terça-feira, 1 de julho de 2008

A democratização da música

Alguns veículos do transporte coletivo paulistano, ainda trazem uma plaquinha que diz, "Proibido o uso de aparelhos sonoros". A lei é dos anos 60. E por aparelhos sonoros, da época, compreenda-se, rádios portáteis, que tinham pouco tempo de invenção.
O aparelho caiu mais no gosto masculino. Eram os homens que carregavam os aparelhos nos coletivos. De quebra, com a popularização maior do futebol, acabavam levando o aparelho para os estádios de futebol. Além de ver o jogo, era preciso ouví-lo, ter uma outra fonte dos fatos, que corrobora-se os lances vistos.
O público feminino, ainda mais em tarefas domésticas, tinha no aparelho portátil, a companhia, para as tardes de novelas, que estavam se transferindo para a televisão e também para o que restava dos programas de auditório. A facilidade de locomoção popularizou ainda mais o o aparelho.
A portabilidade ganharia mais tarde, mais nos anos 80, a companhia dos Walkmans. Eram aparelhos, que na primeira leva, eram somente para a repodrução das gravações em fita cassete. O conjunto com gravador e rádio, só chegaria nos anos 90.
Foi no governo Collor, que alguns eletro-eletrônicos ganharam mais espaço na vida dos brasileiros. Legado de um governo de triste memória, algumas resoluções,deixaram marca. A importação de alguns itens de fabricação, baratearam certos produtos, tais como, vídeo-cassetes, televisores. O perfil do cliente também começava à mudar. Na música, a chegada de uma geração de neo-sertanejos, transformaria o panorama, na música brasileira, e de quebra traria do nordeste ritmos, que só eram conhecidos por lá.
No Rio de Janeiro, longe do padrão da zona sul, tomariam força os bailes funks, dos morros, e da periferia carioca. Um ritmo copiado do que se fazia em termos de música negra americana, mais baseada nos produtores de Miami.
O Plano Real alimenta o poder de compra. Segura a inflação. Ficam mais baratos ainda, os itens para fabricação eletrônica e de informática. O cidadão um pouco mais preparado, já em sua própria casa alimenta `a seu gosto, sua matriz musical. Serve para consumidores e produtores.
Quem se beneficia com isso, são os pequenos produtores dos bailes funks, de forró da Bahia para cima e dos cantores de axé, que pegaram o último trem. Ainda com fama e fome, os neo -sertanejos, tem a companhia dos neo -pagodeiros. Haverá ainda espaço para uma segunda leva nos estilos. Os estilos, para ficarem mais chiques, ganham um carimbo de, "universitário". Porque são eles, os universitários, em número cada vez maior, por muitas razões, que darão fôlego renovado, à esses estilos mais populares.
As letras, dos sertanejos, e principalmente dos forrós da nova ordem, e dos funks já mais estilizados, ganham expressões de duplos sentido,que caem nos gosto da maioria do público. E tomaram conta, que parece que não há caminho de volta.
A modernização eletrônica do país, aprofundou os uso de celulares. a tecnologia, trouxe, os i-pods, os celulares com rádio. Aquela plaquinha dos coletivos, se faz sentido, hoje não tem valor para muita gente. Usam qualquer espaço, para a divulgação dos gostos musicais. E em certas ocasiões,faz -se de karaokê o coletivo.E é uma profusão de funks com cachorras, forrós com teclados e gritinhos e música sertaneja da pior marca.Nada contra a diversidade.
Em artigo recente em seu blog, o crítico Jamari França, dá destaque para o gosto musical de cariocas e paulistanos. Nada que se faça surpreender.Mas ele fala do emburrecimento das massas.O mais chato é como as pessoas não buscam melhorar seu arsenal. Parecem se afundar mais na areia movediça do mal gosto, do que é jogado mastigado para o cidadão.
Se fôssemos um país com uma cultura pobre, faria sentido. Um país que produziu artistas como Villa-Lobos, Tom Jobim, Luiz Gonzaga e Cartola, faz chorar o que nos chega ao ouvidos. Ainda por cima nos coletivos, onde são proibidos aparelhos sonoros.




Elevator Music - filme de Serdar Ferit - Grã Bretanha

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