Rezam meus olhos quando contemplo a beleza
A beleza é a sombra de Deus no mundo
(Helena Kolody)
Criei um acervo de delicadezas. Está em algum ponto de minha memória.Recorro à ele, quando me encontro tristão, malzão, ou quando alguma grossura, só para ficar numa expressão suave, me é dirigida. Aí, vou ao meu acervo e pesco lá alguma situação onde me sinto tão bem, que só a lembrança dela ter existido em minha vida, já justifique eu ficar melhor, diante da situação negativa.
Essa foto em p&b aí abaixo é um dos itens de minha memória ao qual recorro para me valorizar de vez em quando. E confesso não gosto nada de ser fotografado, devo ter sido convencido pela fotógrafa, com algum dos seus sorrisos de derrubar muralhas. Ela, a foto, quando a mostro para outros amigos é a síntese de minhas amizades ao longo da vida. Todos os amigos estão representados ali, amigos de A a Z. De Amaral à Zé Vieira.
Zé Vieira, ele mesmo, que aí na foto postado ao meio, analisou, `a la Roland Barthes, o filósofo francês, que o punctum da foto é minha postura provocativa em direção à fotógrafa.
Não deve ser. Embora a primeira vez que eu a tenha visto, a fotógrafa, houve um certo constrangimento de minha parte, só de minha parte reafirmo. Me senti como um dos retratados de Debret. Um negro em meio a realeza. Ao vê-la pensei: Eu muito black/ ela muito branca, um verso que seria modificado um tempo depois. Estávamos então, entre pratos azuis de merendas, pajens, e uma revoada de funcionários públicos, uma algazarra, que o sorriso matador dela, fez questão de confirmar, quebrando a formalidade das apresentações e determinando para mim definitivamente, que a beleza tem lá suas tristezas, apesar de fugirmos dela. E eu sem saber, que ali naquele momento estava ganhando mais um item para o meu acervo de delicadezas, item ao qual recorreria algumas vezes.
Pois não é só essa foto que minha memória pega na pasta da Tãnia, a fotógrafa e a mulher da foto abaixo, em algumas situações negativas para levantamento de moral, de tomar aquele sacolejo e pensar, "Peraí, se ela me colocou bacanudo na foto, alguma coisa há". Ou quando uma vez, saímos para almoçar. Ela, marido e eu. O marido então talvez mais faminto, naquele momento do que nós, começou a subir as escadas do restaurante, pulando os degraus, no que ela soltou um, "Esse seu amigo !!". Subimos as escadas devagar. E para lembrar, ela na ocasião carregava uma barriga, de sete ou oito meses, o lépido Gabriel. Chegamos ao alto da escada quase de mãos dadas. Eu muito black/Ela muito branca, olhares curiosos de soslaio sobre nós. Pedi perdão ao amigo, empertiguei o peito, e lá no fundinho do coração, soltei para mim. "Morram invejosos, vou atravessar o restaurante ao lado dessa mulher bonita, não se engasguem !!"
E eu conheço alguns sorrisos matadores dela. Aí Tanitcha !!!!, e desculpas, roubei esta foto.
E Ella Fitzgerald está aqui por conta de um catálogo e ambientação inventada para as fotos de crepúsculos que Tãnia executou. O texto, um dos que mais me orgulho de ter escrito, se perdeu por ai, por conta do meu desleixo. E misturava as fotos dela, Tânia, com Ella, Blue Skyes era uma das músicas que coloquei na trilha da "exposição" inventada.
Por isso, desde já, neste fim de semana tem pajelança especial.
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