domingo, 25 de outubro de 2009

Mexendo nos vinis




Meus pais a haviam contratado para ser minha professora particular. Ela também era minha professora regular. Começava todas as aulas sempre com uma leitura interessante. Uma poesia,uma letra de música, uma notícia de jornal. Era moderna para aquele tempo. Morava sózinha, falava palavrão, namorava sem querer casar, bebia cerveja, tudo que as moças "família" não faziam.
E tinha uns discos, dois, de um certo Milton Nascimento, a primeira pessoa que soube que os tinha.
As aulas eram no apartamento dela. Cada dia ela ia colocando uma faixa e pedia que eu prestasse atenção. Prestei, a capa era um desenho do Milton, que eu achei bonito e diferente. O disco abria com a faixa Para Lennon e McCartney, que me deu um certo arrepio, ela começa com uns acordes de piano elétrico e percussão, um riff de guitarra, a voz de Milton, entra, colocando a história para nós. Mais tarde num grupo literário que participei, um integrante do grupo, colocou abaixo de micróbio a letra da música, dizendo que Milton Nascimento não era tudo aquilo, e que Lennon merecia mais respeito, e que Milton não deveria dar conselhos a quem quer que fosse, me calei. A música já tinha anos, ele não sabia.
Outras faixas foram me ganhando, Maria três filhos, que eu achava que era em parte, minha mãe. A primeira, Clube da esquina e Durango Kid, que para mim, foi sinônimo, durante muito tempo, do que atribuiam à Milton de cantar letras difíceis. Informo aqui,que neste disco em questão, Milton está acompanhado o tempo todo pelo Som Imaginário, Zé Rodrix na guitarra, a guitarra em ParaLennon e McCartney é dele. Wagner Tiso, Tavito, Robertinho Silva e Fredera, além das participações de NanáVasconcelos,Lo Borges e Dory Caymmi, coisa fina.
Mexendo nos vinis, encontrei uma letra de um outro álbum do cantor, Outubro,que ela costumava recitar. Por que é outubro, e outubro é um dos meses que ela mais gosta, como coloquei num verso, que fala dela,Belinha.

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