sábado, 1 de dezembro de 2012

Mexendo nos Vinis - Roberto Carlos





para

José Almeida Amaral JR.
Marcello Nunes
Maria da Paixão
Mário Luiz Brancia
Pedro Novaes da Silva (in memorium)
Rosa Maria de Carvalho Silva
e para um ano "que não foi bolinho"


como nos dizeres bíblicos; NAQUELES TEMPOS, eu peguei uma suspensão de três dias por ter realizado embaixadinhas com uma bolinha de papel e concluir com um sem pulo fazendo a bolinha roçar a barriga grávida da professora Rosana, que acreditava que eu tinha veia artística.

em casa, pelas ruas do bairro e arredores não me lembro de grandes dramas por aquela situação. em casa dava para ouvir no rádio o "Programa da tarde" do Ferreira Martins até o fim e o Roberto Carlos estava com disco novo. a crítica já tinha percebido desde o disco de 72 qual o caminho que o REI seguiria. e andava reticente com o trabalho dele. Ferreira Martins quase sempre terminava seu programa com uma música de Roberto, mas naquela tarde já avisava; "Tem disco novo do Roberto".

a primeira faixa do disco é uma regravação de "Quero que vá tudo para o inferno" com orquestra e um acento mais funkeado da Filadélfia, lembrando que parte do disco foi gravado nos EUA. as rádios escolheram "Além do horizonte" para seduzir os ouvintes. esperava-se pelo especial da tv, havia uma esperança que Tom Jobim aparecesse com Roberto. a Rádio Jovem Pan mandava para o ar uma gravação exclusiva de "Lígia" com Roberto e Tom Jobim, só piano e voz. não vingou.

Roberto apresentou dois temas em espanhol, "Inovidable" e "El humahuaqueño (Carnavalito) e mesmo aqui se percebe o caminho que Roberto pretende seguir. enquanto outros cantores da mpb estão se aproximando de autores latinos pela afeição política e engajamento, Roberto prefere os autores românticos, temas abolerados.

o disco apareceu em casa. tocou na vitrolinha à exaustão. como parte da crítica vi que Roberto estava se cercando de autores que o levava para outro caminho:  Carlos Colla, Isolda e até Benito di Paula. a parceria com Erasmo Carlos parecia mal resolvida. mas havia surpresas por garimpar. Roberto gravara um tema de Beto Ruschell e Cesar das Mercês  que trabalhavam com o grupo Terço.

eu ficaria por ali estudando a letra de "Desenhos na parede" se eu não tivesse ouvido a versão dele para "Mucuripe" de Belchior e Fagner, e não percebesse a leveza de versos como "Aquela estrela é dela/ vida vento vela, leva-me daqui" ou não tivesse deitado os ouvidos atentamente para o arranjo de OLHA que apareceria no especial dele arranjada por um instrumentista que mais tarde alguém lá em casa diria; "Esse negão é bom !", o instrumentista era Paulo Moura. e a letra de OLHA virou tema de uma trilha sonora particular de um roteiro que inventei para esquecer e lembrar de alguém para sempre no meu coração.

mexendo nos vinis, a capa do disco está esfacelada, mas o vinil ainda está intacto. "me traz meu passado e as lembranças, coisas que eu quis ser e não fui"



terça-feira, 6 de novembro de 2012

Um compacto simples



ele confundia o bread com o américa. sabia que ela gostava dos dois. para firmar a amizade com o irmão dela apareceu numa tarde na casa dela para umas partidas de futebol de botão.ele a conhecia da banca de jornal do pai dele e foi ela quem abriu a porta para ele com sorrisos, abraços enquanto ele apertava contra o peito os times que tinha escolhido para aquela tarde. ela tinha atividades vespertinas, o clube, as amigas, aulas particulares de inglês. ficando na banca de jornal do pai ele ganhava algum  para cinema e guloseimas. ela tinha nome de princesa da família real luso-brasileira.o nome dele era o mesmo do pai e promessa de avó e mãe. ele queria ser engenheiro agrônomo ela queria ser arquiteta. os pais dela davam dinheiro para ele a levar ao cinema já que nem o irmão e a irmã se prontificavam para a tarefa. ela o apresentava assim para as amigas; ele é filho do "Seo Pedro" o pai dele tem banca de jornal. ele lembra que no dia de um dos aniversários dele, trabalhando na editora abril, disseram que tinha telefone para ele. ele sentia o cheiro de londrina pela voz dela, lembrou dos avós, tios e primos. ela tinha uma caixinha de compactos.ele ajuntou o troco do dinheiro dado pelo pai para  cinema e guloseimas. uma tarde em que as partidas de botão se arrastavam e ela voltou das aulas de inglês ao entrar no quarto todo feminino dela ela percebeu que a coleção de compactos tinha aumentado e chorou olhando o céu com nuvens vermelhas de londrina.



quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Jornal da Tarde Fim




31/10/2012 última edição nas bancas do Jornal da Tarde. Assim como o JB no Rio de Janeiro o JT para os íntimos inovou na forma gráfica, diagramação, textos, fotos e capas inesquecíveis motivo de interesse para o jornalismo de muitos pivetes e interessados. o mundo mais sem graça e OBRIGADO.

sábado, 27 de outubro de 2012

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Maria Alcina





a mulher de voz grave parece tímida diante dos poucos que esperaram a volta dela depois do show. é doce é delicada. nem parece o furação que acabou de passar, cheia de ritmo, ginga e malícia. ela respeitou a pequena plateia como aquela grande plateia de 40 anos, de setembro de 1972 no maracanãzinho quando lá também eletrizou defendendo no festival internacional da canção, fio maravilha do então jorge ben. pena que o brasil se afaste dos seus artistas, daqueles que lutam para sobreviver longe dos holofotes. a mulher delicada que foi colocada numa prateleira de caricata,  pediu que se quisessem um cd estava à venda ao final do show. alguns foram embora na metade dele. perderam. como faz há 40 anos, ela foi um show. apresentou parte do repertório de luiz gonzaga e desfilou sua arte respeitosamente. e para ela nossos respeitos.

