sexta-feira, 6 de maio de 2011

Cena 2

sala de aula. três personagens



ela esta com uma camiseta parecida com que a Karen usou para posar na capa de um disco dos Carpenters. O ano que vem ela não estará mais no colégio e eu ainda não sei porque ela me chama atenção, ela não é da minha classe, eu sei onde ela mora, vejo a casa dela no alto da Vila Paiva, dos campinhos do Carandiru, de algumas partes de Vila Guilherme. sei como ela prende o cabelo com elásticos num rabo de cavalo, deixando alguns fios soltos na nuca e uma mecha, que ela coloca atrás da orelha, quase num cacoete. ela anda sempre com outras três. os caras, maiores da classe dela quando conversam com ela parecem se sentirem cheios de si. ela olha nos olhos do interlocutor sempre e pende a cabeça quando vai sorrir, como a Karen Carpenter faz às vezes, como muitas mulheres fazem. os meninos da classe dela dizem que ela gosta de ler e de música. a professora de Educação Artística conversa muito com ela e com as amigas dela. eu já cantei uma música do Blue Magic na classe dela com ela me olhando e acompanhando. a saia do uniforme dela é bem curta. e os seios, talvez cresçam, a camisa branca e tranparente do uniforme revela o modelo do sutiã que ela usa. isso, pensei em algumas praias européias. às vezes sorri prá mim, me cumprimenta, principalmente quando está só com a alice, a melhor amiga dela. a professora de Educação Artistica escreveu uma peça para apresentação no colégio. ela escreveu um papel para mim. é por isso que eu estou aqui, diante da menina que me chama atenção e que também ganhou um papel na peça. ela é filha de uma família que quer apresentá-la para um rico comerciante, eu. os meninos não irão me deixar em paz até o fim da minha vida escolar. mas tem uma cena de dança com ela. a professora pediu que nós esperássemos um pouco mais e foi resolver alguma coisa, eu e ela estamos sózinhos, conversando e mexendo nos discos da professora. ela pergunta se não é melhor a gente ensaiar a dança enquanto a professora não volta, para ganhar tempo. ela coloca o disco dos Carpenters mesmo entre alguns ali. eu peço que ela abra os braços. ela acha estranho mas abre. eu espalmo minhas mãos nas dela. e faço ela me acompanhar no giro no meio da sala. encosto meu rosto no dela. ela afrouxa o corpo, larga uma das minhas mãos devagar e a coloca no meu ombro, a outra entrelaça minha mão.

_ você dança diferente, ela fala, é gostoso.

às vezes queremos que o tempo passe depressa. eu ainda quero ver barbarella com jane fonda no cinema quando fizer 18. quero ver a tão decantada cena da manteiga no filme de bertolucci. quero picar fora dali, quero conhecer gente diferente, gente que não se importe tanto com minhas desajeitadas no mundo. outros lugares. às vezes queremos que o tempo passe em câmera lenta para guardar cada momento. o sorriso, a mexida no cabelo, a mão no corpo magro. às vezes você quer que o tempo pare. para que pequenas vitórias se eternizem.

_ que bom vocês estão ensaiando, a professora voltou. mas a música não é essa!

ela se afasta um pouquinho.

_ ele dança gostoso. ela repete, quase prá ela mesma. ajeitando a mecha atrás da orelha.


ela está vermelha e ainda não largou minha mão?

_ hum, hum. faz a professora.e tem pelo menos uma pessoa aqui que precisa aprender sobre carisma.

você quer que o tempo pare. para comemorar a pequena vitória de um desajeitado.



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