Do que ele lembra. lembra dos discos e do violão da dona da casa e do irmão dela. das pessoas espalhadas no chão e no sofá. lembra das duas músicas que ele cantou, "chuva" do paulinho da viola e "faça seu jogo" do lo borges.
lembra que falou do clube da esquina, lo e beto guedes, no que aquela menina que ele andava vendo no corredor do colégio olhando para ele e o novo amigo dele, duvidou da existência do cantor.
aquela menina que ele via no corredor. e que tinha certeza que estava tendo alguma coisa com aquele amigo novo dele. o amigo era discreto, ele achava. devia querer que a situação não causasse inveja nas pessoas. só estava esperando o dia em que ele chegaria com aquela maneira peculiar de chamar a atenção; "meu chapa, tem uma menina na outra classe...!", e então ele finalmente falaria dela. ele só, quando ela olhava, sorria em boca chiusa e levantava a sobrancelhas em respeito ao novo amigo.
quando ele foi saindo ela também disse que estava saindo, ele lembra. lembra que no curto caminho da casa da amiga em comum na cassio de almeida até a praça oscar, até falar a frase final, ela fez uma pergunta, duas observações e falou duas vezes um "hã?" porque não tinha entendido a única frase dele naquela caminhada. frase que pedia para ela ficar do lado de dentro da calçada. ele então pediu desculpas mentalmente para aquele novo amigo dele, pegou na cintura dela e a colocou do lado de dentro da calçada. ela sorriu apertando o olhos e ele ficou com inveja daquele novo amigo.
quando chegaram na praça ela foi revirando o caderno que levava. o perfume dela pareceu tomar a tarde na praça. ele sentiu uma saudade do nada. uma saudade que vinha com uma tristeza junto. ela estendeu um papelzinho para ele. "Então Pedrão....pode ler!". Aquela saudade e aquela tristeza aumentaram no coração dele. ela deu um beijo no rosto dele, atravessou apressada a rua, a praça, a maria candida. ele lembrou que não gostava de ver as costas de quem parte enquanto ela sumia pelo estacionamento do supermercado. envolto pela nuvem de perfume dela , que ele saberia mais tarde que era a mistura de três. ele foi abrindo devagar o papelzinho.
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