Quando os dois flanavam pela ruas paulistanas com seus séquitos, a Tv Cultura começava a exibir o documentário, "A caminho de Memphis", dirigido por Richard Pearce.
História para contar aos netos
O Cruzeiro de Tostão foi jogar em Londrina. Além de Tostão, tinha Raul, Zé Carlos, Piazza, um timaço.
A direção do LEC (Londrina Esporte Clube), aproveitou e majorou os ingressos. O Seo Pedro, meu pai, decretou, sem jogo, a grana era muita.
Depois de algum choro resolvi ficar na porta do hotel onde o time se hospedou em Londrina, que ficava alguns metros da banca de jornal do velho. Além de mim, meu irmão caçula, o Ruy e um funcionário do meu pai, nos instalamos para ver "os caras" sairem para o estádio VGD (Vitorino Gonçalves Dias).
Eles foram saindo um a um. Raul, Zé Carlos, Piazza e por último, Tostão, que foi acompanhado pelo meu olhar até se sentar numa janela do onibus.
Ele abriu a janela e começou a olhar o povo na calçada. Nem reparei mais, tava triste. Aí o funcionário do meu pai me cutucou, O Tostão tá te chamando, o Tostão tá te chamando. Era comigo mesmo. Me aproximei da janela e vi o Tostão de perto, o cara que tinha feito dois contra o Peru, que tinha trocado passes com Rivellino, que tinha driblado os ingleses e tocado para o Pelé e o Pelé tinha passado para o Jairzinho fazer o gol contra a Inglaterra, o cara ali tinha abraçado o Pelé e queria falar comigo, um pivete do Paraná.
_ Como você se chama ?
_ Pedro !
_ Quem é aquele menininho lá ?
_ É o meu irmão, o Ruy !
_ Vocês vão ao jogo ?
_ Meu pai não tem dinheiro !
Aí ele mexeu em alguma coisa lá no colo dele e estendeu dois ingressos para o jogo.
_ É prá você e seu irmão !
_ E o meu pai ?
_ O seu pai paga a dele !
_ Obrigado, muito Obrigado !
_ E se cuida e fica com Deus ! e sorriu.
_ Tchau !
Foi um massacre, Londrina 2 Cruzeiro 4 fora os gols anulados sei lá por qual razão e show de bola, foi a primeira vez que assisti um jogo do Londrina com o coração dividido.
Enquanto flanavam pela cidade, Boni e Neymar com seus séquitos, perderam algumas imagens do documentário de Pearce. Ele faz parte de uma série de sete documentários produzidos por Martim Scorcese sobre o blues. "A caminho de Memphis", mostra como a cidade foi importante para o trabalho de Ike Turner, Rosco Gordon, Rufus Thomas, Little Milton e B. B. King.
B.B. king volta para a cidade de ônibus e depois circula com uma limousine. Relembra seus tempos de rádio.
Mas há uma cena interessante, que quero lembrar aqui.
B.B. King vai saindo para o ônibus, cumprimenta a todos ao redor, sorri, acena, brinca, recebe abraços, retribui e conversa com uma senhora que conta para ele do neto, para quem King havia dado uma palheta algum tempo atrás. E ele ainda manda lembranças para o garoto. Sei lá a razão me lembrei do Tostão lá no interior do Paraná. E me lembrei do Boni com seu helicóptero de 14 lugares e Neymar com seu possante e chegando atrasado.
Ser rico e famoso deve ser legal. Mas ser legal e rico e famoso depende da índole do "cara".
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