sábado, 31 de dezembro de 2011

Que as coisas boas se repitam




Não me lembro de ver algum mistério no Papai Noel. Misteriosa para mim sempre foi a passagem de ano. A colocava entre os três grandes expectativas de minha infância, ao lado da chance de escrever com caneta esferográfica no terceiro ano e a resposta da Denise ao meu bilhete.
Certo é que perdendo a passagem do ano, no dia seguinte eu ficava com a impressão, olhando os rostos das pessoas, que havia perdido um grande evento, uma grande revelação e eu tinha ficado com parte do rescaldo.
Para mim o espetáculo era uma mistura do divino com ficção científica. De formação católica e temente a Deus, eu achava que ELE, abria os céus, fazia um pronunciamento, raios celestiais dizimavam malefícios, um portal se abria e quem estava acordado o atravessava, havia uma mudança corpórea e espiritual, que me faria por exemplo, enfrentar as tarefas da Dona Esmeralda lá do grupo escolar e então seria ano novo do outro lado.
Não sei se não me era permitido ficar acordado ou se eu não aguentava e dormia. Certo é que me lembro da noite em que consegui suportar a passagem e o sentimento que me tomou desde então.
Encarei como todo mundo, aquela euforia, aquela tensão, pressa. Me lembro nitidamente do forno da cozinha lá em casa, sempre quente com assados. Da mesa com seus enfeites, doces coloridos, da minha irmã demorando no banho, minha mãe nos preparos. verificando minhas unhas e orelhas e recomendações, afinal haveria convidados. "Não ponha o dedo no bolo", "Não coma de boca aberta", "Não corra", "Não suje a roupa" e "Não dê petelecos nos seus primos".
Como eu achava que a "coisa" se daria nos céus, fiquei com um pé dentro de casa e outro no quintal com os olhos no céu da noite londrinense. Não queria perder nada.
No momento, a tensão aumentando, fiquei meio dentro e meio fora da casa. Ouvi os gritos de dentro da casa, dos vizinhos, de outras casas, os cães latindo, um galo sei lá e não me lembro de fogos de artifícios. E mais nada. Nada mesmo. Nenhuma ação no céu, nenhum pronunciamento, nenhuma mudança corpórea, nenhuma dizimação por raios celestiais e eu com o mesmo espírito que teria que enfrentar as aulas da Dona Esmeraldo lá no grupo escolar. Fui entrando de novo para a casa, precisava falar com a pessoa que eu achava que teria as respostas para aquele momento, minha mãe.
Fui vencendo os abraços, os cumprimentos, os beijos, vi minha mãe. Ela veio em minha direção com seu sorriso mais aberto. Me deu um abraço caloroso, confortável. Eu queria dizer para ela que tínhamos sido enganados, não tinha acontecido nada. Ela me abraçava forte.
_Pedro Geraldo, filho, Feliz ano Novo.
Eu tinha que contar para ela.
_Mãe, é só isso?
Ela se agachou para ficar na altura dos meus olhos.
_Você gostou? e me abraçou de novo. Quente, confortável.
Aí aconteceu uma coisa. Uma corrente elétrica pelo meu corpo. Eu sabia do que se tratava, era a beleza que me sufoca chegando. Ela entáo falou ao meu ouvido.
_Seja um bom menino!
O pronunciamento Divino tinha chegado através de uma porta-voz.
Não tem pronunciamentos, raios celestiais dizimando malefícios. Sejam Bons Meninos, Boas Meninas, sempre. E tenham força para enfrentarem as Donas Esmeraldas da vida de Vocês.

Um Bom Ano a Todos Vocês , Raros Leitores !!!!!

Um comentário:

Tânia Maria disse...

PelamordeDeus, Pedro Pedrão Geraldo, que texto liiiiiiiiiindo p'ra começar o Ano Novo... Taí: é o Pronunciamento, se realizando pela Internet...

Prossiga assim, como recomendou dona Benê, sendo um bom menino, meu chapa!

Forte Abraço
Zé Amaral