terça-feira, 7 de julho de 2009

"Beber" o Michael


No interior do Brasil, costuma-se "beber" o morto. Em volta do morto ou de sua casa, bebe-se garrafas de cachaça, de qualquer alambique e conta-se passagens, de preferência as engraçadas, da vida do defunto.
Se morasse no interior do Brasil, Michael Jackson seria "bebido" e os habitantes ririam, do nariz novo dele, da pele nova e de outras palhaçadas.
Mas Michael é americano, e é um dos símbolos da "América". Assim como um dos patrocinadores do mega velório do cantor, a Coca Cola. Cachaça não, ou uísque de alambiques de fundo de quintal do Kentucky. Nada, nem aquelas bandinhas, comum em New Orleans, nada disso, estão "bebendo" Michael com refrigerante diante do mundo, e em vez das passagens engraçadas, ficamos cada vez mais tristes, com a sucessão de desrespeito. Como no livro de Jorge Amado, A morte de Quincas Berro D'água, é a Morte da Morte de Michael.
Além de ingressos para ver defunto, ingressos vendidos à preços exorbitantes, patrocinadores, Ô vida ! ou Ô morte ! o que foi feito daquelas manifestações populares, com filas indianas enormes, circundadas por cerquinhas montadas, para que a população visse pela última vez seus ídolos por segundos.
E aquele nobre sentimento de gratidão, amizade,carinho pela passagem do morto em nossa existência ? Sinais dos tempos. Vende-se sentimentos e lugares em eventos fúnebres, com direito de imagens, transmissões exclusivas e dizem com até show de Mariah Carey, que deve comparecer com um daqueles seus vestidinhos curtinhos, nada contra, mas. A vida Reality Show ou agora, a "morte" reality.
Outra. Morreu enterra, crema e fim de papo. Fiquemos cá nós, com nossas atribuições, dúvidas sobre nossa existência, vida aflitiva e com as boas lembranças da passagem da pessoa, que se vai.
Pagar para ir à um velório ? Nem morto !



Atualizado: recebi duas cutucadas

1. me disseram que foi tudo de bom, o velório. acredito. não sou contra homenagens fúnebres, e certas culturas trabalham este tipo de serviços muito bem. reverenciando mais a vida,acho bonito. e os americanos fazem essas reverências, celebrar em vez de chorar. foi lindo disseram, e não tenho como não acreditar.
2. e que a mariah carey não estava de vestido curtíssimo. aí eu já acho uma pena.

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