sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Eu sonhei outro mundo Meu Amor


a mulher à minha frente é linda. e uma coisa leva a outra. ela é linda mas as notícias vindo da fala dela, não as são. ela usa saias bem cortadas e camisas sociais abotoadas até o primeiro botão por debaixo do jaleco com seu nome bordado. enquanto ela fala vou computando, as notícias ruins estão bem no jogo, goleiam por 3 a 1. aí porque talvez não seja a primeira vez que nos vemos, ela brinca como alguém um dia começou a brincar comigo por conta do meu nome. ela larga a pasta dos meus exames me olha e sorri apertando os olhos. eu já estou longe. revejo dentro de mim os amigos, o que foram, o que estão por aí. eu me lembrei de uma menina do colégio me entregando um bilhete uma reviravolta em minha vida. na rua elenco coisas boas e ruins que fiz na vida até agora. coisas boas e ruins que aconteceram. na praça do bairro bacana vejo babás e crianças no dia ensolarado. chego num trecho bonito do livro que leio do Claude Lazmann. penso em como falar com aquela que me atura e volto para a lembrança para família e amigos e a menina do colégio. "eu sonhei outro mundo Meu Amor". por conta do sorriso da médica e pelo fato dela começar as notícias usando meu nome no aumentativo, uma liberdade que ela ganhou.


_ Então Pedrão......!!!




Sartre tinha tudo o que era preciso para seduzir Évelyne, ele a elogiava por razões articuladas, encaixadas, aferrolhadas umas às outras. Ver em ação essa formidável máquina de pensar, aquelas bielas e pistões lubrificados aumentando de potência até o regime máximo, deixava o interlocutor pasmo de admiração, ainda mais se o objetivo dessa lógica irrefutável e apaixonada era elogiar o interlocutor. Os inimigos de Sartre caçoaram de sua feiura, do seu estrabismo, caricaturaram-no como um sapo, gnomo, criatura imunda e maléfica, sei lá que mais... Eu via nele uma beleza, um encanto poderoso, gostava da energia extrema de sua atitude, da sua coragem física e, acima de tudo, daquela voz de aço temperado, encarnação de uma inteligência sem réplica. Portanto não me espantei quando minhas previsões se verificaram e minha irmã começou a amá-lo. Ele, por sua vez, amou-a loucamente.


do livro a Lebre da Patagônia, Claude Lanzmann



ela contou pra ele que o viu no primeiro dia do ano letivo. e que duas amigas de classe falaram dele. ela achava interessante os meninos o chamarem com o nome no aumentativo. mas quando ela ouviu o nome dito por aquele um dos dois meninos que mais circulavam com ele, ela sentiu uma ponta de inveja. e que a primeira certeza de intimidade entre eles foi quando ela pode chamá-lo também no aumentativo, nos bilhetes ou de brincadeira entre eles. ela falou que sentiu uma alegria quando ouvia de alguns professores o nome dele. e que ficou mais alegre quando ele apareceu na casa da amiga naquela tarde de estudo e música. e que enquanto todos falavam em rock'n'roll, ele falava em paulinho da viola, beto guedes, quem? ele insistia no pessoal do clube da esquina e pediu que se prestasse atenção em lo borges e faça seu jogo, que ele cantou com a voz grave um trecho;"eu sonhei outro mundo meu amor", que ela escreveu no caderno. e ela percebeu, lá dentro dela, que ele tinha um olhar triste e sorria pouco. mas foi invejando ainda mais aquele menino, aquele que mais andava com ele, porque podia dividir aquela fala dele, aquelas coisas que ele sabia. mas que ele não deu a menor atenção para ela. e ela começou a rabiscar um bilhete invejoso e pr0vocativo e queria tomar coragem para entregar, chance que ela viu quando ele disse que já ia e ela falou; eu também. e eles foram em silêncio mas ela lembra que ele pegou na cintura dela e a colocou no lado de dentro da calçada, uma coisa atenciosa e educada. uma caminhada curta entre a casa da amiga na cassio de almeida até a praça oscar que ela somou mais tarde como a primeira caminhada deles. ao se despedirem e antes de entregar o bilhete, ela falou pela primeira vez o nome dele no aumentativo; Então Pedrão..!! e deu um beijo no rosto dele. e sem olhar para trás, atravessou a rua, passou pela praça, atravessou a maria candida, entrou no estacionamento do supermercado e só ao chegar na urbano marcondes respirou melhor. mas com uma certeza; "Fiz tudo errado!".


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