sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Professores lll

Em torno de um poema



Teus poemas estão no mural, ela me avisa.

Os dois professores da Àrea de Português tinham insitido que eu inscrevesse algum texto para o torneio literário que eles haviam criado no Colégio Casimiro de Abreu, o CECA de Vila Guilherme.
Um poema curto, falando de Natal sem ser natalino, havia sido composto, andando pelas ruas do bairro. E era meio lição dos exercícios de classe. Quando cheguei em casa passei para um papel de embrulho. Inscrito o poema foi parar junto com o dos outros participantes numa das paredes do colégio.

eu tenho um novo amigo. Sempre que dá estamos juntos no intervalo. Reparo nela, reparando em nós. Troca de olhares. Eu acho que é com meu amigo. Sinto inveja dele. Mas um bilhete mandado, tão furtivo quanto os olhares, se encarrega de mostrar que os amores deixariam de ser platônicos ou silenciosos.

"Será que um dia você irá conversar comigo, como conversa com o Amaral ?"

se eu pudesse escolher um ano da minha vida escolar, um só, seria aquele. Amigos novos, incentivo de dois professores e um olhar que juntos elevaram minha auto-estima às alturas.

A professora Lucia Bazeggio me disse que o poema era bom. Acreditei. O professor Manoel Cardoso, aprontou outra. Deu meu poema em classe do terceiro ano. Mais, me convidou para conversar com os alunos, parecia um escritor consagrado respondendo as perguntas.

Na saída ela me espera. Vamos dividir um refrigerante e caminhar pela Maria Candida.

Já me sentia premiado e os professores nem imaginavam o bem que aquilo me fazia. Embora nos anos seguintes eu quebrase as expectativas em torno do meu projeto de vida, talvez para tristeza de muitos. Deles professores, dos amigos e dela que sumiu no ano seguinte, não sem antes dividir comigo, caminhadas, conversas e aquela pequena vitória do poema curto.
Sentamos na Casa da Esfiha da Praça Oscar da Silva e ela passava os dedos na dedicatória escrita na letra peculiar do professor Cardoso. Ela leu em voz alta dando ênfase em "brilhante participação e classificação".

_Pedrão, Pedrão, escritor poeta. Não vai me esquecer hein ?

Esquecer ? eis aqui uma resposta.


Recebi do Professor Manoel Cardoso seu mais recente livro de poemas, Cintilações.


A Professora Lúcia Bazeggio reencontrei numa das redes sociais da internet. Naquele ano ela me mandaria um poema, que guardo num livro do Maiakovski. Ela e o Professor Cardoso criaram um Grupo, o Piracema, para alunos e ex-alunos, para discussões literárias e outras artes, alguns anos depois.



Quem reintroduziu a Professora Lúcia em minha vida, foi Márcia Pescuma, que numa roda de amigos e violão, musicou meu poema curto.



Desfruto e preservo a amizade com o Amaral até hoje. As meninas do colégio falavam mais "ois!" para ele do que para mim ou eu achava isso. Ela provou que tinha espaço para todos.



Ela estudou na PUC, é professora e continua em segredo.





Leia mais:Dois poemas Márcia e Manoel
Um ex-segredo de 78
Ainda sobre aquele 78


Fim da série

3 comentários:

Tânia Maria disse...

Ahhhh... Por que fim?? Não vale.
Bj

Tânia Maria disse...

Querido Pedrão

Há poucos dias, no primeiro turno da eleição, fui com o Gabriel e o Tomás ao velho CECA. Uma das coisas que mais curto nessa época é exatamente a possibilidade de retornar àquele lugar. Para os meninos, de alguma forma, eles entendem minha necessidade de rodar os corredores, repetindo a mesma ladainha sempre, enquanto me observam: -olhem, eu estudei nessa sala com Pedro, dona Benê, Marcelo, Ricardo, Rosana... Meu Deus, tanta gente... Miguel, João, Márcia Pescuma, Erodiades, Lizete... Quanta história...
A saudade é um bicho esquisito, meu amigo.
Ao menos dá para se fazer bons poemas com ela...
Beijo procê
Zé Amaral

Tânia Maria disse...

Querido Pedrão

Há poucos dias, no primeiro turno da eleição, fui com o Gabriel e o Tomás ao velho CECA. Uma das coisas que mais curto nessa época é exatamente a possibilidade de retornar àquele lugar. Para os meninos, de alguma forma, eles entendem minha necessidade de rodar os corredores, repetindo a mesma ladainha sempre, enquanto me observam: -olhem, eu estudei nessa sala com Pedro, dona Benê, Marcelo, Ricardo, Rosana... Meu Deus, tanta gente... Miguel, João, Márcia Pescuma, Erodiades, Lizete... Quanta história...
A saudade é um bicho esquisito, meu amigo.
Ao menos dá para se fazer bons poemas com ela...
Beijo procê
ZÉ AMARAL