domingo, 17 de julho de 2011

Leitura de Domingo



[...]Não escrevas poemas de amor; evite a princípio aquelas formas que são muito usuais e muito comuns; são elas as mais difíceis, pois é necessário uma força grande e amadurecida para manisfestar algo de próprio onde há uma profusão de tradições boas, algumas brilhantes. Por isso, resguarde-se dos temas gerais para acolher aqueles que seu próprio cotidiano lhe oferece; descreva suas tristezas, seus desejos, os pensamentos passageiros e a crença em alguma beleza - descreva tudo isso com sinceridade intima, serena, paciente, e utilize, para se expressar, as coisas do seu ambiente, as imagens de seus sonhos e os objetos de sua lembrança. Caso seu cotidiano lhe pareça pobre, não reclame dele, reclame de si mesmo, diga para si mesmo que não é poeta o bastante para evocar suas riquezas; pois para o criador não há nenhuma pobreza e nenhum ambiente pobre, insignificante. Mesmo que estivesse numa prisão, cujos muros não permitissem que nenhum ruídos do mundo chegasse a seus ouvidos, o senhor não teria sempre a sua infância, essa riqueza preciosa, régia, esse tesouro das recordações ? Volte para ela a atenção. Procure trazer à tona as sensações submersas desse passado tão vasto; sua personalidade ganhará firmeza, sua solidão se ampliará e se tornará uma habitação a meia-luz, da qual passa longe o burburinho dos outros.

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Rainer Maria Rilke

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