História para contar para os netos

se em setembro maria alcina completa 40 anos de carreira. um pequeno livro de um pivete neguinho completa 27. no lançamento numa livraria da avenida paulista. amigoa e amigos e  dona benê cantando, caetano, alberta hunter, billie holiday. o gerente era amigo de maria alcina. de repente num canto ela está observando.o amigo pergunta se ela pode dar uma "canja". podia. outro show. contei para ela esta história no sábado. e ela, "mais uma noite para lembrar, então !"



terça-feira, 21 de agosto de 2012

Pode ser que num dia ensolarado



pode ser que num dia ensolarado. você já perdeu as contas.não é a primeira vez que a beleza faz isso com você. e vai  aprontar outras tantas com teu coração, este nó na garganta. seu amigo te cutuca; ela não é bonita? você desperta do sonho. as classes ainda se enfileiravam para o hino nacional. você se perdeu nos versos da letra de osório duque estrada. seu amigo fala da menina à direita, a alice.você ainda não sabe mas vai marcar um gol, fazer poesia e colocar na parede do colégio, dançar num dia ensolarado e numa noite de estrelas  com aquela outra que te chama a atenção. aquela sempre ladeada pela alice.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Felicidade



sob o sol de veranico. ELA de algum ponto da cidade me liga só para saber qual o nome da música que dediquei para ELA aqui neste  blog. e depois canta uns versos comigo. felicidade?



domingo, 12 de agosto de 2012

Nós que aqui ficamos

     
Há dias de saudades mais intensas. O rádio presenteado também emudeceu. Emudeceu também o arrastar do andar. Do café passado para ser tomado com pão com mortadela não sentimos mais seu aroma. O creme de barbear perdeu sua função. Alguns documentos ainda são necessários, os exames médicos são desnecessários, a jaqueta vazia de um corpo está no cabide.  Há silêncios sobre futebol, política, economia  ou perguntas sobre os conhecidos que depois de um tempo viraram, meninos, meninas. A ausência sentida da presença na poltrona da sala durante as tardes, nas refeições, orações, despedidas. A vida flui, outra vida foi num sopro que se esvaiu para algum lugar longe de nós.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Própria (Pa)Lavra

o tempo afora

minha vida afora

as estações de minha vida

as camadas até sua pele

lãs malhas perfumes

três misturas

inebriando

minha memória até agora

sempre.


terça-feira, 17 de julho de 2012

Ed Lincoln & Jon Lord - Triste Coincidência


dois organistas de estilos diferentes que deram aos pivetes interessados subsídios para o aprendizado musical.

Ed Lincoln (1932-2012)




Jon Lord(1941 - 2012), co-fundador Deep Purple



sexta-feira, 22 de junho de 2012

A minha Bem



A minha Bem são músicas aprendidas, cantadas.
A minha Bem são palavras aprendidas, tomadas com outro sabor pelos textos meus.
A minha Bem é colorida embora prefira os tons cinzas e escuros.
A minha Bem tem um sorriso bonito reservado para o quase nunca, o talvez.
A  minha Bem guarda os espinhos que lhe feriu, não se separa deles para sair e ver o sol.
A minha Bem, não gosta de fotos, não quer saudades antecipadas, frisadas no tempo.
A minha Bem quer o mundo, seu conhecimento, suas causas, casos.
A minha Bem por vir de onde veio, é inquieta, sozinha incompreendida.
A minha Bem quer asas nos pés.
A minha Bem quase não diz mas agrega tantos outros nela.
A minha Bem ajudou a me trazer aqui.
Para a minha Bem
a Benção
o Beijo



a minha Bem, Benta Benê cantava essa pela casa e musical, ouviu e gostou certa vez da introdução de l'm gonna crawl do led zeppelin

segunda-feira, 18 de junho de 2012

O Tolo e a grama do Maracanã








os dois me perguntaram quase ao mesmo tempo, lá nos corredores do glorioso e.e.s.g. casimiro de abreu, a.k.a. CECA, do paulistano bairro de vila guilherme,  que música dos beatles eu mais gostava. para os dois eu tive a mesma resposta e recebi deles opiniões diferentes.
 ela em carta escrita em folha de caderno universitário me respondeu, quando pode, sobre silly love songs, já enfatizando que ela sabia que não era dos beatles mas da fase wings do Paul McCartney  e que gostava. argumentava com a + b porque achava que a música podia muito bem caber no repertório da banda.
 ele não só me disse que adorava beatles, que gostava de something, música que pediria a tradução para nossa professora de inglês, como tinha as coletâneas duplas a vermelha e a azul e assim que pareceu que nossa amizade iria vingar me convidou para tardes de audição na casa dele, onde inadvertidamente, para mim mais tarde, declinei dobre minha preferência sobre fool on the hill. inadvertida porque ele andando comigo por são paulo e vendo meus deslizes, desmandos lançaria a pérola; pedrão, você é mesmo o tolo da colina.




nossa memória é vertiginosa. lendo no estadao sobre o aniversário de 70 anos Paul McCartney nesta segunda me lembrei destes e de outros momentos em que o Velho Macca, em encontros com aqueles ao meu redor, pontuou como trilha.
me lembrei de como eu achava, menino lá em londrina, que os beatles compunham suas músicas para celebrar a beleza da irmã de um amigo meu.
me lembrei de como eu me mudei para liverpool ao saber que era a cidade dos beatles, tinha um time de futebol e jogava de vermelho como então jogava o lec(londrina esporte clube)
me lembrei de como não soube para onde correr quando eles se separararm. não sabia se continuava discreto como Ringo, místico como George, revolucionário como John, ou faria canções "tolas", como disse Lennon sobre o parceiro certa vez.
muitas vezes preferi ser tolo.
my love me pegou,
tomorrow deixei de lado quando ouvi na voz de David Cassidy.
dancei num bailinho o iníco de band of the run.
o disco triplo wings over américa me redimiu e desbancou frampton comes alive das paradas.
durante anos achei que o disco era daquele novo amigo. descobrindo depois que era de outra amiga que receberia seu pasquim o rua de lazer só depois que eu entendesse a letra de tug of war
me lembrei que os rapazes do ficlke piclke não cantavam beatles. e que o baixista já em londres e à alguns passos de Paul se recusou a ir ao show perto de sua casa e nem sequer viu a ânsia da multidão no dia do live aid.
multidão que não deve ter pertubado aquele meu novo amigo, de amizade já confirmada, que no maracanã, com direito a notificação no guiness e  então com a namorada, recolheria mudas da grama do estádio e as traria para plantar no quintal de sua casa, onde mostrava orgulhoso para os visitantes como ela crescia sob os patas do rex e woodstock, ou já era o pitoco ?
e pensando nos pés que pisaram nos "antepassados" daquele tufo de grama e  sob uma tarde de sol paulistano, onde este tolo da colina imaginou que Paul tinha aceitado o duo com Stevie Wonder em  ebony and ivory para celebrar nossa amizade.

