sexta-feira, 19 de junho de 2009

Dois poemas Márcia e Manoel

O poema nasceu numa folha de embrulho rosa. Nasceu da memória de um dezembro e de quintais vistos. Era para se chamar, Tempo de mangas, mudei para,Natal em família. Professores da área de português do colégio em que estudava, acharam que o texto cometido, tinha um certo, valor. O maior incentivador, ali e depois, foi Manoel Cardoso.
O poema exposto aos colegas de colégio, e até a análise dele numa classe que não era a minha, me colocaram um sabor diferente na boca. Ganhei o concurso escolar com o poema. E logo em seguida, em reuniões regadas à violão e canções da MPB, soube que Márcia Pescuma, uma das mulheres mais lindas que já vi na minha vida, inteligência e fina ironia e umas das tetéias do colégio ia musicar o dito. Se ela ia fazer isto, eu só podia ficar mais metido e insuportável, como ainda sou toda vez que me lembro dela. Fui para o mundo.
Cardoso e Márcia também. Márcia vejo em nacos de avisos na internet. O Cardoso reapareceu dia desses. Em relatos breves, confusos e preucupantes, logo dissipados, ao reouvir a fala brasileira, nordestina e com gosto de delícias caseiras. Não gosta de Orkut, blogs, essas coisas, paciência Mestre. Aqui dois poemas de livros recentes publicados por ele. A palava está de volta. A Márcia eu acho na internet. Ajuntando os pedaços da memória com a vida nova, pode ser, poema novo.

explorando Ínvias Veredas
ouvindo gritos em Translúcido Silêncio

É preciso esfacelar
essa campânula
que aprisiona o silêncio
é preciso deixá-lo fluir
do mais profundo existir
trazê-lo às aglomerações
às ruas e às praças
distribuí-lo ao que carecem
de encontrar a própria alma

é necessário o calar-se
é necessária a sintonia
do mundo aberto:
planície e montanhas
metrópole e sertão e litoral

urge escutar as secretas vozes
esmagadas pelo burburinho
pelo atrito das máquinas da cidade
in,
Translúcido Silêncio, Ed. Scortecci 2003


Te digo, ouve bem
somos feitos de palavras
se a elas nos apegarmos
e as transformarmos em armas
teremos o mundo aos pés

é preciso armar metáforas
que trasportam muito mais
que o trivial sem sentido
palavra mata, liberta
se as detonarmos em hora certa
Criemos elipse, hipérboles
apostrofemos o eterno
palavra além do enleio
é prece, é força, é grito

trecho in, Ínvias Veredas, 2007



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