sábado, 30 de outubro de 2010

Roda de Sábado - Preparando o voto

Muito dos Raros Leitores já sabem...Bolinha de papel só clássico de Geraldo Pereira

e modificando o primeiro verso: Só tenho medo do Falseta...









Comunidade Carente
Zeca Pagodinho

Eu moro numa comunidade carente
Lá ninguem liga prá gente
Nós vivemos muito mal
Mas esse ano nós estamos reunidos
Se algum candidato atrevido
For fazer promesas vai levar um pau

Vai levar um pau prá deixar de caô
E ser mais solidário
Nós somos carentes, não somos otários
Prá ouvir blá, blá, blá em cada eleição

Nós já preparamos vara de marmelo e arame farpado
cipó-camarão para dar no safado que for pedir voto na jurisdição
É que a galera já não tem mais saco prá aturar pilantra
Estamos com eles até a garganta
aguarde prá ver a nossa reação


sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Três Cenas com Lou Rawls


Looks Alike



O Léo diz que eu pareço com o Buddy Guy.
A mãe da Luciana diz que eu me pareço com o Sammy Davis Jr. .
A Sarah vê em alguns poucos sorrrisos traços do Denzel Washington.
A Glória tem certeza que eu me pareço com Danny Glover, ratificação feita após algumas fotos, pelo primeiro amigo o Iran.
O dono do (Quase) Tudo (aka Monólogo) aí à direita cravou certa vez Curtis Mayfield.
Mas eu queria mesmo é ter sido a razão do encantamento no olhar que vi uma tarde londrinense de primavera, de três meninas ao ouvirem Lou Rawls.


Plano Sequencia :

o homem desce do carro. a câmera o acompanha. ele entra no salão depois de entregar um convite ao porteiro. passa por um corredor. ouvimos já a música do salão. para no alto da escada. ele observa o salão como se procurasse alguma coisa. começa a andar entre as mesas. recebe alguns cumprimentos, sorrisos abraços e palavras. continua caminhando. para diante de três moças. a da direita sorri para ele. a do centro acena com a mão. a da direita fala.

_ E não é que você veio !!!



Leitora eventual, ela quer saber porque em muitos textos há vídeos musicais. Tento explicar sobre um roteiro estilizado, que é para ela ler como se fosse uma cena de filme. Cada texto tem uma trilha. É assim que eu vou escrevendo.

Aqui por exemplo.

O rapaz está diante de uma porta. Ele toca a campainha. Neste instante ele ouve a voz do Lou Rawls vindo de dentro do apartamento. Lou Rawls começa a recitar os primeiros versos de Pure Imagination. A porta se abre. Ele cumprimenta a pessoa que abriu a porta e entra quando Lou já está cantando. À direita ele vê três mulheres, que o cumprimentam. No chão da sala, banhado pelo sol da tarde e diante de uma aparelho de som três moças. Uma tem um disco do Lou Rawls nas mãos. A do meio sorri para ele. A da direita o olha com um olhar diferente. A da esquerda fala.

_ Meninas chegou alguém que pode nos falar sobre Lou Rawls. Ou talvez cantar como ele.

(outros esboços para O dia em que a tirei para dançar)


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Escorpiniano da pá virada

Hoje é aniversário dELE










E mais. como se canta nas arquibancadas do Velho Paca,

"Ôôôô/Corinthiano M
aloqueiro e Sofredor/ Graças A Deus !"

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Mexendo nos Vinis - Milton Nascimento