memória vertiginosa e célere correndo por túneis e mais túneis e entrando em quartos claros e escuros.



sexta-feira, 15 de junho de 2012

Teófilo Stevenson (1952-2012)




 


aprendi a gostar de boxe por conta de duas pessoas. meu pai e miles davis. vi miles posando com luvas de boxe numa revista e com meu pai assisti pela tv lutas importantes observando-o no outro canto da sala antecipando os golpes dos boxeadores. ele gostava dos lutadores elegantes, embora às vezes umas pancadas viessem a calhar. os golpes deviam ser precisos, com boa técnica. nada da porrada prá todo lado, tipo briga de rua, que mais tarde mike tyson instituiu. sugar ray leonard, eder jofre, muhammad ali, servílio de oliveira e george foreman estavam nas nossas listas de caras que queríamos ver lutando.







teófilo stevenson entrou na lista por várias razões. alto, bom jogo de pernas e lutava bonito.era campeão olímpico dos pesos pesados.  muitas lutas, poucas derrotas, muitos nocautes. o cara era amigo do fidel castro. enquanto muitos se vendem por pouco ele recusou  milhões de dólares para enfrentar muhammad ali e continuou na ilha de cuba. um cara a ser observado, mais, admirado.. embora eu torcesse para que a luta entre stevenson e ali tivesse ocorrido, só para contra meu gosto, ele dar alguns sopapos na cara bonita de ali, para mostrar que a política de fidel para esporte e educação estava certa.
adolescente inventei para me afastar de momentos da minha solidão e timidez, encontros hipotéticos, stevenson foi personagem de um deles. nós passaríamos uma tarde entre rum e charutos sob o sol da ilha conversando sobre boxe, a música e a mulher cubana, dança, cabrera infante e claro, el comandante.
é aqui aqui fico com dois bordões de meu pai; Este negão é bom e 2012 não está bolinho.






quinta-feira, 14 de junho de 2012

Diane na banheira



"A chama que não se apaga"(Shoot the Moon) é o título do filme "em brasileiro" citado aqui esta semana e dirigido por Alan Parker. e aí está Mrs Keaton na banheira.....



segunda-feira, 11 de junho de 2012

Da Semana: Amor não é fácil de achar





eu não me lembro de quase nada do filme. não me lembro do nome e até hoje não pesquisei para saber. sei que era um drama familiar, que Ela o escolheu por conta dos atores, que já o havia assistido, que o escolheu pelos atores Albert Finney e Diane Keaton, que tinha uma música do grupo Eagles na trilha, l can't tell you why, que lá pelo meio do filme, para descansar um pouco dos seus problemas, a personagem de Keaton resolve tomar um banho de banheira, desfrutar na água pelo corpo, acender um baseado. foi quando Ela se aproximou mais de mim e fazendo duo com Keaton na tela cantou if l fell dos beatles. isso a memória afetiva, auditiva guardou. memória que guardou também que ela recebeu fitinha cassete bem selecionada e gravada num 3 em 1 "de responsa", flores e um pasquim escrito a mão onde se podia ler: "São Paulo é como o mundo todo/ Num mundo um grande amor perdi.". e a memória auditiva acha que o anjinho que trouxe Evan Rachel Wood ao mundo foi o mesmo que estava no escuro do cinema naquela tarde, assoprando a música para Ela..







sexta-feira, 1 de junho de 2012

Nelson Jacobina



a sala tinha dois quadros negros. o que era usado pelos professores e outro que ficava à direita dos alunos. um tempo eu precisei desafogar um Kaos dentro do meu coração. aproveitei o intervalo e escrevi no quadro de pouco uso, o que ficava à direita dos alunos. ao entrar na classe a professora quis saber quem era o "autor" da façanha. alguém disse que só podia ser coisa minha. em minha defesa falei os autores da música e cantei o trecho escrito no quadro que permaneceu por uns dias intacto no quadro negro.



"Todo quadro negro é todo negro todo negro
e eu escrevo seu nome nele
só para demonstrar o meu apego "








mais tarde em rodas de violão e porque caetano veloso tinha gravado a música e a deixado mais popular  cantei com alguns, "Vampiro". e não foi sem intenção que uma dELAS ter recebido bilhete com 


"Belezas são coisas acesas por dentro "







todas elas parceria de Jorge Mautner com Nelson Jacobina (1953-2012)

quarta-feira, 30 de maio de 2012





dormi bem. segunda vez nos últimos tempos pesados. a outra foi sob efeito de anestesia geral de um procedimento médico. fui para um lugar quem não sei o que era. a  palavra fé me apareceu nos últimos dias de várias maneiras, na oração particular de maria da paixão, na fala de uma atriz, num seriado, num programa de tv, na fala de um pastor e no comentário de um cientista. ontem no limite do sono, ouvi meu pai me chamando. sorriu para mim. dormi bem.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Bee Gees



Um garoto curioso do interior do Brasil tinha que ter o rádio como aliado. além do rádio, revistas, jornais, cinema, parentes próximos, pais, irmãos, primos. Mas o rádio com suas ondas era fundamental. Era ficar atento mesmo quando a mãe nos afazeres sintonizava aquela emissora de São Paulo a Bandeirantes e com aquele locutor da "voz grossa", o Hélio Ribeiro ao traduzir as últimas da parada, com aquela entrada que ele dava para algumas músicas; "Sabe...sabe quem ? Barry, Maurice e Robin Gibb, Bees Gees !" . Os outros garotos já estavam em outra sintonia mas tinha quem curioso, diversificava e abria o leque dos sons que apareciam.


 


 e este era um dos compactos na caixinha de compactos dela.

 e um amigo supra citado por aqui. tinha um caderno de cifras e violão e cantava em algumas tardes preguiçosas e prazerosas em torno do instrumento de seis cordas o falsete de robin gibb.

