quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A vida não é cor de rosa

"A vida não é cor-de-rosa !", descobriu Carolina Dieckman, que resolveu dividir essa descoberta conosco.

(representantes da "gente de bem" desse país)


Acho a Internet uma invenção interessante. Mas com ressalvas e, sinto muito do preconceito camuflado do cidadão nos muitos e-mails, que chegam à minha caixa de mensagens.


Por mais que seja de uma "gente de bem", em certas ocasiões, o mal gosto e a falta de decoro impera. Mas me parece ser também uma reação da população em sua grande parte, infelizmente. Continuo achando, que o problema desse país é mais de educação do que de governo. Aí tome-se emails contra o Lula, O PT, aliás, os grandes "culpados", das desgraças mundiais, desde o Exôdo bíblico, até a construção da ponte Estaiada na zona sul paulistana. Um dos alvos da vez, é a ex-candidata a prefeita da cidade de São Paulo, Marta Suplicy, "puta", foi uma das alcunhas, que "essa gente preparada e bem resolvida", resolveu dar a moça.


Mas um e-mail que me causou ânsia, foi um atribuído à Yves Granda Martins. Também diga-se, tenho desconfianças da maioria dos textos da internet. Há sempre uma modalidade nova de assalto, golpe, enfim, há sempre uma conspiração corrente, da qual precisamos estar atento.


Este texto atribuído ao jurista Yves Gandra, vai nessa linha da "conspiração", da qual precisamos tomar cuidado. E aqui faço uma pausa para explicar o "precisamos". O "precisamos" fala apenas de uma classe, que no momento sem querer, está sendo lesada em seus direitos. Por serem "brancos". Uma gente desfalcada de opções que dá dó.O título do texto é exatamente esse "SE VOCÊ É BRANCO, CUIDE-SE !".


E versa sobre como indígenas, desocupados sem teto, sem terras e negros, tem tomado espaço dos brancos, na sociedade perfeita, que é a sociedade brasileira. Até acho que o texto é mesmo do jurista, pois ele é uns dos signatários do manifesto anti-cotas, que circula no Congresso Nacional, querendo eliminar a questão da "raça", na inclusão universitária, entre outras coisas. É um texto com seus argumentos, diria meu avô.


O interessante, é a posição sempre reclamadora da sociedade e principalmente de gente, que sequer conhece metade das histórias e do drama que é, ser "não branco', numa sociedade, que prefere jogar tudo por debaixo do tapete. Se tem tantos argumentos que a vida anda dura é só dar uma olhada na pesquisa publicada na Folha de S. Paulo (19/11), atestando o já sabido. Que os negros ganham menos, mesmo com a mesma escolaridade que os brancos. A pesquisa diz, "os não brancos". Mas o quinhão é grande e tem muita gente de olho. Qualquer manifestação de melhora de "uns diferentes" deve ser rechaçada. Uma gente que deve tomar "seu lugar".


Sem paternalismo seria melhor. Mas me lembro também, quando caiu o muro de Berlim, e um sociólogo argumentou, que o Brasil, nem sempre experimenta as correntes sociais que regem o mundo. Para ter um Obama como presidente nos Eua, só foi possível muito por conta das tais, "ações afirmativas", que deram para alguns negros a chance para qual se achavam capazes. Aqui nem isso e já há uma grita geral. Como se fosse o fim do mundo, o progresso, a melhoria de vida de outras pessoas. Falta senso de cidadania, coisa que só se consegue mesmo com educação. Pior que argumentos desse tipo no país surgem camuflados em falas quase num chiste. Uma forma perigosa de repressão, uma doença mortal e silenciosa mesmo. Que toma conta quando menos se espera.


Falando nisso este texto me lembrou duas histórias. Uma da minha mãe, recebendo "a visita" de umas "vizinhas", quando nos mudamos para Vila Guilherme. "As senhoras distintas e boa gente", foram mostrar para minha mãe, indefesa e sem saída, como deveríamos nos portar no conjunto habitacional. E outro é do Chico Buarque. Quem teve o prazer de assistir ao documentários em dvds sobre a carreira dele, num certo momento fica triste com ele, se não tem o coração de pedra. Um Chico chorando conta como sua filha Carolina e seu marido Carlinhos Brown, foram expulsos de onde moravam. e pior, uma "gente de bem", escolada, esclarecida, que vive pedindo autógrafo para o cantor.Mas é tudo em nome do "bom andamento do status quo", e é também culpa do Lula, do Pt, da puta da Marta, viu Carolina Dieckman ?



Consciência Negra ? Who cares ? Mas todos adoraram o "feriadão".


No andar de cima


(O samba da consciência negra) - Nei Lopes


Mas pra quê tanto tambor?


Pra quê tanto berimbau?


Não cabe no elevador... Ele é social! (BIS)


A gente precisa ter gente no andar lá de cima


Mas não desse jeito sem jeito que a turma imagina.


A gente tem que ser modelo noutro figurino


As damas no salto e os valetes, no esporte fino

Passando da área de serviço pro meio da sala

Dizendo no pé e na mente, no gesto e na fala

E mesmo se for chamuscado ao por a mão no fogo

A gente precisa aprender toda a regra do jogo.

Mas pra quê tanto tambor?

Pra quê tanto berimbau?

Não cabe no elevador... Ele é social! (BIS)

A gente quer superestar sempre bem colocado

Mas nunca dando de bandeja ou levando recado

Bonito é um povo mostrar a sua resistência

Mas não de chofer ou de armário de S.Excelência.

Bacana é a gente gingar, mas no andar superior

Naquele passo de chefe, magistrado ou senador.

E não é no afrodisíaco rap do logro

Que a gente vai poder botar novas regras no jogo.

Mas pra quê tanto tambor?

Pra quê tanto berimbau?

Não cabe no elevador... Ele é social! (BIS - NA CABEÇA!)

Um comentário:

iendiS disse...

A despeito da bem apontada mania de se atribuir textos fascistóides a pessoas respeitáveis, com o fim de lhes dar credibilidade, o da choradeira acerca do "sofrimento branco" parece ser do Ives Gandra mesmo, haja vista que já foi reproduzido em sites importantes, como o do Luiz Carlos Azenha.
A respeito da pesquisa da Folha, é interessante também o fato de que a maioria esmagadora declara-se não-racista, ao mesmo tempo que admite que existe racismo no país. Quem são, então, os racistas?