acho que foi um tempo assim. outubro primavera. eu ia e voltava da escola com meu irmão caçula, saindo da josé bernardo pinto, indo pela coronel marques ribeiro e miguel mentem até o colégio na maria candida. a volta era outro caminho e outra história. dava tempo de ouvir parte do programa da tarde do ferreira martins na rádio bandeirantes. ele anunciou um disco novo. milton nascimento, o minas e explicou o porquê de minas. locutor de outros tempos. o disco chegou em casa uns meses depois e tocou na vitrolinha presente da minha irmã. as letras me abriram caminho para uma outra leitura, mais brasileira de rios lugares pessoas e amizades. não sei a razão o coração aperta em ponta de areia. o coro no começo acompanhou a minha caminhada naquela tarde e até hoje. mas matador mesmo é o solo do sax soprano de nivaldo ornelas. o que me obrigou a dar um abraço constrangedor nele num show em belo horizonte no palácio das artes. o disco também foi ouvido por maurice white do earth wind and fire. que o cita até hoje como fonte de muita inspiração em seu trabalho. ponta de areia foi gravada pelo grupo dele e é a abertura da inspirada brazilian rhyme. outra de fazer chorar. ponta de areia também foi gravada por wayne shorter e recentemente por esperanza spalding. estou bem acompanhado. não preciso ficar mexendo nos vinis para saber que hoje é aniversário de milton nascimento. vou lembrar daquela tarde de passadas silenciosas ao lado do meu irmão até o colégio da maria candida. espero que faça sol como naquela ocasião.










e uns abraços para

gabriel, carlos dignez, mirna lia, júlia, silvia regina

e uns beijos também

escorpinianos da pá virada (é como caminhar ao lado do irmão em tardes de primavera)

parafrasenado galvão bueno. Haja Coração !!!

P.S. hoje também é aniversário daquela hors concours. takeo.....

sábado, 23 de outubro de 2010

Roda de Sábado - Pelé 70


Se foi eleito Atleta do Século, fez mais de mil gols encantou de plebeus à nobres. Pelé não tem vida fácil nas quatro linhas dos Carvalho Silva.
A ala masculina da família, capitaneada pelo Seo Pedro, vê nele o humilhador-mor do Timão, time do coração da família. Mesmo sobrando um espaço para torcer por ele quando ele servia a Seleção Brasileira. Ser bom cabeceador e saber matar uma bola no peito.
Os gols e as jogadas humilhantes contra o Timão ofuscaram qualquer outra admiração. E depois tem as histórias em forma de gozação contadas por ele. Mesmo recentemente quando do rebaixamento, ele tirou uma casquinha.
Já a ala feminina, capitaneada pela Dona Benê, não aliviou a marcação sobre o cara. Não há aparição dele, desde de que me entendo por gente. Em que não há um olhar de desdém sobre ele.
A sua falta de postura sobre o racismo no Brasil, dizer que o povo não sabia votar, extrapolam, o fato do cara ter alertado para a situação das crianças ou ter proclamado no Giant Stadium, LOVE,LOVE,LOVE.
_ Ele devia se posicionar sobre isso. dizia ela. _ Como aquele boxeador americano, aquele...aquele...aquele que mudou até de nome para não ir ao Vietnã.
_ O Muhammad Ali mãe.
_ Esse. Esse foi corajoso. Falou pelos direitos civis dos negros. Trocou de religião para não servir ao exército americano e disse que não lutaria uma guerra que não era dele.
_ O Pelé parou uma guerra mãe !
_ Parou é ?, perguntava ela irônica com aquele olhar de que as tréplicas daquele debate tinham terminado.
Nenhuma genialidade se sutenta num ambiente desses.
Cresci meio olhando de soslaio o cara. E de fato ela não falava nada sobre o racismo brasileiro, nunca falou. Mas também nunca falou sobre a situação da maioria dos jogadores brasileiros, de miséria muitas vezes.
Nesses quesitos admirei, Paulo Cesar Caju, Vladimir do Corinthians, Reinaldo do Atlético Mineiro, Afonsinho, Sócrates e Tostão. Menos talentosos. Mas mais contundentes em termos de posicionamento do cidadão fora de campo.
Quando mudamos para São Paulo ela já estava encerrando a carreira. O vi jogar duas vezes in loco.
Uma num jogo Corinthians x Santos no Morumbi, que o meu pai levou a mim e ao meu irmão. 1 a 1. Acho que com gol dele no empate santista.
O outro na Seleção de Masters, invenção do Luciano do Valle. Aí fui por conta de vê-lo mesmo. Fui com o supracitado por aqui, meu amigo Zé Amaral. Acho que ele largou a namorada de lado naquele domingo de dilúvio bíblico. E não me lembro se o jogo foi no Canindé ou Pacaembu. Só sei que choveu tanto, que minha roupa de baixo está para secar até hoje no varal. Valeu sim por ele e pela companhia.
E ele até podia ter admiração que tenho por conta daquela irmandade inventada por mim junto aos escorpinianos. Mas até aí ela dança às vezes. São escorpinianos dois dos caras que concorrem com ele sobre ser ou não ser o melhor do mundo. Garrincha e Maradona. Muito mais sedutores e da pá virada. Escorpinianos até a medula.