 

realmente 2012 não está bolinho. O Século XX se desfazendo diante dos nosso olhos.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Sei que Jesus não castiga um poeta que erra



o sol do fim de tarde deixa as nuvens do céu vermelhas. deve ser também reflexo no céu da terra vermelha, terra que dá o apelido pejorativo que os do sul dão aos do norte e os do interior do estado; os pés vermelhos, que no sotaque de alguns, vira "pé vermeio".
às seis o arcebispo da cidade reza a ave maria na rádio alvorada. só em algumas ocasiões ela não o ouvia. quando estava em visita em casa de amigas, parentes,fora da cidade ou se ela ao se aproximar do rádio estivesse tocando cascatinha e inhana. aí ela cantava como se fosse uma oração, como se falasse com Deus.




sexta-feira, 11 de maio de 2012

Mexendo nos Vinis - Big Joe Turner






No momento daquela tarde de sexta em que devia estar desembarcando em Curitiba eu estava entrando no sebo no bairro de Pinheiros onde trabalhava o Vinícius.
Sempre simpático me recebeu com sorrisos,  abraços e discos que segundo ela eram imprescindíveis que eu os levasse para casa ou os ouvisse ali com ele. Então serviu cerveja no lugar do costumeiro vinho e cada disco era acompanhado de uma história. Ajuntou clientes como sempre Um deles  ele avisou que era especial e que eu não devia deixar de levar.Só consegui sair de lá ao fechar. Carregado de discos que não me lembro até hoje quais eram e menos aquele que ele indicara como especial e ainda fui avisado por ele; Pedrão você vai voltar para buscá-lo, Tonto e de carona com uma cliente que mais tarde pararia na minha frente em plena Avenida Paulista e me perguntaria; Se lembra de mim?. Em Curitiba minha imagem corria ralo abaixo. Mas  prometi no dia seguinte que na segunda estaria por lá. 
Hélio Ziskind e Geraldo Leite do paulistano Grupo O Rumo tinham um programa na Rádio Cultura FM aos domingos. Naquele domingo sob horário de verão e um dia longo fui ouvir o programa na casa do supra citado Zé Amaral, o nome do programa era Controle Remoto.
Lá pelas tantas Hélio e Geraldo selecionam uma música que se inicia sem locução alguma, eles só a explicariam ao final, uma música longa. Eu falei; nossa. O Zé  Amaral falou; nossa. Eu me arrepie. O Zé não sei.Decidi que no dia seguinte, segunda, eu voltaria ao sebo e perguntaria ao Vinicius se ele tinha ouvido falar daquele artista e que material ele tinha dele. E ele; Pedrão este disco que você está me falando é este aqui que você não quis levar e me mostrou de novo o disco: The trumpets Kings meet Joe Turner.
O disco é de 1974. Tem só quatro faixas, duas delas longuissimas; l know you love me baby e Tv mama. além delas as outras faixas são, Mornin', noon and night e Tain't nobody biznezz if i do. Turner está acompanhado de músicos que estavam naquele período trabalhando com ele, o guitarrista Pee Wee Crayto,  Jimmy Robins pianista, Chuck Norris baixista e Washington Rucker na bateria.
Em volta deles e de Turner os trompetistas com direito a solos preciosos Dizzy Gillepsie, Roy Eldridge, Harry "Sweets" Edison, e Clark Terry..
O disco tem aquela atmosfera de jam session com o blues na voz deTurner se confraternizando com o jazz nos acentos dos trompetistas.
Certo é que enquanto eu deveria estar cumprindo o prometido eu entrava em casa, tirava o disco do embrulho e colocava o disco para uma audição demorada.
Por um motivo grave e triste e trágico a razão para as idas para Curitiba não existe mais. O sebo em Pinheiros fechou, o Vinícius sumiu levando sua inteligência, cultura, graça e amor pela vida e respeito pelo outro. e  além de algum pó vieram também estas reminiscências quando resolvi ficar mexendo nos vinis.







terça-feira, 8 de maio de 2012

Inventário - Os livros de Carlos Dignez

O meu primeiro emprego  durava a madrugada toda. Os professores do glorioso E.E.S.G. Casimiro de Abreu a.k.a CECA do paulistano bairro de Vila Guilherme, me permitiam sair mais cedo. O Estado tinha abolido os uniformes e antes de pegar algum ônibus até o metrô no ponto da Maria Candida defronte ao bar onde uns anos depois eu, triste,  pediria uma cerveja de garrafa e veria Roberto Carlos e  Djavan dividirem o hit  A Ilha no especial do Rei, eu entregava meu guarda pó para o meu irmão caçula, o Ruy em outra classe. Eu tinha trocado o meu horário de estudo e só aparecia de manhã, depois de sair do trabalho por "exigência expressa" de duas pessoas.
Ele apareceu numa das madrugadas. Tinha desembarcado do Pará, Castanhal. Falava muito do pai, da mãe, da avó, dos amigos. Dos meus. Agitado, elétrico se auto proclamou mais tímido do que eu e só não ficava em silêncio por que senão o ambiente seria de um mutismo só. Pior, lia a alma e os gestos humanos como nenhum outro que eu tinha visto. Era parecido com o Lo Borges na capa do disco Via Lactea.
Um dia me viu escrevendo numa folha quis saber o que eu estava escrevendo, envergonhado disse que escrevia. E ele; também escrevo e passou a mostrar um produção enorme de textos. Eram textos que beiravam ao parnasianismo, barroco contra a minha economia de palavras e cenas. Enquanto minha escrita era de saudades de trens, terra, infãncia e de um vir a ser. A dele abria o peito para a abertura que o país vivia, ia a luta, brigava e amava e já estava longe no vir a ser. Nos familiariza com os poemas de Neruda, letras de  Gonzaguinha, Chico Buarque, Garcia Lorca.
Sedutor as mulheres começaram a aparecer em profusão nos textos. Sedutor foi despachado para longe de minha companhia nas madrugadas por inveja.
Fundou grupo de poesia, do qual só não participei por estar envolvido com outro. Editou jornais, produziu eventos culturais. Vivia intensamente a poesia que pregava.Quando publicou o primeiro livro me deu a honra de ver meu nome num livro e dividimos juntos um poema. Ele no estilo dele e eu ainda querendo ser letrista do Milton Nascimento. Sumiu nos vimos pouco desde então. Não sem antes de me deixar honrado por ter como epígrafe num dos livros um poema meu.Reapareceu em minha vida recentemente.
Daquele primeiro emprego carrego algumas lembranças e carinho fraternal por três pessoas. Nelson Brito, baixista do Golpe de Estado, Romão Robles Jr e ele Carlos Alberto que virou Dignez em homenagem a mãe.






