sábado, 30 de janeiro de 2010

Enquanto isso em Londrina

Quando fui incentivado a criar esse blog, pensei que não faria um diário pessoal. Não consigo. Familiares, amigos, colegas, sempre aparecem por aqui nos meus relatos. Encontros e reencontros são comemorados por aqui. Pensei também que olharia mais para o futuro, isto também não ocorre, mas é outra questão para ser tratada com um terapeuta. Escreveria também sobre vários assuntos do meu interesse. Mas acabo sempre escrevendo sobre música e de como, através dos que me cercam, ela influencia minha vida.Tenho inveja dos blogs que leio, que trazem leveza e conhecimento na medida. Dito isto só para informar, que não deu para fugir. Mais um post pessoal, bem pessoal.

Londrina - Verão 2010

Osmar, Pedro e Paulo

Não consigo ouvir J.J. Jonhson, Raul de Souza, intrumentos de sopros em bandas ou gafieiras, sem lembrar dos solos de boca do meu pai.
Ouvir Angela Maria, Nelson Gonçalves, desembocando em Joe Williams ou a gravação de Ray Conniff para Strangers in paradise, é impossível não lembrar no Tio Paulo, isso sem dar uma parada na sala da casa de minha avó Rosa, onde ela mantinha uma foto dele, em apresentação numa rádio londrinense.
E todo vez que ouço Cristina Buarque de Holanda cantando Quantas lágrimas, do portelense Manacéa, penso no meu Tio Osmar participando da gravação ou nos contando detalhes da convivência com o pessoal do Trio Mocotó, Originais do Samba, entre outros.
Os movimentos negros costumam reclamar da falta de referências na cultura brasileira para as crianças negras.
Para mim bastava olhar ao redor: avós, pais, tios, tias, irmãos,primos e primas deram-me material suficiente para aguçar minha curiosidade no mundo. Era ver a Dulcinéia, se preparando para o vestibular e explicando qual era o caminho. Era mexer nos discos de Agnaldo Timóteo, Renato e seus Blue Caps dos filhos da tia Dita. Era passar na casa da Tia Dair, ainda não entendo o porquê do apelido da Rosa Dair ser "Coquico", e sair para pescar com o Tio Salvador e o João Carlos. Ou ver o Beto na tv jogando pelo Contilex, ou vê-lo na saída do VGD, com o par de chuteiras na mão. Ou passar algumas noites na casa do Tio Zeze e Tia Ignes, namorando a coleção Tesouro da juventude, dos primos José Antônio e Luis Claudio. Ou a risada do Zé da Tia Cida, que deu a trombada de carro mais ridícula que eu vi na vida. Era só olhar ao redor.
Não disassocio meu sorriso do deles e nem o fato de apreciar, amizades, encontros, futebol, música e mulher bonita, não nessa ordem.

"Bença Pai, Bença Tios !"


Roda de Sábado





terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A noite toda - filme visto


Versões e adaptações das obras de Shakespeare há aos montes por aí. Eu mesmo já perdi o fôlego com algumas delas. Só para citar , os "Romeu e Julieta" de Antunes Filho no Sesc Consolação com toda trilha com músicas dos Beatles. A versão quase circense do Teatro Galpão, grupo mineiro, no centro velho de São Paulo.
Andando e fuçando nos sebos do centro paulistano, topei com esse, A Noite Toda (All night long), filme de 1961 do diretor, Basil Dearden. A sinopse entrega a adaptação para "Othelo". E acrescenta, "ambientado na enfumaçada cena do jazz..", o que já me interessou, também o fato de ser em preto e branco. E depois duas fotos pequenas da contracapa, aguçaram a curiosidade, Charles Mingus e Dave Brubeck. Sim eles estão no filme, atuam e tocam, em breves passagens, ajudando a criar o clima para a trama.
Aqui, o "Othelo"(Aurelius) enciumado e instigado pelo amigo é músico de jazz, "Desdêmona"(Delia) crooner e o intrigante "Iago"(Johnny Cousin) baterista de uma das bandas do clube onde se ambienta a versão.
Além de Mingus e Brubeck na formação das bandas estão músicos ingleses como Kenny Naper, Tubby Hayes , Colin Purbrook, entre outros. E como dono do clube, o diretor e ator Richard Attenborough, que só para dar dois exemplos, dirigiu o premiado "Gandhi" e trabalhou como ator em "Parque dos dinossauros", de Spielberg.
Chegando em casa descobri, que o preço pago era bom e que em alguns sites o filme está indisponível. Não é nenhuma obra prima. Mas é diferente e boa diversão.



Auto censura

Era um texto sobre lembranças e reencontro, Querida Alice. Mas me bateu vergonha e apaguei o texto.

Era uma visita breve à Carandiru, Vila Paiva e Vila Guilherme. Uma pequena excursão por ruas ,escolas e casas. Rostos e nomes. Passando pela visão de você na cantina do colégio, de meu colega pedindo a tradução de duas músicas, Elton John, um certo bailinho de um dezembro, do ano que você trocou de escola, e de nossa única dança, por incrivel que pareça por conta de uma música do Yes, até desembocar no encontro recente na estação do metrô.
Tento recuperar a letra e a música do Yes, que você disse se lembrar da melodia e nunca mais tê-la ouvido, e que também nunca soube o nome dela. Chama-se Yesterday and Today, e é complicadinha de postar aqui. Vá lá, por você não ter me dado tábua.
Era sobre isso o texto, bateu vergonha. Mas promessa é dívida. Texto curto.
Vamos resgatar o Maurício, o colega que achava você a cara da letra Tiny Dancer, aquele que deixou na porta da casa de sua mãe na Rua Imperador as letras traduzidas por mim. Aquele que levou naquele bailinho, nos bolsos as letras mas, passou a noite sei lá, divagando. Enfim era meio sobre isso o outro texto. Talvez como eu ontem apagando o texto, ele também teve vergonha.
E foi bom te rever, Querida Alice.

