e um filme que gosto mais da atuação de Mos. Mas aqui o falante, Eddie Bunker cabe de forma correta para Mos Def, tão falante quanto o personagem e cheio de tiradas.
O ator, cantor, tem mais de uma dezena de filmes na carreira, até já dirigiu um documentário sobre as condições de vida das pessoas nas favelas brasileiras, entrevistando Mv Bill. Sua música, ao contrário de outros rappers, não destrata as mulheres e o sujeito tem posições políticas firmes.
Seus mais recentes filmes foram Rebobine por favor e Cadillac Records, onde ele faz o papel de Chuck Berry. Chuck Berry que é parâmetro do seu personagem em 16 Quadras, por um dia ter roubado e mudado de vida completamente.
Se não deu para ir ao Sesc, ao menos deu para sentir um gostinho da atuação do moço, Mos.
e aqui o rapaz com o parceiro Talib Kweli, parte da banda The Roots, e servindo de backing vocals as "tetéias" do The Dirty Projectors, Amber Coffman e Haley Dekle

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Mexendo nos vinis






Um dos trabalhos mais interessantes de se ouvir de Tom Jobim, é Urubu. E leva-se em conta que ele está situado, em termos de lançamento, entre outros três que merecem destaque na discografia do maestro, que são, Matita Perê, Elis & Tom e Terra Brasilis.
As orquestrações, e os arranjos sofisticados por conta da regência de Claus Ogerman, demonstram parte da influência das músicas de Debussy e Villa-Lobos na obra de Tom Jobim. Além de Tom, participam do trabalho,o baixista Ron Carter,o baterista João Palma e a percussão de Ray Armando. As gravações foram realizadas em Nova York no ano de 1975.
A presença do Tom mais bossanovista, com outro com um acento mais clássico, pode ser verificada por conta de faixas como Lígia, Ângela, Arquitetura de morar e Saudade do Brasil.
A faixa de abertura é O Bôto,parceria de Tom Jobim com Jararaca, ponta de uma das duplas que formaram com Ranchinho, a faixa conta ainda com a participação de Miúcha.
Há um silêncio que acompanha o espanto do homem diante da floresta e suas movimentações, a reverência que muitos demonstram diante de Urubu, é quase o mesmo.


Urubu

Texto da contracapa
Antonio Carlos Jobim

Jereba é urubu importante como, aliás, todo urubu. Mas entre eles, urubus, observam-se prioridades. E esse um é o que chega primeiro no olho da rês. Sem privilégios. Provador de venenos, sua prioridade é o risco. O que ele não toca é intocável. Jereba é urubu importante e por isso ganhou muitos nomes. Peba. Urubupeba. Urubu Caçador. Achador. Urubu Procurador. Urubu de Cobra. Urubu de Queimada. Camiranga. Urubu de Ministro. De cabeça Vermelha. Urubu Gameleira .Urubu Peru. Perutinga. Urubu Mestre. Cathartes Aura.