o mais recente artigo dele no Jornal Cidade Aberta de Barretos.



sábado, 5 de maio de 2012

Roda de Sábado - Hoje na República

mccoy tyner

 


 ele com "joão contreras" e aí postando esta música me lembrei daquele senhor, o seo pedro, meu pai, que resolveu deixar -nos tristes e ouvir o joão em outro lugar.


 e + roy ayers

roy ayers é item que acompanha a formação musical de pivetes neguinhos



sexta-feira, 4 de maio de 2012

Inventário - surfista prateado

revista em quadrinho: surfista prateado
dentro de uma caixa entre outras revistas


só mais tarde ela contaria para ele. princesa colegial com dote prometido que para sair de casa ela dizia que estava indo até a casa de uma amiga ou até a casa da prima.
naquele sábado ele esperou por ela nos degraus da banca do gil na rua maria candida. viu um carro com uma noiva passando, um amigo, outro colega de outros tempos.
ela desceu do õnibus vila ede-carandiru da viação parada inglesa e veio pelo lado esquerdo. com uma blusa bordada no peito, calça jeans e aqueles perfumes misturados.
ela sentou do lado dele. olhou para dentro da loja e cumprimentou o gil. ela nunca tinha ouvido falar do surfista prateado. ele explicou para ele a saga. era dos primeiros gibis do surfista que ele via nas bancas brasileiras.
falou do amor de norrin radd por shalla ball e da vingança de galactus.
o gil deixou rádio ligado naquela emissora que a moçada começava a ouvir, a jovem pan fm, ele ainda gostava das emissoras am e ela o acompanhava neste gosto. . . e o sábado de casamentos na anunciação corria célere.
uma música chamou a atenção dela; você já ouviu essa?
ele lembrou-se destas coisas enquanto desempacotava a caixa de revistas em quadrinhos que ainda mantém em casa.e quando achou a revista do surfista prateado e a memória olfativa trouxe de novo, por que também é outono, a mistura de perfumes dela. e de quebra se lembrou da música no rádio da banca do gil.







terça-feira, 3 de abril de 2012

Os posteres do quarto dela












no quarto todo feminino dela três posteres, uns anos antes. leonard whiting, o romeu do filme de franco zefirelli, jim morrison e roberto carlos, na parede da cabeceira da cama.
quando o médico tirou os últimos curativos do meu olho, também pensei nela. e talvez naquele momento ela estivesse trancada lá naquele quarto, na plena tarde londrinense, estudando, ouvindo música, recebendo amigas. naquele quarto de onde podia se ver parte do horizontes da cidade. onde ela cunhou uma frase que usaria mais tarde.

não fique só olhando os horizontes. caminhe até eles.

o filme the song remains the same demorou um tempo para passar nos cinemas do interior do brasil. uns anos depois a irmã não queria levá-la por estar pensando mais no namorado e o irmão não querer andar muito com ela. entro na história, por estar de passagem pela cidade. a mãe dela confia a filha e um bocado de grana que daria para convidar londrina inteira. tremi com a responsabilidade. não era só o nome de princesa da família real luso-brasileira que me incomodava, tinha aquela brancura. tinha aquele olhar sobre mim que eu achava que era por um motivo errado. o sorriso aberto e os ímpetos. nos esbaldamos de chocolate confeti e pipoca. durante o filme, ela opinou, perguntou, fez, "ais", falou "nossa". e ao final percebi, um daqueles lá da parede iria perder seu lugar.






quinta-feira, 29 de março de 2012

Joe Cocker na noite de Vila Guilherme





O vento que vindo do lado sul da cidade que vai para o lado norte e que pegue o corredor, Centro, Pari, Canindé, ao atravessar o Rio Tietê passará pela Vila Guilherme e alcançará a parte alta do bairro, aquele paredão onde o bairro se divisa com a Vila Paiva.
Em dias de bons ventos, a manifestação da plateia em alguns eventos no Estádio Osvaldo Teixeira Duarte, o campo da Portuguesa, a Lusa, e no Ginásio que fica ao lado do Estádio, atravessa o rio e entra alguns quilômetros adentro da parte baixa da Vila Guilherme, onde um morador bem observador e de ouvido atento percebe os "OOhhss!", "AAhss!!'" e "Uuuuuus!" vindo lá do estádio.
O show em São Paulo da primeira passagem de Joe Cocker pelo Brasil, foi no Canindé. Cocker já se chafurdava no álcool e nas drogas, veio sem a banda Mad Dogs & Englishmen, que o tinha acompanhado por um tempo e estava entrando na curva descendente na carreira. Carreira que só voltaria a ganhar fôlego nos anos 80, quando duas músicas interpretadas por ele entraram em trilhas de filmes. A primeira foi um dueto com Jennifer Warnes na música "Up where we belong' do filme "Forças do destino" e a aquela que serve de mote para strip-tease até hoje, "You can leave your hat on", do filme "Nove e meia semanas de amor" que costuma deixar algumas mulheres desinibidas aos primeiros acordes.
Mas naquela noite no Ginásio da Portuguesa, os ventos vindo do lado sul sopraram como nunca, Tanto que um pivete neguinho instalado num apartamento de um residencial na parte baixa do bairro, ouviu certas passagens como se ouvisse uma emissora num rádio de ondas curtas, com o som indo e vindo.
Mas deu para identificar certas passagens do show, guardar e lembrar de um desejo daquela noite. Que ao cantar "You are so beautiful", que o pivete tinha ouvido numa outra gravação do seu autor, o cantor Billy Preston e Cocker tinha gravado no àlbum "l can stand a little rain", que naquele momento o vento soprasse mais forte na direção da parte alta do bairro, para bater no paredão, bem naquela parte em as duas vilas, Guilherme e Paiva se divisam e onde numa certa casa, morava uma menina que tinha chamado a atenção do pivete.


