"Que se sustente, meu deus....Uma coisinha de nada, mas com estilo" Francis Ponge
terça-feira, 23 de junho de 2009
Soar de vuvuzelas
1.
Quando as seleções africanas,começaram a aparecer com mais frequência em disputas oficiais mais clássicas do futebol, os comentaristas Milton Peruzzi, Geraldo Bretas, Mauro Pinheiro e Dalmo Pessoa, ainda chamavam os jogadores negros, mesmo os daqui, de "coloured", expressão que me remetia para as reportagens, das quais me lembravam, em fotos em revistas como, Cruzeiro, Manchete e Realidade, e que me mostravam fotos de estabelecimentos comerciais em cidades americanas, durante os conflitos pelos direitos civis, que tinham placas com essa palavra, eram, "Not coloreud" ou "For only coloured".
Fora o uso ainda dessa expressão, entre risinhos, os jogadores africanos eram tratados de ingênuos, infantis, "não tinham as manhas !", diziam. Manha no caso, era a malandragem, a gana pela vitória. Eles queriam era mais se divertir mesmo. Estar numa disputas como aquelas, já significam vitórias impensáveis.
Quando as seleções de base africanas começaram a disputar e a ganhar os torneios para os quais eram onvidadas, começaram à surgir fraudes, como adulteração de documentos dos atletas. Bastou para toda e qualquer seleção ficar sobre suspeita, a cada vitória sobre alguma equipe de mais "tradição". E bastou para que cada jogador africano ganhar alcunha eterna de "gato". A "boa" e "vigilante" imprensa brasileira, se manisfetou, claro. Como se nós nunca tívéssemos adulterado uma carterinha escolar ou assemelhados. Mas os africanos não tinham as manhas, e deveriam ser punidos.
Agora a FIFA, por conta dos torcedores sulafricanos, pensa em proibir a vuvuzela. Vuvuzela, popularmente falando é uma corneta. Soprada o tempo todo pelos torcedores faz mesmo um barulho infernal. Para a FIFA, a vuvuzela nos estádios, é pior do que morte por conta de futebol, estádio sem conforto, inseguranças. Recentemente a torcida do Palmeiras na Libertadores usou apitos no Parque Antártica e a torcida do Internacional infernizou os jogadores do Flamengo com fogos de artifícios, diante do hotel onde a delegação se hospedava mas, isso é a manha. A "boa" e "vigilante" imprensa brasileira, resolveu meter bedelho. Usou até a palavra "cultura" e chamou de "esquisita" a manifestação dos torcedores, essa gente desaculturada na visão deles.
Há um ano da Copa, falta muito respeito ainda para com as manifestações dos africanos e com a presença deles nessas disputas. Um pouco de tolerância faria bem.
Hey coloureds soprem suas vuvuzelas !!!
2.
Na mesma semana em que Glória Coelho e outros estilistas, teve que engolir golea abaixo, modelos negros na São Paulo Fashion Week.
Na mesma semana que o jornalista Elio Gaspari em artigo na Folha confirma, que os estudantes que tiveram acesso à faculdades através de cotas, tem igual ou melhores notas, que os estudantes com outro tipo de acesso, em detrimento daquela afirmação de eles não teriam como acompanhar o currículo apresentados pelas instituições.
O Estadão publicou estudo que comprova que mais de 90% de pessoas ligadas à educação no Brasil, não toleram conviver com negros, pardos e deficientes.
Será preciso muito soar de vuvuzelas para acordar essa gente.
3.
Dona Benê
A primeira e única vez em que ela foi à um estádio, foi para tomar conta da neta mais velha, a Amany. Foi acompanhada de marido, filhos e amigos. Se instalou nas arquibancadas do Pacaembu, perto da "Turma da Curvinha".
O árbrito do jogo foi João Paulo Araújo, um negro alto e desengonçado. Na primeira não marcação de uma suposta falta, o torcedor à nossa frente, com a manha e nossa "cultura" dos estádios, vaticinou.
_ Seu negro filho da puta !!
Um "Ai gente !!", espremido em voz de soprano saiu da voz dela.
A cena seguinte não é muito clara na minha cabeça. Talvez o rapaz, tenha se virado para ela e meio envergonhado e tenha dito um, "Desculpa aí dona !", mas é nebulosa minha memória, porque aquele xingamento em mim, com ela ali, com minha sobrinha no colo, doeu como chibatada ancestral. E me levou para alguns quarteirões acima dali, na PUC, onde ela frequentou sala e corredores e se formou depois dos 60,onde também defenderia tese de mestrado, ironia aqui, sobre o histórico de mulheres negras, pouco vista por esse escriba por conta de outra nebulosidade. A das lágrimas.
No domingo, enquanto a seleção brasileira, na terra de Bafana Bafana, arrasava a Itália, e às vesperas dos 78 anos, comemorados ontem em pequena comilança familiar, ela se aventurava em mais um vestibular.
Essa merece um soar um vuvuzelas.
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