Não confundir com Urubu Rei. Nem é Urububu. Não tem pompas, nem é tão igual assim. Só se parece consigo mesmo.
Não é Urubutinga. Nem Urubu do Mar, Carapirá. Nem o de Cabeça Amarela, nem o famoso Urubu Chacareiro, que voa baixo sobre chácaras e quintais, só come manga e não existe. É mentira de caçador perna-de-pau, de cadeira de balanço, de aposentada carabina.
Nem mera citação de nomes - Urubu Sonho. Nem conotação de azar - Urubu Morcego. Na verdade não és culpado da nossa devastação. Corcovado de duas corcovas, solenes ombros altos de tanta asa sobrante, as mãos cruzadas às costas, narinas conspícuas vazadas, grave, ministro de assuntos impossíveis, só tu sentas à mesa com o Rei.
No chão não te moves bem. Fraco de pernas, maljeitoso, troncho, pousado és o mais feio dos urubus. Despropositado passarão.
Matas com fezes ácidas a árvore onde dormes à espera do dia solar. E vem o dia, as termais e o vento, e a necessidade de voar.
Dia velho, as asas aquecidas, o Jereba mergulha na piscina. Pé de serra, fim de baixada onde começa a ladeira e os contrafortes azulam na distância, o Jereba sobe na chaminé do dia. Urubupeba. As rêmiges das asas púmbleas, prata velha fosca, dedos de mão apalpando o vento, adivinhado tendências. Urubu Mestre. As grandes asas expandidas cavalgam as bolhas de ar quente emergentes da ravina. Tolo papagaio, tola pipa boiando no ar, não-querente, não desejo navegante, à deriva, à bubuia - pois sim! - preguiçoso atento dormindo na perna do vento. Esse sabe o que há de vir. Aquário do céu.
Teu canto imita o vento. Hisss... As asas agora curtas, sobraçando trilhos de ar, pacote negro compacto, bico cravado no vento, velocidade feita letal, muro de azul aço abstrato - e adeus viola que o mundo é meu.
Nas lentes dos olhos, a águia oculta y entrabas e salias por las cordilleras sin pasaporte.
Urubu procurador. Urubu Achador. Que sabes do alto o que se esconde no chão da mata virgem e dos muitos perfumes que sobem do mundo.
Eterno vigia de um tempo imperecível. Guardião de dois absurdos.
Nos vetustos paredões de pedra, esculpidos pela millennia, dorme de perfil um urubu.
A vida era por um momento.
Não era dada. Era emprestada.
Tudo é testamento.

Antonio


Urubu
(1976)

1. Boto 2. Lígia 3. Correnteza 4. Angela 5.Saudade do Brazil
6. Valse 7. Arquitetura de morar 8. O homem

Mexer nos vinis e perceber Tom Jobim na lista da discoteca, dá um certo orgulho, um sentido de brasilidade moderna, um Brasil melhor e possível



terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Copiado na caruda

Artigo da Revista Forum

Acadêmicos amestrados

Por Idelber Avelar [Quarta-Feira, 2 de Dezembro de 2009 às 16:26hs]

Se um marciano aterrissasse hoje no Brasil e se informasse pela Rede Globo e pelos três jornalões, seria difícil que nosso extra-terrestre escapasse da conclusão de que o maior filósofo brasileiro se chama Roberto Romano; que nosso grande cientista político é Bolívar Lamounier; que Marco Antonio Villa é o cume da historiografia nacional; que nossa maior antropóloga é Yvonne Maggie, e que o maior especialista em relações raciais é Demétrio Magnoli. Trata-se de outro monólogo que a mídia nos impõe com graus inauditos de desfaçatez: a mitologia do especialista convocado para validar as posições da própria mídia. Curiosamente, são sempre os mesmos.

Se você for acadêmico e quiser espaço na mídia brasileira, o processo é simples. Basta lançar-se numa cruzada contra as cotas raciais, escrever platitudes demonstrando que o racismo no Brasil não existe, construir sofismas que concluam que a política externa do Itamaraty é um desastre, armar gráficos pseudocientíficos provando que o Bolsa Família inibe a geração de empregos. Estará garantido o espaço, ainda que, como acadêmico, o seu histórico na disciplina seja bastante modesto.

Mesmo pessoas bem informadas pensaram, durante os anos 90, que o elogio ao neoliberalismo, à contenção do gasto público e à sanha privatizadora era uma unanimidade entre os economistas. Na economia, ao contrário das outras disciplinas, a mídia possuía um leque mais amplo de especialistas para avalizar sua ideologia. A força da voz dos especialistas foi considerável e criou um efeito de manada. Eles falavam em nome da racionalidade, da verdade científica, da inexorável matemática. A verdade, evidentemente, é que essa unanimidade jamais existiu. De Maria da Conceição Tavares a Joseph Stiglitz, uma série de economistas com obra reconhecida no mundo apontou o beco sem saída das políticas de liquidação do patrimônio público. Chris Harman, economista britânico de formação marxista, previu o atual colapso do mercado financeiro na época em que os especialistas da mídia repetiam a mesma fórmula neoliberal e pontificavam sobre a “morte de Marx”. Foi ridicularizado como dinossauro e até hoje não ouviu qualquer pedido de desculpas dos papagaios da cantilena do FMI.