quinta-feira, 22 de março de 2012

Jorge Ben George Benson

alguns cientistas dizem que carregamos uma memória da humanidade. certas manifestações logo denunciam nossas fraquezas e belezas. transportando essa ideia para a periferia brasileira, não tem neguinho brasileiro que do meio dos 60 para cá não tenha trombado, assoviado, comprado um lp de jorge ben. brinco que ele faz parte do aprendizado de ser um pouco mais brasileiro. hoje ele faz 70 anos.






e ele virou benjor por conta, dizem do benson deste george, que também aniversaria hoje.



segunda-feira, 19 de março de 2012

Um compacto



ele virou meu melhor amigo naquele colégio lá de londrina. quase inseparáveis. e amizade sem uma partida de botão não tem graça. lá fui eu. escolhi os times do santos e do são paulo, que tinham botões de tampas de relógio, um requisito de craques. a casa do cara era grande na parte bacana da cidade. demoraram para abrir a porta. e quando a porta se abriu eu reconheci a menina que veio abrí-la. ela passava sempre na banca de jornal do meu pai.

_Olha quem está aqui, o menino filho do Seo Pedro!!!

ela disse isso abrindo sorriso muito branco e braços. apertei os times contra o meu peito. ela me abraçou forte, carinhosa, como seria sempre. beijou meu rosto. nem eu nem ela sabíamos. aquela convulsão pairando cada vez que nos encontrássemos, se repetira outras vezes;

e no quarto todo feminino dela, uma caixinha guardava carinhosa os compactos que ela comprava com a mesada dada pelo pai. em algumas tardes de temperatura alta, reparei também nos compactos.....



domingo, 18 de março de 2012

e aí Marcellão ?







quando ele me manda e-mail, quando manda, coloca lá no assunto; e aí Pedrão?

e se tem fileirinha de meninas sagitarianas, há uma fileirinha fiel de piscianos na minha vida.

e como alguns outros piscianos, apreciador de pés femininos.

e aí Marcellão?



e já que ele virou portelense

sábado, 17 de março de 2012

Roda de Sábado - Um bilhete para o Zé




como diria o Seo Pedro, a vida não está bolinho....mas não se trata disso. 'bora lá comemorar a data cheia que chega. com a cabeça naquela frase dita por você recentemente...entramos na vida adulta....e da forma mais abrupta e triste. mas não esqueçamos nunca, dos jogos de botões, das audições prazerosas dos discos, das revistas lidas, dos textos divididos, sessões de cinema, caminhadas para chá na são joão, dos encontros, dos olhares que conseguimos roubar (n.r. eu ia escrever 50 pernas vistas. mas tem duas pessoas que irão ler este bilhete. e nós dois teríamos que passar o sábado e o domingo, até o começo do fantástico, dando os nomes, endereços das 50 pernas vistas. melhor não, melhor não). e eu achei este título do post, um bom nome para um chorinho, ou 50 abraços para o zé também é interessante.

50 felicitações, 50 abraços, vamos nessa, vamos lá!!!

abraços beijos nos dois guris.

beija a menina

se cuida

pedro geraldo a.k.a pedrão



e hoje também é aniversário da elis regina . e o que dizer de; las palabras que pienso y declaro, madre, amigo, hermano. ou do verso de como nossos pais, deste mesmo disco;para abraçar seu irmão e beijar sua menina na rua, é que se fez o seu braço, o seu lábio e a sua voz. letra do belchior de quem você pegou o verso; que outros cantores chamam baby, para um dos melhores textos que já li na vida.



sexta-feira, 16 de março de 2012

Inventário - Uma carta do Zé

um livro : Flor de poemas, Cecília Meireles.

dentro. duas cartas do zé.

o livro foi presente dele.

tem dedicatória dele e do irmão, o mauro;

o livro é uma coletãnea dos livros de cecília,

as cartas estão marcando o texto, improviso para norman fraser.

detalhe, há comentários que hoje seriam politicamente incorretos.

e pela segunda vez, a vejo pela fala dele. provando que não foi sonho meu.

claro, publicado sem autorização.







quarta-feira, 14 de março de 2012

Duas para o Ruy







o pai levou para casa uns fascículos de umas lições de inglês. vinha um vinil junto, com músicas de sucesso da época. tinham duas músicas do stylistics. colocamos o disco na vitrolinha presenteada pela mana e nos debruçamos sobre a letras e só não alcançávamos os falsetes do vocalista do stylistics. a dupla vocal se encontraria um tempo depois ao assistirmos juntos o programa da tv cultura, o inglês com música, que retornou me parece agora. só que lá fizemos duetos em float on, do floaters. com nós dois tentando acertar, a sequência dos signos e os nomes dos integrantes do grupo. algo que não consigo até hoje, meu segundo ídolo na vida, o cara que me ensinou subir em árvores, parceiro de brincadeiras, faz aniversário hoje. espero milagres de alegria na vida dele. e que ele possa flutuar de felicidade, que ele está merecendo. e como diz a mãe. coloquei o nome dele nas minhas orações.




terça-feira, 13 de março de 2012

coisas ricas da vida


as crianças penduraram palavras pelas paredes da sala. de um pequeno gravador vem a trilha que ela gravou em fita cassete. me lembro de uma música da rita lee, de que gosto mas me deixa triste.ao final do trabalho as crianças fizeram um pequeno relatório, um jornal escrito à mão. colagens, desenhos, textos. ela leu um texto que fiz para ela, diz que fui a inspiração de tudo aquilo. cheio de saudades e alguma tristeza, olhando pela janela nesta tarde ainda solar de março, com nuvens espreitando me lembrei da música da rita lee e dela de uma certa forma por tabela. para me agarrar naquele filete firme de emoção, que dorme nos nossos corações nos reafirmando os momentos ricos que valem a pena.



sexta-feira, 9 de março de 2012

Inventário

postal encontrado entre as folhas do livro Sonetos de Shakespeare.(Clássicos de Bolso -Editora Ediouro)
marcando a página 51 onde Ela marcou os versos finais do soneto

Enquanto o homem respire, e os olhos possam ver,
Meu canto existirá, e nele hás de viver



Ela escreveu no verso:




tirado da fala de um filme.

alguns de nós são pálidos,
outros são brilhantes
e outros coloridos.
Mas de vez em quando
encontramos alguém
que é irradiante.
e quando encontramos
não há nada que se compare.