Pelé num dos poucos momentos em que os Carvalho Silva riram com ele.


Atualizado : se bem que até aqui, o craque é outro. Golias. Clássico !!!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Própria Lavra



Um amor
vai chegar aqui
tenho banda
e discurso preparados
e um rol de pedidos :
quero rir
tomar chuva
comer pitanga
com meu amor.

lustrei minha alma
e quero voar
longe muito longe
onde antes
do meu amor chegar
eu só me atrevia
em sonhos.

sábado, 16 de outubro de 2010

Revisando uma lição de Inglês

pois me beijaram a boca e me tornei poeta - joão nogueira/paulo cesar pinheiro





Until You Come Back To Me
Though you don't call anymore
I sit and wait in vain
I guess I'll rap on your door
Tap on your window pane
I want to tell you Baby
The changes I've been going through
Missing you.
Listen you

'till you come back to me
That's what I'm gonna do

Why did you have to decide
You had to set me free
I'm gonna swallow my pride
I'm gonna beg you to (please baby please) see me
I'm gonna walk by meself
Just to prove that my love is true
Oh, for you baby

'till you come back to me
That's what I'm gonna do

Living for you my dear
Is like living in a world of constant fear
In my plea, I've got to make you see
That our love is dying

Although your phone you ignore
Somehow I must explain
I'm gonna rap on your door
Tap on your window pane
I'm gonna camp on your step
Until I get through to you
I've got to change your view baby
'till you come back to me
That's what I'm gonna do




quando eu penso no futuro/ não esqueço meu passado - Paulinho da Viola

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Professores lll

Em torno de um poema



Teus poemas estão no mural, ela me avisa.

Os dois professores da Àrea de Português tinham insitido que eu inscrevesse algum texto para o torneio literário que eles haviam criado no Colégio Casimiro de Abreu, o CECA de Vila Guilherme.
Um poema curto, falando de Natal sem ser natalino, havia sido composto, andando pelas ruas do bairro. E era meio lição dos exercícios de classe. Quando cheguei em casa passei para um papel de embrulho. Inscrito o poema foi parar junto com o dos outros participantes numa das paredes do colégio.

eu tenho um novo amigo. Sempre que dá estamos juntos no intervalo. Reparo nela, reparando em nós. Troca de olhares. Eu acho que é com meu amigo. Sinto inveja dele. Mas um bilhete mandado, tão furtivo quanto os olhares, se encarrega de mostrar que os amores deixariam de ser platônicos ou silenciosos.

"Será que um dia você irá conversar comigo, como conversa com o Amaral ?"

se eu pudesse escolher um ano da minha vida escolar, um só, seria aquele. Amigos novos, incentivo de dois professores e um olhar que juntos elevaram minha auto-estima às alturas.

A professora Lucia Bazeggio me disse que o poema era bom. Acreditei. O professor Manoel Cardoso, aprontou outra. Deu meu poema em classe do terceiro ano. Mais, me convidou para conversar com os alunos, parecia um escritor consagrado respondendo as perguntas.

Na saída ela me espera. Vamos dividir um refrigerante e caminhar pela Maria Candida.

Já me sentia premiado e os professores nem imaginavam o bem que aquilo me fazia. Embora nos anos seguintes eu quebrase as expectativas em torno do meu projeto de vida, talvez para tristeza de muitos. Deles professores, dos amigos e dela que sumiu no ano seguinte, não sem antes dividir comigo, caminhadas, conversas e aquela pequena vitória do poema curto.
Sentamos na Casa da Esfiha da Praça Oscar da Silva e ela passava os dedos na dedicatória escrita na letra peculiar do professor Cardoso. Ela leu em voz alta dando ênfase em "brilhante participação e classificação".

