domingo, 2 de maio de 2010

Mexendo nos vinis


Se você não encontrava os amigos no fim de semana, a segunda-feira era dia de contar as aventuras. A Berenice chegou esbaforida na rodinha de algumas meninas da classe. Me lembro da Márcia, ruiva, que gostava de um cara que no ano anterior estava na minha classe, mas que naquele ano tinha passado para o noturno, a paixão dela continuava, pena. Me lembro da Roselene, que um dia numa aula de Educação Artística chorou com a música do Roberto Carlos, Custe o que custar, eu entendi o choro dela, já tinha acontecido comigo e ela foi amparada pelas amigas. E me lembro da Fátima, que era a mais velha e repetente, com que dava para se ter bons papos, sobre música, cinema e livros. Sabia tudo.
O zumzum da rodinha chegou aos meus ouvidos. Percebi que Berenice falava que tinha assistido ao que ela chamava de "programa de música da Tv Cultura", o termo vídeo clip ainda não existia e tinha se encantado por um cantor, loiro "como anjo", nas palavras dela e mais bonito que o David Cassidy da Família Dó Ré Mi. Mas ela não tinha anotado o nome do "príncipe", nas palavras dela.
De canto de ouvido, ouvi meu nome na voz da Fátima, vamos perguntar "pro" Pedrão. Berenice usou aquela voz carinhosa que as mulheres usam quando querem um favor, Pedro Pedrinho, vem aqui por favor. Fui e ela explicou o caso. Eu tinha visto o "programa de música" e sabia o nome do "príncipe loiro", da música que foi apresentada e do nome do disco onde ela estava. Frampton Comes Alive. E se alguma delas, estava pensando em ir até Santana comprar o disco e precisasse de companhia, eu estava às ordens, essa última parte eu não falei em voz alta, só pensei. Ele não é mais bonito que o David Cassidy da Familia dó Ré mi, me perguntou Berenice querendo meu apoio, no que fui firme, prefiro a Susan Dey, que fazia a irmã de David Cassidy no mesmo seriado.
Dias depois as meninas da classe já exibiam a estampa do moço em cadernos e pranchetas, rivalizando as fotos dele com os decalques do Gotas de Pinhos Alabarda e os meninos tentavam lançar pelos ares a reputação do moço, espalhando que ele era bicha e pior, namorava o David Cassidy da Familia Dó Ré Mi, o que se fosse verdade seria a suprema vitória da molecada enciumada pela atração exercida nas meninas por ele.
O tempo passou, o disco andou sumido por muitas casas nos últimos anos. E nem sei se o exemplar ainda é o mesmo. Mas mexendo nos vinis, ele me trouxe essa e outras histórias das audições desse clássico pop e de um tempo inocente e gostoso.



e para que não haja dúvidas, a Família Dó Ré Mi (The Partridge Family)
com David Cassidy e claro Susan Dey, nos teclados à direita.

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