Até metade dos anos 70, os transmissores de rádio, em sua maioria, era de ondas curtas. O tal "rádio AM". E foi através desse veículo, que muitas pessoas foram forjadas no seu gosto musical. Se o garoto não tivesse mais de um aparelho de rádio em casa, ele teria que disputar horários, com os pais e com os irmãos ou até alguém mais velho que morasse no mesmo lugar que ele.Não era fácil. Mas era mais divertido. E o dia parecia muito pequeno para tantas atividades.
Em São Paulo, o ouvinte que tivesse interessado em ouvir música podia se situar entre as emissoras mais "jovens", Difusora e Excelsior, cujos principais locutores eram Darcio Arruda e Antonio Celso. Havia outras, mas na maioria das casas, os aparelhos ficavam mesmo na mão dos mais velhos, que se interessam pelo trabalho de emissoras, como Nacional, Tupi, Panamericana e Bandeirantes. O jovem ou a jovem, podia incluir um rádinho de pilha na lista de Natal, que faria tanto sucesso, quanto uma bola ou uma boneca.
Acompanhando o gosto de alguns dos mais velhos, a gurizada podia ser premiada com uma família que não tirasse da sintonia da Bandeirantes. Mesmo que uma linguagem diferente, das que ela já estaria encontrando entre sua amizades, a Bandeirantes tinha um time de apresentadores, que para aquele interessado no mundo, na música e na vida, seriam bons formadores de gostos e posturas.
Estavam lá, Hélio Ribeiro, Ferreira Martins, Marcos "Baby" Durães e a noite Antônio Carvalho, este era um locutor de voz grave e com sotaque acaipirado, que presenteava os ouvintes, com delicadas pérolas, das 9 às 11 da noite, quando não havia transmissão de futebol, com seu "Frequência Modulada". E se ouvinte ainda quisesse se inteirar, da tal "linha evolutiva", aos domingos pela manhã ele apresentava o "Arquivo Musical". Reinterando que Elvis, Francisco Alves, tinham muito coisa interessante no repertório, e que só era preciso, ouvido atento e coração aberto.
Nos últimos tempos, Antônio Carvalho estava confinado a madrugada da emissora, onde entrou em 1969. Seus preâmbulos ficaram místicos e ganharam outros tipos de fãs, embora o "Arquivo Musical" ainda funcionasse. Antônio Carvalho, lutava contra a leucemia. Perdeu (?) a batalha ontem, 20 de maio. Não teremos mais, gurizada saudosista o prazer da voz grave e acaipirada. Também não brigamos mais pelos horários para ouvirmos o rádio da família.
No prefácio do livro de Norman Mailer, O Grande Vazio, seu filho escreve, "Dentro em breve a geração da Segunda Guerra vai desaparecer. Com isso perderemos, a conexão humana com uma época(...)
Como as gerações mais jovens estão mais sintonizadas em aprender com os filmes, a televisão e a internet, e não com os livros de História ou com as palavras dos nosso avós nossa compreensão do passado é mais facilmente manipulada pelas técnicas cada vez mais sofisticads de marketing e de mídia utilizadas pelos detentores do poder. É por isso que é tão importante termos essas conversas com as gerações mais velhas , em qualquer momento ou lugar que for possível, antes que seja tarde " John Buffalo Mailer.
Pensando nisso, em outros tempos, na forma como era tudo, em como o mundo se colocava nas relações humanas e até através de uma locução de rádio que este blogueiro se lembrou mais de um título do livro do jornalista Alberto Vilas. O Mundo Acabou. "Prá cima e Avante !!".
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