_Pedrão, Pedrão, escritor poeta. Não vai me esquecer hein ?

Esquecer ? eis aqui uma resposta.


Recebi do Professor Manoel Cardoso seu mais recente livro de poemas, Cintilações.


A Professora Lúcia Bazeggio reencontrei numa das redes sociais da internet. Naquele ano ela me mandaria um poema, que guardo num livro do Maiakovski. Ela e o Professor Cardoso criaram um Grupo, o Piracema, para alunos e ex-alunos, para discussões literárias e outras artes, alguns anos depois.



Quem reintroduziu a Professora Lúcia em minha vida, foi Márcia Pescuma, que numa roda de amigos e violão, musicou meu poema curto.



Desfruto e preservo a amizade com o Amaral até hoje. As meninas do colégio falavam mais "ois!" para ele do que para mim ou eu achava isso. Ela provou que tinha espaço para todos.



Ela estudou na PUC, é professora e continua em segredo.





Leia mais:Dois poemas Márcia e Manoel
Um ex-segredo de 78
Ainda sobre aquele 78


Fim da série

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Professores ll

Dedicatória no compacto

A expressão hors concours eu tinha aprendido lendo a revista esportiva Placar. Com a criação do Campeonato Nacional de Futebol, ela criou o Troféu Bola de Prata, onde os jogadores de cada posição, recebiam nota a cada partida. O jogador com melhor média durante o campeonato levava o troféu. Como Pelé ainda jogava, a revista achou por bem nomeá-lo, hors concours. Fora de concurso ou Fora de Série.
Eram platônicos ou silenciosos os amores. No panteão que erigi das minhas paixões platônicas junto ao Corpo Docente Feminino, que passou diante de mim, uma foi hors councors. As outras se digladiavam, sem que soubessem, por posições lá no meu coração, o que confesso, dependia de um meio ponto aqui, outro ali.

Hoje nos vamos ter uma aula diferente
, ela anunciou.

Aula de Inglês. Ela tinha acabado de entrar e junto com os livros trouxe uma vitrolinha, daqueles modelos que a caixa de som era também a tampa.

Alguém aí pode montar para mim a vitrola enquanto eu faço a chamada ? ela pediu.

Olhei em volta ninguém se habilitou. Me ofereci.

Pedro ! ela, Por favor ! e sorriu.

Ela era no meu ranking de paixões platônicas junto ao Corpo Docente Feminino da escola a terceira colocada, naquele período. Mas aquele Pedro Por favor acabara de dar à ela a segunda colocação. Só lembrando, sou escorpiniano ortodoxo, sorrisos e por favor, contam pontos, são abraços na alma.
Depois de montar a vitrola ela me passou um compacto, para que eu o colocasse no prato. Aretha Franklin, "Until...." , não terminei de ler o título da música. Me distraí com umas palavras escritas à esferográfica num dos cantos de um outro compacto que estava junto ao livros. Era dos Rolling Stones. E a embalagem era diferente dos compactos brasileiros. Um material mais bem cuidado. Aí aquela dedicatória me chamou atenção e o nome da música cujas palavras do título eu sabia a tradução.

"Rosana

If you really want
to be my friend

i´m here

Love you

João"

Baixou um ciúme. Uma coisa na boca do estômago.Mas o cara era legal, e corajoso, se declarava daquele jeito. E ela era bacana, andava para lá e para cá com o presente dado.
Mas guardei, muitas meninas gostavam dos Stones, até as professoras, dar presente era legal e dedicatórias eram benvindas.

A aula.

Alguém aqui conhece Aretha Franklin ? Ela.

Olhei em volta, ninguém, levantei a mão.

O Pedro, ela sorriu de novo.

"Until you come back to me, alguém já ouviu ? ela.

Olhei em volta, ninguém. Levantei a mão. E ainda complementei que a música era do Stevie Wonder.

