sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Mexendo nos Vinis - Milton Nascimento












é sempre interessante imaginar o que essas crianças estão olhando do outro lado do muro. eu já quis fazer parte da turma. eu também queria "ver o sol atrás do muro" ou correr para pegar meu lugar no futuro.
clube da esquina 2 sucedeu dois discos de boas vendagens de milton nascimento, o minas(1975) e o geraes(1977). milton estava deixando a fama de "difícil" de lado e entrando de cabeça no gosto popular. tinha perdido parte da timidez e gravado duas músicas com chico buarque.
márcio borges, letrista de muitas músicas do cantor, confessa um certo ceticismo com o período, no seu livro "Os sonhos não envelhecem", mostra desconfiança ao ver tantas estrelas no estúdio e o pessol de minas perdendo a mão da produção dos seu trabalhos com tanta badalação. é só dar uma olhada no encarte, ver a foto central e os nomes do convidados só para fazer backing vocal.
o disco abre com uma música de milton que havia sido censurada, credo, com a incidental san vicente. as rádios que interessavam para a garotada em são paulo ainda tinham força na banda am, difusora, excelsior. as duas escolheram músicas diferentes para divulgação. a difusora ficou com canoa, canoa e a excelsior com ruas da cidade, com vocais do lo borges. a eldorado am ainda tocava faixas de um disco lançado no mercado americano, o milton(1976) e radicalizou mais uma vez, como havia feito com os discos anteriores, fêz de um tema do toninho horta, o beijo partido do minas, viver por amor do geraes, sua escolha para a programação e pinçou do disco, dona olímpia.
o maior sucesso do disco só seria apresentado ao público quase um ano e meio depois do lançamento do disco. já com a banda de fm aparecendo como preferência entre o público jovem, maria, maria, segunda faixa do lado b do segundo disco ganha força popular.
o presidente figueiredo prometeu e estava implantando a anistia ampla, geral e irrestrita, os partidos proscritos estavam aos poucos voltando e também estavam surgindo partidos novos.
no abc um metalúrgico chamou a atenção durante a greve da categoria. um partido político foi fundado ao redor daquele movimento e disseram que ele queria imitar o polonês lech walesa, que tinha enfrentado o partido comunista.
o certo é que num diretório do partido fundado em volta do metalúrgico, mulheres ligadas ao partido, intelectuais, artistas, ao final de uma reunião no palco começaram a entoar a música de milton dando ênfase ao "é preciso ter força, ter raça...". a música de milton ganhava a adesão das mulheres e definitivamente as ruas.


corte/memória. para um filme em super 8mm

dentro do disco do milton tinha um postal de uma foto do cafi, fotografo. um céu muito azul e nuvens.
numa noite de sexta daquele outubro fui premiado com um livro por participar do Torneio Literário do e.e.s.g. casimiro de abreu a.k.a ceca, do paulistano bairro de vila guilherme.
descendo as escadas pensando na vida, família, professores, amigos, no que se passava com minha vida.....
na porta principal, aquelas corrediças, parecida com as de elevador velho. uma menina de cabelo muito negro, amarrado numa trança caindo no ombro direito e sorriso me esperava com uma pergunta no rosto;"E?"
e depois de ler a dedicatória na grafia peculiar do professor cardoso me entregou o postal com a foto do cafi. aquele céu azul e suas nuvens.com aquela citação do livro "O Pequeno Príncipe", aquela que as meninas gostam mais; "Voce se torna responsável por aquilo que cativas".


_ Pedrão Pedrão, escritor poeta. Não vai me esquecer hein?"

mesmo que eu não fique mexendo nos vinis. não tem como esquecer um outubro desses.


quer ouvir a primeira gravação com o boca livre? ouça o coro.


em tempo: e quase ninguém reparou mesmo que abrindo o lado a do disco 2, milton musicou um poema de carlos drummond de andrade. talvez um pivete neguinho esteja entre estes observadores. mas aí é outra história.

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