O programa da noite tinha tudo para me deixar mais introspectivo do que eu já me encontrava, apesar do sol estalando de lindo o dia de sábado.
Arrumar espaços para coisas novas às vezes dá uns transtornos emocionais. E motivos foram pulando à minha frente, enquanto arrumava a bagunça de textos espalhados num dos cômodos da minha casa.
Olhar para eles compostos tempos atrás e me lembrar da execução e da inspiração para a forma e conteúdo, me derrubaram. Textos que não me agradaram, emoções fortes expostas daquela forma. Poemas e palavras toscas, precisando de lapidações. Bilhetes, cartas de amigos e colegas que perdi no mundo. Lembretes, desvios, cartas de despedidas, de desculpas, notas de esclarecimentos, reviravoltas de opiniões, tudo e mais junto aos textos de igual complexidade, escritos também de minha parte. Cartas e bilhetes que não mandei. Desculpas, declarações rasgadas, envelhecidas e hoje vistas daqui desse meu futuro, despropositadas.
Com o espírito tonto, ir assistir ao filme A partida, tinha tudo para me deixar mais confuso no fim de semana. O filme trata de um tema triste e doído, a morte. Na verdade o ritual de passagem. A preparação dos corpos para a cerimônia fúnebre.
Daigo Kobayashi é um músico sem orquestra, que volta à sua cidade para tentar viver com um pouco de dignidade. Sensível, tocador de violoncello, acaba indo trabalhar na arrumação de defuntos. O tema que poderia ser pesado, atravessa com leveza a transformação em volta do personagem, na busca pelo seu novo espaço e pelo que ele deixou de ser por conta de outras transformações em sua vida.
O filme dirigido por Yojiro Takita, ganhou o Oscar de filme estrangeiro, e tem em alguns momentos, aqueles argumentos gratuitos e propositais sobre como conquistar platéias. Mas é doce, faz pensar, e em vez da tristeza, traz um agradecimento pela vida. Aos que foram, aos que ficam, para que valorizarem os encontros.
Os velhos textos, as velhas atitudes, a composição de nossas vidas, olhados com olhos do nosso futuro, podem até nos envergonhar, nos deixar triste. Essa vergonha relevada e tardia, deixa um gosto esquisito na boca do estômago. Se desfazer dela, agradecendo por ela ter existido, também.
2 comentários:
Se você recomenda, com certeza eu vou assistir !!!
Bjs. Cricri.
Entrei pelo blog do meu sobrinho por engano, sorry.
Cris
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