O Pedro, ela sorriu bonito, e ainda sabe o autor.

Alguém lá do fundo falou. O Pedro vai ser poeta, conhece essas coisas melosas.

O Pedro vai ser poeta, conhecer mais coisas "melosas" e encantar bastante ! E talvez nos esquecer ! ela me dando um sorriso. Primeiro lugar naquela tarde. E várias semanas em primeiro como na parada daquela revista americana, a Billboard.

Lembro dela vez em quando. Quando fugiu para a Inglaterra, onde ela também foi um certo ano para intercâmbio, meu amigo Nelson Brito me mostrou um disco dos muitos do Stones que ele tinha. E em especial ele queria que eu ouvisse, acompanhando a letra, "If you really want to be my friend". Era a segunda vez que me emocionava com a música. Preparando esta série aqui, para esse humilde espaço, na semana passada na madrugada a ouvi. Sucumbi.
Espero que o João ainda mande presentes com dedicatórias para ela. Ou algum aluno Pedro se lembre dela vez em quando. Esquecer? eis aqui uma resposta.



pequena informação; os backing vocals são do Blue Magic.takeopareo !

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Professores

Perspectivas (de)para um pivete neguinho

Belinha

Ela não era de Londrina. Era de Mandaguari, uma cidade mais interior ainda. Era noiva e iria se mudar para Curitiba.
Eram platônicos ou silenciosos os amores. Tive uma doença grave, fiquei internado. Quando saí por conta das rezas e das promessas à beira do meu leito, tinha perdido o ano letivo. O único que não perdi por desencanto ou negligência. Achavam que eu tinha tido sequelas o que podia prejudicar o aprendizado. Ela foi contratada para ser minha professora particular e era também minha professora regular. O que causou uma certa inveja nos outros meninos, pois o apelido, tirado de Isabel, lhe cabia bem
As aulas particulares eram no apartamento em que ela dividia com uma amiga também professora. Uma moça pra lá de descolada que cada dia vinha com um penteado, uns vestidos, batas, imitando uma cantora qualquer .

- ´tá parecendo a Nara Leão ? - tá parecendo a Michelle Philips? - tá parecendo a Aretha Franklin ?

e meninos, a amiga dançava às vezes comigo e me falava sobre namoros, meninas, horóscopo, ela escorpião eu escorpião,

escorpião é fogo,
dizia,

homens negros que ela achava importante que eu conhecesse e bonitos nas palavras dela e sobre os meus silêncios numa quase terapia.
Outra coisa que me lembro é que as aulas sempre começavam com um poema, uma noticia de jornal ou uma música que elas escolhiam dos discos que tinham no apartamento.
Foi por conta de Belinha que meu nome apareceu pela primeira vez no jornal Folha de Londrina, meu e de muitos da classe. Fizemos umas redações com perguntas aos jornalistas e algumas foram escolhidas e respondidas.
Foi por conta de Belinha que não chorei mais quando soube, que aquela moça, do apartamento acima do dela e que eu via às vezes no elevador e brincava comigo, tinha se atirado no vazio morrendo no telhado do Cine Vila Rica.
Ela pedia que eu escrevesse sobre os filmes que eu havia assistido, ou sobre as coisas ao meu redor, coisas de que gostava, livros, músicas, pessoas.
Quando ela se despediu da cidade para casar, me avisou. Regados à refrigerantes e bolo, ouvimos músicas, falamos sobre o futuro, cantamos uma tarde inteira, um happening. Numa das músicas a voz dela ficou embargada. Era uma música do Stevie Wonder , que ela gostava bastante. A amiga começou a cantar junto.

- você vai esquecer de mim logo logo.

no que a amiga dela decretou
- já de mim não.

- você é mais inteligente do que você imagina, boa sorte.

