sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Mexendo nos vinis - Warne Marsh



o atendente do sebo em pinheiros era atencioso. tinha boa conversa. nossos assuntos ultrapassavam o musical. poesia, filmes, fotografia, filosofia, playboy x hustler, john holmes x long dong silver, pinball x jogão de botão, careca x serginho chulapa e naquele momento, jânio x fernando henrique. nossas conversas chamavam a atenção de algumas freguesas que em muitas ocasiões formaram ao nosso redor uma roda e ainda saboreavam o vinho branco que ele guardava no frigobar. percebemos também que os vestidos curtos e as minissaias estavam de volta e que o uso de sutiã era opcional. e talvez se adauto novaes tivesse passado por lá, nos tivesse convidado para os seminários que criaria um ano e meio depois. o assunto rolando e música no prato do aparelho da loja. bandas europeias, africanos, música clássica.
ele, vinicíus, achava que eu gostava de umas coisas diferentes. e eu devia levar aquele disco, mesmo não conhecendo os instrumentistas mas pelos produtores, donald fagen e walter becker, vigas mestras do steely dan.
e nunca tinha ouvido falar mesmo em pete christilieb ou warne marsh. mas gostei de apogee, o título do disco. o som do disco encantou a todos na loja e vinicius marcou mais um ponto. ele gostava da formação do disco, christilieb e marsh tocavam sax tenor e dialogavam em todas faixas do disco acompanhados por baixo piano e bateria. em dias mais ou menos ensolarados da alma assovio inteiras, magma ou rapunzel, faixas do disco. mesmo em aparelho de som mequetrefe o som continua bom. há algum tempo fazendo um freelancer para uma revista de audio, levei o disco para uma equalização de aparelhos, ele voltou a impressionar.
mas não ouvi mais falar em warne marsh ou pete christilieb, nem se realizaram outros trabalhos juntos. passei a achar o disco um delírio de meus sonhos, duvidei da existência do vinícius, das moças na loja, da minha vida naquele período. o sebo fechou as portas, fiz duas grandes burradas em minha vida, isolei o disco numa memória menos sofrida.
só recentemente voltei a ler sobre warne marsh . foi no blog do érico cordeiro, sugerido em link pelo sidnei brito, o JAZZ + BOSSA + BARATOS OUTROS . me empolguei novamente. resolvi ler um pouco mais sobre ele, soube do trabalho dele com lee konitz, lennie tristano, encontrei muito assunto, confirmava-se sua existência. faltava eu mexendo nos vinis encontrar o exemplar que ainda guardo com o selo do sebo, respirar fundo e comemorar com um vinho branco em homenagem ao vinicius e suas frequesas.





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