.....





o nome do filme nunca foi dito.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Renascer



Naquele tempo a escuridão se ia dissipando, vagarosa. Acordei, reuni pedaços de pessoas e de coisas, pedaços de mim mesmo que boiavam no passado confuso, articulei tudo, criei o meu pequeno mundo incongruente. Às vezes as peças se deslocavam - e surgiam estranhas mudanças. Os objetos se tornavam irreconhecíveis, e a humanidade, feitas de indivíduos que me atormentavam e indivíduos que não me atormentavam, perdia os característicos.


Graciliano Ramos, in Infância

sexta-feira, 2 de março de 2012

O aniversário de Alice



se eu fecho os olhos vejo claro. você entre as outras três. tem um rádio ligado? você já quer fazer cinema? coloca a cena do beijo. coloca a cena da dança. você indo até ela. os meninos num canto, as meninas em outro. você o único que dança. mexendo nos discos. querendo qualquer palavra. você quer ser diplomata? ela quer ser professora. você preencheu uma folha de caderno com o nome daquela amiga dela.a bebida fraca ainda é verde. seu sorriso é pouco mas tem uma razão. ela não se importa. quando você for para o CECA será diferente, ela prevê. ela te lembrará as músicas do elton john. o toque da mão, os perfumes, demoram a sair? você dança bem , aprendeu com quem? coloca a cena de você saindo de um túnel escuro, bem escuro. quem mesmo do outro lado? mas você sente outro beijo, um abraço carinhoso, outro corpo. do que são feitas as roupas femininas? e esses sorriso de matar, e esses perfumes. a bebida não é mais verde nem fraca. inebria. as outras três. uma delas. a menina que mais te chamou a atenção. conta isso. exercício de redação, conta isso. quantos parágrafos? lembra do penteado dela. de vocês dois na peça do colégio. você quer ser jornalista? a professora disse em classe que teu texto é interessante. na falta de palavras, você preencheu duas folhas de caderno só com no nome da amiga dela. de que material é feito as roupas femininas, aquele pedaço de pele, inebria. memória, memória. quem foi te acordar? memória ainda bem. se eu fecho os olhos vejo claro. hoje é o aniversário de alice. e para onde se vai quando se vira memória no coração dos outros?



sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Mexendo nos vinis


o zé amaral lá nos e-mails avisa da coleção Gênios do Jazz.

ela já teve outro nome

era Os Gigantes do Jazz;

os fascículos chegavam lá em casa por conta do meu pai, em parte.

ouvindo o fascículo do ray charles lembranças sempre chegam

uma das faixas dancei numa peça de um colégio paulistano

topei a empreitada só para ficar ainda mais perto

de uma certa menina, seu perfume, sua pele e seu cacoete


em cena contada aqui.





está dito.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O primeiro dia


o quadro que fui pintando com a euforia do meu silêncio platônico. as pétalas que fui estendendo ao longo do tempo para cada sorriso seu. meu tormento,meu alento. a cena que guardei de você parada na porta da floricultura segurando um livro. as minhas palavras que escaparam do meu silêncio.o dia sem fim do verão. as lágrimas atrapalhando a visão das flores. as lágrimas secadas com as costas das mãos.nem imaginando uma dança na primavera. pedrão, pedrão, de onde veio essa ideia ?

acreditando no futuro.


domingo, 12 de fevereiro de 2012

Referências - O estranho no Paraíso

minha tia ignez tem me cobrado um poema que escrevi para a família. achei que com a mudança de casa eu o encontrasse. na agitação, pelos acontecimentos que logo se seguiram, não o achei.
no ano passado tinha começado um outro texto sobre a família. mas eu fiquei envergonhado. querendo um blog que tratasse de assuntos universais e não pessoais, não o publiquei. eu queria falar dos ministros da dilma, do aquecimento global, da blogueira cubana, injustiças outras, enfim. arquivei o texto.
nos últimos dias a ideia de colocá-lo aqui reapareceu, com tudo que tem me cercado. depois de quinta ganhou mais força ainda.
é agradecimento. e um muito obrigado há muitos citados no texto. meus tios e primos, amigos, para minha irmã,meu irmão e minha mãe.

e em especial para pedro novais da silva, meu pai, in memorium.



meu pai pedro, o "duca", ouvia futebol no rádio, gostava de instrumentos de sopro e lutas de boxe na tv
minha mãe benê, a "ditinha", cantava pela casa, sabia as palavras difíceis dos livros e revistas e queria estudar muito.
minha irmã rosa, a "ia",me ensinou as primeiras palavras em inglês, lia fotonovelas, algumas vezes me levou ao cinema.
meu irmão ruy, o "sérgio", era meu parceiro em muitas brincadeiras e diz a lenda familiar me ensinou a subir em árvores.
meu avô materno, augusto, tinha sítios, castrava porcos e plantou algumas árvores na cidade de londrina que estão até hoje por lá
minha võ materna maria, era magrinha, usava um coque na cabeça e até se mudar não matou duas galinhas que viraram de estimação para mim e meu irmão.
minha mãe teve dois irmãos adotivos. um sumiu no mundo. a outra se chamava isaura que tinha casa e sítio na cidade de cambira, mais interior ainda. e eu tinha outros primos por lá, um chamado mozart.
meu avô paterno, o joão, tocava nos cinemas sonorizando os filmes.
minha avó paterna rosa, fazia pães caseiros e reclamava quando eu aparecia de cabelo comprido e me deu um conselho que eu não segui.......
meu tio zezo era gráfico, era goleiro e um dia no quintal de casa, jogou "contra", meu pai, meu irmão e eu, com o josé antonio e o luis claudio formando o time da "outra família". não lembro o placar.
minha tia adair nasceu no mesmo dia do meu pai, do meu avô joão e do meu primo zé. era casada com o tio salvador com quem fui pescar algumas vezes.
minha tia dita teve cinco filhos, um foi assassinado, o valter, triste dia aquele. na casa dela eu ouvia os discos dos primos, colocando os discos na vitrola e imitando locutores de rádio.
meu tio paulo cantava, tinha uma foto dele se apresentando na rádio londrina na casa da minha avó rosa e me presentou aos dez anos com um livro do monteiro lobato, o "história das invenções".
minha tia cida tinha uma cara séria, muito séria. batalhadora, também trabalhava numa gráfica e me deixava feliz quando sorria e deixava eu entrar debaixo da couraça de seriedade dela.mãe da duclinéia que me mostrou o que eu deveria estudar até chegar ao vestibular e mãe do zé, autor da colisão mais rídícula da história do automobilismo mundial.
tres tios moravam no "estrangeiro".
o tio cido em assis, estado de são paulo, chique.
meu tio osmar mais chique ainda morava em são paulo e quando aparecia gritava da rua para minha mãe, "ditinha a gelatina ´tá pronta?" se referindo a um dos doces preferidos dele, preparados pela minha mãe..
o tio "GÊ", tinha sumido no mundo e para mim e meu primo zé antônio era a "lenda". quando ele reapareceu muita gente foi até a casa da minha avó rosa. eu o meu primo zé antonio também e nos postamos diante da "lenda".
meus tios fundaram escolas de samba que ganharam vários desfiles na cidade. sendo que um campeonato da "chão de estrelas" foi inesquecível. minha mãe cantando o samba na avenida, meu pai tocando prato, minha irmã na ala das baianas eu e meu irmão na bateria.
meus tios casaram com mulheres bonitas, as tias lurdes, sebastiana, teresinha e ignes.
a maioria dos meus primos tem nomes compostos, joão carlos, paulo roberto, rosa adair, luis carlos, vera regina, luiz eduardo, heber henrinque, haydee cristina.