Choramos. Chorei um bom tempo no bosque londrinense. Até aparecer uma hors concours, seria minha paixão platônica junto ao Corpo Docente Feminino que desfilaria diante de mim. Esquecer ? eis aqui uma resposta.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Pitacos de um Cara do Mal

Confesso meus pecadilhos. Embora achasse que campanha contra Marta Suplicy fosse a pá de cal, nessa tendenciosa paulistanada anti-tudo. Uma gente que se acha, usando as palavras da moçada, "a última bolacha do pacote" e no entanto elege Tiririca, como se fosse um voto de "protesto", quem é mais tiririca nesta história ?
Resolvi confesar meus peacdilhos, alguns deles, como compra de dvds piratas, roubada de olhares e sorrisos, que não são os de minha mulher, uma olhada aqui outra ali, a procura das fotos de Sasha Grey para a Playboy americana. E duas promessas que não cumpri nos últimos meses, aquela sopa de alface prometida para Ela e a partida de jogo de botão com o Tom
(N.R, esse menino deve ter treinado, ele fala para mãe dele que vai estudar piano e deve estar treinando e o jogo será na casa dele, só espero que ele não esteja sendo treinado pelo Renê Simões, pois estou prevendo um massacre, o resultado sairá aqui, aguardem).

Mas o que pesou na minha confissão, é que a parte da minha alma que ainda acredita em Deus, se sentiu alijada da sociedade brasileira, embora comigo estivessem mais de 60% da população brasileira. Mas aqui só cabe a minha confissão, os outros que se virem lá com seus pastores, padres, rabinos ou mulás.
Não sou um cara do bem desde de 3 de outubro, entrei para o "Eixo do Mal" do eleitorado brasileiro, como sugerido pelo candidato homem do segundo turno presidencial. Num discurso encampado na cozinha e na salas de cafés por aí, ônibus e padarias. Pior é ouvir a bobajada preconceituosa da boca de mulheres inteligentes e que se dizem tão modernas.
Por isso amigos, sou um Cara do Mal e confesso mais, como escorpiniano ortodoxo que não arreda pé algumas vezes, neste segundo turno vou ter que manter a minha fama de mau.

onde o domingo foi do bem

o Brasil ganhando o Campeonato Mundial de vôlei contra uma Cuba toda renovada com um jogador de 17 anos, Leon, sendo uma ótima promessa.
E a Joss Stone entrando lá em casa depois daquela palhaçada lá no Pacaembu, salvou meu resto de domingo.



onde o domingo foi do mal

não teve graça nenhuma aquela tiriricada no velho Paca
Solomom Burke, partindo e deixando o mundo mais sem graça.Felizmente fica a obra. R.I.P. .



Estou com o Lado Negro da Força.

sábado, 9 de outubro de 2010

Roda de Sábado - John Lennon 70

Nós somos o Gordo e o Magro. Todas as pessoas sérias como os Kennedys, Luther King e Ghandi foram assassinadas.
Nós queremos ser os palhaços do Mundo.

de John Lennon e Yoko Ono (*)





Vivemos num mundo onde nos escondemos para fazer amor! Enquanto a violência é praticada em plena luz do dia.



Eles me criticaram por cantar 'Poder para o Povo', dizendo que nenhuma facção pode deter o poder. Bobagem. O povo não é uma facção. Povo significa todas as pessoas



Requiem para um mundo que já assassina as suas coisas mais sérias: os seus palhaços.(*)

(*) extraido de uma carta lá de dezembro de 80, quando os palhaçoes eram outros e a carta é linda diga-se. está guardada até hoje.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Inventário

Minha casa

Depois de tanto tempo
surpresa
dum amor
Achava que o havia espalhado
pelo mundo

Giuseppe Ungaretti, tradução Sérgio Wax



Três bilhetes sem assinatura de caligrafia feminina conhecida.

Anotações pelas páginas como:

Lido pelo P.... no Centro Cultural São Paulo, antes do show do Walter Franco, gostei.
Lido pelo P.... em frente à sorveteria, domingo à tarde, vou tentar conhecer mais do autor.

Grifos em alguns versos:

"As paixões, as desmedidas
dores, as não curtidas" de Bertolt Brecht

"Amamos o que não conhecemos, o já perdido" de Jorge Luís Borges, por exemplo.


Um marcador de página artesanal feito de papel couchê e pintado com lápis de cor.

