Dedicatória no compacto
A expressão hors concours eu tinha aprendido lendo a revista esportiva Placar. Com a criação do Campeonato Nacional de Futebol, ela criou o Troféu Bola de Prata, onde os jogadores de cada posição, recebiam nota a cada partida. O jogador com melhor média durante o campeonato levava o troféu. Como Pelé ainda jogava, a revista achou por bem nomeá-lo, hors concours. Fora de concurso ou Fora de Série.
Eram platônicos ou silenciosos os amores. No panteão que erigi das minhas paixões platônicas junto ao Corpo Docente Feminino, que passou diante de mim, uma foi hors councors. As outras se digladiavam, sem que soubessem, por posições lá no meu coração, o que confesso, dependia de um meio ponto aqui, outro ali.
Hoje nos vamos ter uma aula diferente, ela anunciou.
Aula de Inglês. Ela tinha acabado de entrar e junto com os livros trouxe uma vitrolinha, daqueles modelos que a caixa de som era também a tampa.
Alguém aí pode montar para mim a vitrola enquanto eu faço a chamada ? ela pediu.
Olhei em volta ninguém se habilitou. Me ofereci.
Pedro ! ela, Por favor ! e sorriu.
Ela era no meu ranking de paixões platônicas junto ao Corpo Docente Feminino da escola a terceira colocada, naquele período. Mas aquele Pedro Por favor acabara de dar à ela a segunda colocação. Só lembrando, sou escorpiniano ortodoxo, sorrisos e por favor, contam pontos, são abraços na alma.
Depois de montar a vitrola ela me passou um compacto, para que eu o colocasse no prato. Aretha Franklin, "Until...." , não terminei de ler o título da música. Me distraí com umas palavras escritas à esferográfica num dos cantos de um outro compacto que estava junto ao livros. Era dos Rolling Stones. E a embalagem era diferente dos compactos brasileiros. Um material mais bem cuidado. Aí aquela dedicatória me chamou atenção e o nome da música cujas palavras do título eu sabia a tradução.
"Rosana
If you really want
to be my friend
i´m here
Love you
João"
If you really want
to be my friend
i´m here
Love you
João"
Baixou um ciúme. Uma coisa na boca do estômago.Mas o cara era legal, e corajoso, se declarava daquele jeito. E ela era bacana, andava para lá e para cá com o presente dado.
Mas guardei, muitas meninas gostavam dos Stones, até as professoras, dar presente era legal e dedicatórias eram benvindas.
A aula.
Alguém aqui conhece Aretha Franklin ? Ela.
Olhei em volta, ninguém, levantei a mão.
O Pedro, ela sorriu de novo.
"Until you come back to me, alguém já ouviu ? ela.
Olhei em volta, ninguém. Levantei a mão. E ainda complementei que a música era do Stevie Wonder.
O Pedro, ela sorriu bonito, e ainda sabe o autor.
Alguém lá do fundo falou. O Pedro vai ser poeta, conhece essas coisas melosas.
O Pedro vai ser poeta, conhecer mais coisas "melosas" e encantar bastante ! E talvez nos esquecer ! ela me dando um sorriso. Primeiro lugar naquela tarde. E várias semanas em primeiro como na parada daquela revista americana, a Billboard.
Lembro dela vez em quando. Quando fugiu para a Inglaterra, onde ela também foi um certo ano para intercâmbio, meu amigo Nelson Brito me mostrou um disco dos muitos do Stones que ele tinha. E em especial ele queria que eu ouvisse, acompanhando a letra, "If you really want to be my friend". Era a segunda vez que me emocionava com a música. Preparando esta série aqui, para esse humilde espaço, na semana passada na madrugada a ouvi. Sucumbi.
Espero que o João ainda mande presentes com dedicatórias para ela. Ou algum aluno Pedro se lembre dela vez em quando. Esquecer? eis aqui uma resposta.
pequena informação; os backing vocals são do Blue Magic.takeopareo !
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