quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Lembranças de tardes quentes 3

O ano em que fizeram contato









 a mãe havia dito quase um ano antes; "tem um menino lá que quando você o conhecer não o larga mais !".

aquela menina que ele via no corredor quase no mesmo período mas andando com ele pela rua maria cândida também afirmava; "vocês serão amigos para sempre ". outras meninas, outros meninos ao longo dos anos  repetiriam a mesma frase.

o menino o convidou depois de um tempo para conhecer alguns discos que havia comprado. avisava que tinha um aparelho 3 em 1, "tem até rádio fm", avisou. marcaram a visita.

da coleção de discos os dois que o menino mais tocava eram aquelas duas coletâneas dos beatles, "a vermelhinha' e a "azul", e acrescentava com o aval do outro menino que também fazia parte do círculo e que fazia parecer que eles seriam um trio para sempre, "tendo estas duas coletâneas, o "rubber soul", o "revolver", o "sgt pepper's" e o "álbum branco" é como se a discografia dos caras estivesse completa".






eles passaram muitas tardes sonhando em volta daquelas coletâneas, do aparelho de som que tinha mesmo rádio fm e do amigo tocando violão se guiando com aqueles cadernos de cifras. o mundo se descortinava diante deles."estudos, canções, e meninas, vai que...." alguém havia dito.






mas ele tinha crescido, se expandia, escrevia seus planos em folhas de caderno, poesia,  tinha conseguido comprar um livro do carlos drummond de andrade, tinha lido emprestado clarice lispector e estudava com afinco as letras dos letristas do clube da esquina.  ele gostava daquelas tardes e sentia que a vida já era diferente. a mãe e a menina do corredor pareciam ter razão. e o sol parecia arder em muitos lugares. um sol que os deixava felizes.

dia destes ele leu que as amizades atualmente não duram muito nas cidades de concreto e nos tempos modernos. nem ligou. ele quis contar os anos que conhece aquele menino que a mãe e a menina falavam que grudaria na pele dele. desistiu. essas coisas não importam mais. eles sabem disso. é por isso que dura. é por isso que cresce toda vez que eles trocam simples palavras, por mais banais que pareçam.


 

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