Navegando pelo internet achei essa foto aí de cima, do Restaurante Rodeio, publicada no blog do Estadão, Paladar. Dei algumas olhadas para confirmar o que meu coração, já dizia do que se tratava. Sim é o restaurante Rodeio de Londrina. As janelas do lado, as janelas acima do Edifício Cinza e o degraus que dão para dentro do restaurante.
Mas o que mais chamou minha atenção e apertou meu coração, está no canto esquerdo da foto, aquele restinho da lata da banca de jornal em frente ao restaurante. A lata dela hoje é das modernas, e o dono, claro é outro. Mas ela, com lata mais simples, foi frequentada por mim, dos 7 ao 14 anos. E o dono era outro. Seu Pedro, meu pai.
Presença minha ali que fez com Beto Fróes da Motta batizasse a estátua de gesso de um jornaleiro, para as atividades da aula de Educação Artística de Pedrão,assim que a professora pediu que ele desse um nome à ela.
Foi de dentro dela que vi algumas vezes Alvaro Dias, então locutor de rádio e amigo dos meus primos, filhos da Tia Dita, passar em direção à Rádio Atalaia, para apresentar seu programa, que seria ouvido pela minha irmã, vizinhas e outras moçoilas londrinenses.
Foi de dentro dela que vi, Mário Stamm, candidato da Arena derrotado, cumprimentar meu pai antes de cumprimentar Dalton Paranágua, vitorioso do MDB, que estava acompanhado da filha, que se interessou mais por uma revista de gibi nova exposta por nós. Esse gibi, Turma da Mônica é bom mesmo ? e depois de ouvir minha resposta. Você estuda no meu colégio. Você fez um gol naqueles moleques lá do Hugo Simas. Tinha feito mas mantive a pose, diante das autoridades presentes embora quisesse dizer, Fui eu mesmo e que tal largarmos esses paspalhos falando de política aí e irmos até o Cine Vila Rica.
Foi de dentro dela que vi passar pela calçada, Sucupira antes de ir para o Corinthians, jogar com Rivellino. Foi dali que vi passar Zé Roberto, Pescuma, antes da Portuguesa, e antes que um amigo, Zé Amaral, já em São Paulo e então único torcedor luso conhecido por mim,me diria se tratar de um primo de uma colega do colégio e Tião Abatiá, antes do Coritiba e antes também da Portuguesa e das confusões de sua vida futura. Tião Abatiá que ganharia até personagem na Revista do Zé Carioca, como Tião Abaterá, lida por mim ali, naquela banca.
De onde olhando para os degraus do restaurante, vi Neneca, único jogador que Iran Melo se lembra do Londrina, entrar no restaurante e ser aplaudido de pé pelos frequentadores, por ter dias antes denunciado apostadores da loteria esportiva, que tentaram suborná-lo, para entregar o jogo contra o Paranavaí. Ele não só entregou os sujeitos, como fechou o gol na vitória do Londrina, todo de branco, contra o Paranavaí todo de vermelho, vencer por 4 x 0, com gols de Carlos Cesar (2), Gauchinho e Canhoto. Neneca que ao fim do jogo diria aos microfones da Paiquerê. Prefiro minha vida simples na Vila Casone, sem saber que ele sairia sim de Vila Casone, para diante do poderoso Palmeiras ser campeão Brasileiro pelo Guarani em 1978.
De onde corri para a porta do Bourbon Hotel que fica na mesma calçada pouco acima, para ver o time do Cruzeiro com Tostão, Raul, Piazza, Dirceu Lopes, desfilar antes de enfrentar o Londrina no VGD, Estádio Vitorino Gonçalves Dias, jogo que vi ao lado do meu irmão e do meu pai por conta de ingressos dados por... Tostão.
De onde eu vi reaparecer na vida da família do meu pai o Tio "Gé", que se chama Eduardo e andava sumido em anos, deixar de ser a "lenda" nomeada por mim e pelo meu primo Zé Antônio e dar outra cor na fala de minha vó Rosa.
De onde vi chegar uns sujeitos mal- encarados interpelar meu pai em discussão um pouco alterada,sobre, depósito e exposição de certas "publicações" que já estavam recolhidas em outras bancas da cidade e do país, e depois levarem o material apreendido, embora tenham deixado umas em embalagens plastificadas, que aguçavam minha curiosidade pré puberdade. Que me fizeram ver que as meninas da New Girl só pareciam ter um seio. E que Brigitte Bardot, em nus frontais, numa revista cujas palavras se alimentavam de consoantes uma ao lado da outra, me deixou tão encantado, que distraído esqueci meu pai, que só não me pegou no flagra porque escondi a dita na mala da escola. Que foi outro alvoroço quando cheguei no colégio e causou discussão acalorada sobre a existência daqueles pelos pubianos em outras mulheres pelo mundo. Discussão que acabou na diretoria com o diretor brandindo a revista retirada de minhas mãos. E se fosse a mãe de vocês ? No que Marcelo Farid retrucou baixinho. Peluda assim, não é minha mãe mesmo.
De onde eu saia a pé para qualquer ponto da cidade. Aos cinemas, ao estádio, ao colégio,para a biblioteca, a igreja, para o "Bosque",casa dos amigos ou de volta para minha casa, descendo a Professor João Candido, contando os quarteirões e olhando àrvores e pessoas, cumprimnentando as conhecidas e sorrindo sómente para outras.
De onde eu podia ver, uma moça morena bonita, que trabalhava na padaria ao lado do restaurante, e que me presenteava com deliciosos doces, esperar pelo namorado. E observando-a, fui sedimentando os silêncios diante da presença feminina.
De onde eu podia ver passar em trajes civis, Denise Weiss, longe do uniforme do nosso colégio, passar para o inglês, cinema, encontro com amigas. Acenando e falando, Oi, ou me apresentando assim para as amigas. Esse é o Pedro, ele é da minha classe, lê, vai ao cinema e escreveu uma redação bonita e ouve a Cruzeiro do Sul. Que eu respondi com sorriso tímido, embora quisesse dizer. Eu mesmo, que tal se largassemos essas suas amigas aí e fugíssemos para Bela Vista do Paraíso. Não disse.
e se o autor(a) da foto tivesse registrado as àrvores em frente ao restaurante. Teria mostrado parte do que resta das que foram plantadas, no começo da cidade, por um mineiro, filho de portugueses, casado com uma baiana de nome Maria e que levou os Novaes do Estado de São Paulo para o norte do Paraná.Teria mostrado o que os livros de história da cidade não contam, que parte das àrvores do centro da cidade, foram plantadas por esse mineiro baixinho. Teria fotografado as àrvores plantadas por Augusto Antunes de Carvalho, meu avô.
tudo isso só de ver essa foto aí.
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