Há uma razão pela qual não uso aspas na palavra especialistas ou nos títulos dos acadêmicos amestrados da mídia. Villa é historiador mesmo, Maggie é antropóloga de verdade, o título de filósofo de Roberto Romano foi conquistado com méritos. Não acho válido usar com eles a desqualificação que eles usam com os demais. No entanto, o fato indiscutível é que eles não são, nem de longe, os cumes das suas respectivas disciplinas no Brasil. Sua visibilidade foi conquistada a partir da própria mídia. Não é um reflexo de reconhecimento conquistado antes na universidade, a partir do qual os meios de comunicação os teriam buscado para opinar como autoridades. É um uso desonesto, feito pela mídia, da autoridade do diploma, convocado para validar uma opinião definida a priori. É lamentável que um acadêmico, cujo primeiro compromisso deveria ser com a busca da verdade, se preste a esse jogo. O prêmio é a visibilidade que a mídia pode emprestar – cada vez menor, diga-se de passagem. O preço é altíssimo: a perda da credibilidade.

O Brasil possui filósofos reconhecidos mundialmente, mas Roberto Romano não é um deles. Visite, em qualquer país, um colóquio sobre a obra de Espinosa, pensador singular do século XVII. É impensável que alguém ali não conheça Marilena Chauí, saudada nos quatro cantos do planeta pelo seu A Nervura do Real, obra de 941 páginas, acompanhada de outras 240 páginas de notas, que revoluciona a compreensão de Espinosa como filósofo da potência e da liberdade. Uma vez, num congresso, apresentei a um filósofo holandês uma seleção das coisas ditas sobre Marilena na mídia brasileira, especialmente na revista Veja. Tive que mostrar arquivos pdf para que o colega não me acusasse de mentiroso. Ele não conseguia entender como uma especialista desse quilate, admirada em todo o mundo, pudesse ser chamada de “vagabunda” pela revista semanal de maior circulação no seu próprio país.

Enquanto isso, Roberto Romano é apresentado como “o filósofo” pelo jornal O Globo, ao qual dá entrevistas em que acusa o blog da Petrobras de “terrorismo de Estado”. Terrorismo de Estado! Um blog! Está lá: O Globo, 10 de junho de 2009. Na época, matutei cá com meus botões: o que pensará uma vítima de terrorismo de Estado real – por exemplo, uma família palestina expulsa de seu lar, com o filho espancado por soldados israelenses – se lhe disséssemos que um filósofo qualifica como “terrorismo de Estado” a inauguração de um blog em que uma empresa pública reproduz as entrevistas com ela feitas pela mídia? É a esse triste papel que se prestam os acadêmicos amestrados, em troca de algumas migalhas de visibilidade.

A lambança mais patética aconteceu recentemente. Em artigo na Folha de São Paulo, Marco Antonio Villa qualificava a política externa do Itamaraty de “trapalhadas” e chamava Celso Amorim de “líder estudantil” e “cavalo de troia de bufões latino-americanos”. Poucos dias depois, a respeitadíssima revista Foreign Policy – que não tem nada de esquerdista – apresentava o que era, segundo ela, a chave do sucesso da política externa do governo Lula: Celso Amorim, o “melhor chanceler do mundo”, nas palavras da própria revista. Nenhum contraponto a Villa jamais foi publicado pela Folha.

Poucos países possuem um acervo acadêmico tão qualificado sobre relações raciais como o Brasil. Na mídia, os “especialistas” sobre isso – agora sim, com aspas – são Yvonne Maggie, antropóloga que depois de um único livro decidiu fazer uma carreira baseada exclusivamente no combate às cotas, e Demétrio Magnoli, o inacreditável geógrafo que, a partir da inexistência biológica das raças, conclui que o racismo deve ser algum tipo de miragem que só existe na cabeça dos negros e dos petistas.

