a mulher à minha frente é linda. e uma coisa leva a outra. ela é linda mas as notícias vindo da fala dela, não as são. ela usa saias bem cortadas e camisas sociais abotoadas até o primeiro botão por debaixo do jaleco com seu nome bordado. enquanto ela fala vou computando, as notícias ruins estão bem no jogo, goleiam por 3 a 1. aí porque talvez não seja a primeira vez que nos vemos, ela brinca como alguém um dia começou a brincar comigo por conta do meu nome. ela larga a pasta dos meus exames me olha e sorri apertando os olhos. eu já estou longe. revejo dentro de mim os amigos, o que foram, o que estão por aí. eu me lembrei de uma menina do colégio me entregando um bilhete uma reviravolta em minha vida. na rua elenco coisas boas e ruins que fiz na vida até agora. coisas boas e ruins que aconteceram. na praça do bairro bacana vejo babás e crianças no dia ensolarado. chego num trecho bonito do livro que leio do Claude Lazmann. penso em como falar com aquela que me atura e volto para a lembrança para família e amigos e a menina do colégio. "eu sonhei outro mundo Meu Amor". por conta do sorriso da médica e pelo fato dela começar as notícias usando meu nome no aumentativo, uma liberdade que ela ganhou.
_ Então Pedrão......!!!
Sartre tinha tudo o que era preciso para seduzir Évelyne, ele a elogiava por razões articuladas, encaixadas, aferrolhadas umas às outras. Ver em ação essa formidável máquina de pensar, aquelas bielas e pistões lubrificados aumentando de potência até o regime máximo, deixava o interlocutor pasmo de admiração, ainda mais se o objetivo dessa lógica irrefutável e apaixonada era elogiar o interlocutor. Os inimigos de Sartre caçoaram de sua feiura, do seu estrabismo, caricaturaram-no como um sapo, gnomo, criatura imunda e maléfica, sei lá que mais... Eu via nele uma beleza, um encanto poderoso, gostava da energia extrema de sua atitude, da sua coragem física e, acima de tudo, daquela voz de aço temperado, encarnação de uma inteligência sem réplica. Portanto não me espantei quando minhas previsões se verificaram e minha irmã começou a amá-lo. Ele, por sua vez, amou-a loucamente.
do livro a Lebre da Patagônia, Claude Lanzmann
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