Sorte para sempre.





Why is there you when there are few people around making me feel good?
Why is there me when air is free, some I can see better than I should?
There's only us simply because thinking of us makes us both happy.
I think of you ev'ry way, yesterday and today.
I think of things that we do, all the way, ev'ry day.

Stand in the sea, sing songs for me, sing happily, making me feel good.
Watching your eyes, feeling your sighs, saying goodbyes better than I could.
There's only us simply because thinking of us makes us both happy.
I think of you ev'ry way, yesterday and today.
I think of nothing but you, things we do, things we do.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Pequeno Recado ao Davi



Davi

você que ganha luz amanhã, saiba que aqui nós temos a Xuxa e similares, que levam toda semana ao seus programas os mesmos, os de sempre, as Ivetes, os Zezés di Camargo,aquela "turminha", sem novidades.
Mas, há coisas interessantes por aí, e na medida do possível o tio Pedro aqui vai demonstrar para você.
Ah, e cuidado com aqueles seu tios, que torcem para aqueles "outros times", o tio Pedro aqui, e o seu pai Edu, vamos tomar conta disso.
Seja Benvindo !!!



quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Obrigado e Descansem

Teddy Pendergrass


Para um "neguinho" brasileiro se situar depois de ter ouvido Tim Maia, Jorge, então Ben, Cassiano, fatalmente ele desembocaria no soul americano com seus muitos nomes e muitos grupos, o Harold Melvin and The Blue Notes era um deles e tinha Teddy Pendergrass no vocal principal.
Teddy Pendergrass, foi baterista do The Cadillacs.Recebeu um convite de Harold Melvin para ser a voz lider do grupo do moço,o The Blue Notes, e claro, é dele a voz dos principais sucessos do grupo, como "If you don't know me by now","Don't leave this this way", "The love I lost" e "Wake up everybody", cujo clip vi numa tarde de sábado na tv brasileira.
Depois de brigar com Harold Melvin partiu para carreira solo. Ainda desfrutou das benesses do sucesso. Sofreu um acidente e ficou paraplégico mas não parou de trabalhar, cantar e produzir. Sem a voz bem colocada dele, Harold Melvin and The Blue Notes ainda se apresenta por aí. Teddy Pendergrass, batalhava contra um câncer e perdeu a batalha hoje. Para um "neguinho" brasileiro que o imitava no banheiro, uma sensação chata,sempre presente nestas ocasiões e Thanks Teddy !



Zilda Arns

A capital do Haiti, Porto Príncipe é tomada por gangues, muito por conta da falta de comprometimento do estado com a população.
Regis Resing, repórter e o rapper brasileiro MV Bill foram lá o ano passado. Da visita resultou um breve documentário para o Sportv. Lá pelas tantas, para amenizar o ódio entre duas gangues, resolveram realizar um jogo de futebol entre elas. Se o começo foi temeroso, o resto da partida mostrou quando um diálogo e boa vontade podem resolver muitas situações.
A pior parte foi acompanhar os soldados brasileiros, da Força de Paz da ONU, que estão por lá, distribuindo o pouco alimento para a população.
Muitos que passaram horas na enorme fila, não conseguem levar para casa, um lata de leite em pó sequer. Muitas mães, depois de saírem da fila, se encaminham até poças enlameadas e é de lá que pegam o alimento para os filhos. Fazem uma mistura da lama com manteiga ou sal e dão para aplacar a fome dos pequenos. È assim que muitos "sobrevivem". O Haiti tem 80% da população abaixo da linha da pobreza.
A médica sanitarista Zilda Arns estava no Haiti para demonstar em parte, o sucesso do seu trabalho com a erradicação em parte da desnutrição de crianças em outras partes do mundo, com situação semelhantes as do Haiti. Não deu tempo.
No meio do ano passado ela era uma das possíveis indicadas para o Prêmio Nobel da Paz. Também não deu. O premiado foi aquele que depois enfiou mais alguns soldados no território do Afeganistão.
Talvez não conhecesse a frase de Bob Marley mas, a Doutora Zilda Arns parecia encarnar os versos do músico jamaicano, que dizem mais ou menos assim, " As pessoas que tentam tornar este mundo pior. Não tiram um dia de folga. Porque eu vou tirar ?"







quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Como quem não quer nada


De mansinho. Ano novo. O chapéu novo, e o corte de cabelo com a máquina 1 me deixa parecido com um sambista da velha guarda de alguma escola de samba. lendo tchekhov em pleno verão, fica estranho, algumas daquelas cenas passadas sob neve, e eu, diante de calções, bermudas e biquinis. aí resolvi começar assim. ah e esperando a chegada do Davi, verão que promete.torcendo por respeito sempre.



e a trilha do vídeo, com a banda escocesa, mogwai



"Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanhe,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de Janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


Carlos Drummond de Andrade