Por isso, caro leitor, ao ver algum veículo de mídia apresentar um especialista, não deixe de fazer as perguntas indispensáveis: quem é ele? Qual é o seu cacife na disciplina? Por que está ali? Quais serão os outros pontos de vista existentes na mesma disciplina? Quantas vezes esses pontos de vista foram contemplados pelo mesmo veículo? No caso da mídia brasileira, as respostas a essas perguntas são verdadeiras vergonhas nacionais.

Essa matéria é parte integrante da edição impressa da Fórum de novembro. Nas bancas.

Idelber Avelar

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Pitacos Esportivos


O agora defenestrado Wanderley Luxemburgo, certa vez para se referir ao zagueiro sem firulas, criou o termo, "Zagueiro-Zagueiro", pois desde ontem há um outro, incorporado ao futebol, "Negro-Negro".
Ouvindo de passagem sei lá que comentarista, ouvi dele, que Andrade, campeão pelo Flamengo, é o primeiro técnico negro campeão brasileiro, por ser, negro puro, com pais, pai e mãe, negros.
Logo eu que achava, que era exatamente Luxemburgo, o dono dessa honra, nem isso Luxa, tiraram de você.
Logo ele, Luxemburgo, um reserva mediano, de Junior, lateral esquerdo do ótimo Flamengo, do final do 70, até meios dos 80, cujo apelido era "Capacete", por usar black power, o mesmo corte usado por Luxemburgo, que quando entrava, devia ser localizado pela visão periférica de Andrade, o agora primeiro técnico negro, blá, blá, blá, justamente pelo seu "black".
Pureza raciais de lado, se é que elas existem, o Flamengo, São Paulo e Internacional, mostraram, ao lado de Cruzeiro, Avaí, Atlético Mineiro, mais comprometimento com a competição do que os outros clubes, um salve aqui também para o Fluminense, que derrubou, "estatísticos", "comentaristas" e "matemáticos", os "especialistas" de sempre.
Há até um discussão, de perdedores, que campeonato de pontos corridos, não empolga. Mas é mais justo.
Vale lembrar, que muita gente graúda, e empresa que tem os direitos do campeonato, pensa do mesmo jeito, quer audiência para o evento e pensa em forçar os clubes, para os Mata-mata. A mesma empresa, que tenta nos empurrar, que o Flamengo é time de todo mundo. Mas, é também a mesma empresa, onde um de seus diretors tenta explicar, suas teorias sobre o "não racismo" brasileiro. Com a palavra, Jorge Andrade da Silva, o Andrade, o primeiro técnico, em 38 anos de brasileiro, "negro-negro".