Uma folha de sulfite com a letra traduzida do Everything but the Girl, Each and every one.

Uma cópia, retirada do encarte do disco Velô de Caetano Veloso do poema Pulsar de Augusto de Campos.

Um poema escrito num pedaço de papel em caligrafia masculina, própria lavra.

Uma última anotação na contracapa: Valeu mesmo a pena - São Paulo ano de 8... Where are you ?



Pequeno inventário num livro de poemas

Há caixas para serem abertas ainda.São da segunda leva vinda da casa dos pais.
Espremido quase à vácuo entre "A escrita ou a vida " de Jorge Semprun e "Amado meu" de Pier Paolo Pasolini, dois presentes com dedicatórias com caligrafia feminina e conhecida, um envelope pardo desperta sua atenção.
Alguém deve tê-lo avisado e ele deve ter esquecido. Uma correspondência especial, enviada para o antigo endereço, com uma caligrafia feminina conhecida.
No envelope: remetente: Você sabe quem.
endereço: Como você costuma escrever, Nowhere.
Ele treme. O livro que ele julgava perdido reapareceu diante dele.
Aquela velha senhora arauto, a dona Saudade tinha preparado uma das suas.
Abre sem pressas o pacote. O livro sem capa de tantas caminhadas sob sol e chuva, orelhas e páginas amarelas, com anotações escritas em esferográficas azul e vermelho em alguns versos.
Um anotação final na contra capa, que ele gostou. " where are you", "Valeu mesmo a pena".
Aperto no coração por semanas.




O Poema ou alguma coisa com palavras


Os passos macios
pelos caminhos

os pés e os olhos

as mãos inventam
formas
no contar das histórias
do corpo.

Ela toda música
macia.

O mundo está calmo
só o coração sismógrafo
pressente um
terremoto.

depois ...... primavera em Sampa.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Um som para o Seu Pedro




Trancado no quarto ouvindo música, às vezes ele batia e perguntava, O que você está ouvindo ? e depois que eu dizia o nome do artista ele arrematava, É negro ?
E não havia intolerância racial da parte dele. É que se o artista era negro e talentoso, ele tinha aproveitado o dom e tinha tinha tudo para ser respeitado, era um negro a mais para fincar pé de que os negros não eram medíocres e sem rumo na vida como queriam fazer acreditar parte do mundo.
O pai e os tios foram músicos de bandas no interior paulista e ele tinha uma mania de imitar sons de bandas marcias ou instrumentos de sopros. Tocou prato na bateria num dos desfiles da Escola de Samba Chão de Estrelas em Londrina.
Interessante foi quando na sala lá de casa diante da tv, assistimos ao Festival de Jazz de São Paulo. Na apresentação do B.B. King depois de alguns solos do bluesman ele sentenciou, Esse negão é bom !
Mas a melhor reação foi quando ele viu a apresentação de Etta James no mesmo festival.
Ficou meio inquieto na poltrona, como naquelas noites em que assistíamos as lutas de boxes na tv. Mas não era angústia, era encantamento. E quando ela interpretou Miss You dos Rolling Stones, ele ficou mais interessado, Boa, boa, ele falava. Mas aí eu resolvi avisá-lo quem eram os autores da música que ele estava gostando, no que ele foi direto, Aqueles branquelos magrelos ? Mas a música é boa, muito boa. Os Stones tinham ganhado um fã.
Hoje em dia nas conversas os amigos são todos, meninos, meninas. E aquele menino, o Paulinho ? e aquele menino o Edu ? e aquele outro menino que trabalhava com você ? e aquele menino o Amaral e os meninos dele ?
Mas não empolguem meninos, essas perguntas sobre os meninos, só aparecem depois de horas de conversa. A segunda pergunta sempre é, E a Ester ? quando você a ver manda um beijo prá ela e aquela menina a Cristiane ? quando você a ver... e aquela uma e aquela outra ? quando elas forem vistas...e aquela menina mãe dos meninos daquele menino o amaral ? quando você a ver... diz sempre, elegante e educado, as meninas primeiro.

'Cença, hoje é dia de abraçá-lo.Benção Pai !