a melhor gravação de ray connif para mim é a de stranger in paradise. mas tem um problema. ela me transposta para sala da casa da minha avó paterna, lá em londrina. dono do disco de conniff, meu tio paulo o colocava. olhando ele cantando e dançando, aprendi como era.. ele mesmo às vezes me dizia;é assim ó!. repararam porque que não dá para ouvir a música inteira? coloquei na coluna de coisas boas. beleza sufocando, criando nó na garganta e explodindo em choro. suscetível.






meu pai, amante de bandas, instrumentos de sopro, talvez influência do pai dele, tinha duas versões do hino da marinha brasileira, numa delas ele fazia todos os instrumentos em arranjo de "boca". os sopros, os pratos, os bumbos. na outra versão ele cantava a letra inteira. recentemente ele me contou que fez aulas de piano, vamos combinar, ele teria sido um pianista elegante como oscar peterso, um negão que ela achava bom. vai fazer muita falta o "Seo" Pedro.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Ao Velho Pedro

há palavras novas nas conversas familiares; neuro-comprometimento, sedação, dreno, pressão craniana,uti semi-intensiva, nível de consciência, sequelas.
qualquer pequena movimentação do braço, dos olhos, respiração, bocejo, é comemorada.
esperamos que ele saia do sono, sonho, para nós pesadelos, em que ele se encontra.
eu espero que que ele faça como fazia quando ouvia do lado de fora do meu quarto, a música que vinha do aparelho de som.
ele abria a porta devagar, enfiava a cara, sorria e perguntava:
_Pedro Geraldo que música é essa?
eu passava a capa do disco para ele. então às vezes ele sentava na cama e acompanhava algumas faixas do disco.
se o músico era negro ele decretava com orgulho:
_Esse Negão é bom!
com orgulho pela etnia do músico.
Pai quero que o senhor abra o olho devagar, como fazia ao entrar em meu quarto, aquele quarto quente segundo o Amaral e me pergunte aí do seu sono, sonho, nosso pesadelo:
_Pedro Geraldo que música é essa?


sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Inventário -




trecho de texto não terminado, escrito com qual intenção não sei. escrito com caneta esferográfica azul e lápis. com borrões, letras sumindo e palavras desaparecidas. texto que quase vai embora na limpeza para mudança de casa. sem correções. e publicado sem autorização.

Para Márcia Pescuma, que deu uma resposta bonita sobre minha amizade com Ele, o Zé Amaral, autor do texto.


(...) Conheci o Pedrão num colégio onde eu estudava, junto com sua mãe, Dona Benedita na Vila Guilherme, Zona Norte de S. Paulo. Era um lugar bonito, com um pracinha ao lado, que numa época como esta, primavera, inundava o chão, feito de cascalhinhos, com pétalas de flores. Havia lá também duas quadras onde jogávamos bola, inclusive com as meninas, por sinal, que arranhavam mais do que outra coisa.
Ele tendia sempre por estar caindo pela ponta direita do campo, de meias arriadas, a camisa para fora do calção. Acho que era prá fazer charme. Afinal todo gol bonito que fazia, corria prá comemorar junto à uma certa garota, sentada sempre num dos corners. O gozado é que nunca foram, que eu saiba, apresentados formalmente. Mas ela andava sempre por lá e ele corria sempre para lá. Mistérios.....
O apartamento da família dele não tinha uma vista muito privilegiada mas a atmosfera que acontecia lá dentro compensava de longe.
No quarto apertado dele e do irmão, repleto de discos, livros, jornais e revistas espalhados para tudo quanto era lado, cruzávamos com Beto Guedes, Fernando Pessoa, Fassbinder, Djavan, Clarice Lispector, Ademir da Guia, Capitão América, Paulinho da Viola, Albera Hunter, Ray Charles, Charlie Brown, Walt Whitman, Milton Nascimento, Caetano, Tostão, Spielberg, Beatles, Duke Ellington, Mônica & Cebolinha e sei lá quantos mais. Fundamos (nossa!!!) um jornal, "O Moita" uma homenagem ao "O Capim" do Barão de Itararé.(....)


fim da parte escrita com esferográfica. a parte escrita à lápis está apagada. quase toda.



Filosoficamente pensei de quem é o texto? meu ou dele? Se está comigo é porque de alguma forma ele me entregou. Não devo ter tirado das mãos dele. Penso que ele queria escrever mais. A segunda parte escrita à lápis quase não se é possível ler. Ele também não fez as correções. Não há um referência de data. Mas me parece ser um texto já dos 80. Há palavras rasuradas, sobrepostas, desvio de pensamentos. A folha está amarelada. Não é uma folha de caderno. Parece parte de uma folha de impressora. Detalhes que me chamaram atenção. Lendo o texto, falando da praça, do colégio, de Vila Guilherme e dele. só faltava mesmo aparecer a menina dos perfumes misturados, pelos olhos dEle.