Samba Rubro negro, com a letra original


Samba Rubro negro com adaptações na escalação com alguns nomes do time dos 80

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Casa comida e carinho


De inxerido que sou, bati os olhos num comentário do Twitter do Sidnei, o moço do Monólogo aí à direita. Ele reclamava da programação de filmes do canal TCM, que assim como o Telecine Cult, resolveu achar que os anos 80, é que são, o Ò do Borogodó em termos de filmes clássicos.
Por conta do aniversário da dona do Jardim ai à direita também, mandei para ela uma cena do filme, Casa, comida e Carinho (Summer Stock), um filme de 1950, com Judy Garland e Gene Kelly, para dançar com ela virtualmente. Acabamos falando sobre o filme e nos lembrando que muitos desses filmes eram vistos na, imprescindível, Sessão da Tarde, ou eram exibidos como o último programa, antes das emissoras encerrarem a programação, já que elas não ficavam 24 horas no ar.
Hoje em dia até a programação dos filmes, parece, perdeu a graça. Os programadores, combinam até na mediocridade. Mesmo as tvs pagas, cansam com a repetição, e a limitação de temas, como as comédias românticas, os filmes para adolescentes, não salva quem, só para não fazer nada, espera assistir um filme interessante na telinha.
Quando foi chamado para fazer, Casa, comida e carinho, Gene Kely só aceitou por conta de Judy Garland, para ajudá-la. Era o último filme dela pela MGM, ela foi demitida antes dos início das filmagens. enfrentava problemas com as drogas, e aparecia cansada durante os ensaios.
Só sabe disse, cinéfilo mais curioso, porque vendo o filme, ele é um dos mais deliciosos musicais de se ver, e não transparece nenhum desses dramas, ao contrário. Os números de dança, corretos e clássicos, estão entre as melhores coreografias do cinema musical. A direção foi de Charles Walters e a maioria das composições ficaram a cargo de Saul Chaplin, Harry Warren e o letrista Mack Gordon, com a Orquetra da MGM dando apoio. Recentemente a trilha sonora foi remasterizada e foi relançada,....lá fora.
Gene Kelly é Joe Ross,um diretor da Broadway sem dinheiro e sem teatro para ensaiar. Acaba aceitando o convite da noiva, interpretada por Gloria Dehaven, que oferece o celeiro da fazenda do pai como local para ensaios.O confronto da vida dos habitantes do lugar e os artistas, é que vai dar parte da graça na história. Judy Garland é a irmã da noiva de Gene Kelly, paro por aqui.
Gene Kelly e Judy Garland, repetem o sucesso de "O Pirata", e "Idílio em Dó, ré, mi". Pena, que não haja mais programadores corajosos por aí.




Forget the troubles, come on GET HAPPY.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Dia Nacional do Samba



Samba é meu dom

Wilson das Neves/ Paulo Cesar Pinheiro

Aprendi bater samba ao compasso do meu coração
De quadra, de enredo, de roda, na palma da mão
De breque, de partido alto e o samba canção

O samba é meu dom
Aprendi dançar samba vendo samba de pé no chão
No Império Serrano a escola da minha paixão
No terreiro, na rua, no bar, gafieira e salão

O samba é meu dom
Aprendi cantar samba com quem dele fez profissão
Mário Reis, Vassourinha, Ataulfo, Ismael, Jamelão
Com Roberto Silva, Sinhô, Gonga, Ciro e João Gilberto

O samba é meu dom
Aprendi muito samba com quem sempre fez samba bom
Silas, Zinco, Aniceto, Anescar, Cachinê, Jaguarão
Zé com Fome, Herivelto, Marçal, Mirabeau, Henricão

O samba é meu dom
E no samba que eu vivo do samba que eu ganho meu pão
E é no samba que eu quero morrer de baquetas na mão
Pois quem é do samba meu nome não esquece mais não


terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Jenna Jameson

Quando ela apareceu na indústria pornô, arrebatou no primeiro ano, os prêmios de revelação e melhor atriz. A moça impressionava.
Os anos seguintes fariam dela, referência para as atrizes que iam aparecendo, é assim até hoje. Numa busca por referências sobre a indústria, ela só perde para o longevo, Ron Jeremy. Quando percebeu, que era ela, e não os marmanjos, que a rodeavam, que fazia o dinheiro brotar de seus filmes, tomou as rédeas da carreira. Virou produtora, diretora, empresária de sucesso, mulher de negócios.
Virou celebridade em Hollywood, circula por todos os cantos. Quando quis engravidar, e foram dez anos de tentativas, retirou as protéses dos seios, de silicone, para não sofrer abortos espontâneos. Fez campanha para a Peta(People for the Ethical Treatment os Animals). Escreveu um livro, Como fazer amor como uma porno star. Se espantou com o número de mulheres na fila dos autógrafos, e finalmente, teve os desejados filhos, gêmeos.
Cansou e foi embora, curtir, família, e os milhões de dólares acumulados.
Deu entrevista para Oprah Winfrey, semana passada, que passou no Brasil hoje. A marmanjada, adorou, e agradece. Boa Sorte.