quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Aquelas canções do Roberto



eu contei assim a história para Teresa Cristina

no quintal da casa da Denise lá em Londrina, nós brincávamos de Programa Flávio Cavalcanti reproduzindo o quadro A Grande Chance, um programa de calouros do apresentador.
amor silencioso por Denise, aquela por quem eu me formaria engenheiro agrônomo e ficaria pelas terras paranaenses para sempre ou tentaria mais tarde, buscar novos horizontes no Instituto Rio Branco, virando diplomata em Londres. eu embaixador ela embaixatriz, que foi a cantada que eu passei para ele num bilhete. ja que Rainha, Londres já tinha, quem sabe...Princesa. e ela nada.
eu cantava sempre a mesma música do Roberto. querendo que ela entendesse o recado da letra na minha voz já se preparando para ficar grave. e ela como "um zé fernandes" cruel sempre me desclassificava.
um dia injuriado mudei a música e dediquei para uma outra Denise no microfone feito de cabo de vassoura. ela reparou em mim me deu boa nota. mas aí eu já comecei a ter outros planos. e olhar outros horizontes, além de Cambé e Ibiporã.



o homem muito magro entra toda manhã na praça em Macapá. as oito já faz muito calor. mas ele aparece de terno azul claro e um corte que lembra o Roberto dos velhos tempos. dá aquele grito que o Rei deu em o Negro Gato e começa o seu "show" desfiando em plena praça algumas do repertório do Brasa. ele fala "bicho", "mora" e "é uma brasa" e ri como Roberto. ele faz isso duas vezes ao dia me avisa o embaixador da França em Macapá, que irá me salvar em partes de uma grande burrada. chorando assisti muitos dos "shows" do "Brasa do Amapá", pensando no dia em que a vi pela primeira vez na casa da menina com nome da família real brasileira, uma daquelas três ouvindo Lou Rawls na tarde de primavera de Londrina. e porque não a demovi da idéia dela de estar comigo naquele delírio.



tem um poster do Leonard Whitining, o Romeo do filme do Zefirelli no quarto dela. do quarto dela dá para ver o telhado da Catedral de Londrina. algumas fronteiras vizinhas da cidade, Cambé, Ibiporã, Warta, Bela Vista do Paraíso. em bom dia até o caminho que dava para o sítio do meu avô posso ver. tem um poster do Jim Morrison sem camisa no quarto dela. e do quarto dela dá para ver os horizontes azulados se avermelhando no fim de tarde londrinense me encantando, hipnotizando. tem um poster do Roberto Carlos, no quarto dela, que é a contra capa do disco em que ele está sentado em alguma praia. no quarto dela ao me ver admirando o horizonte ela cunhou uma frase que usaria depois num texto de um pseudo livro; "não fique só admirando os horizontes. caminhe até eles !". ela tem nome de princesa da família real brasileira. e anos depois vou pensar nela no dia em que meu médico fizer o exame do meu olhar novo. e no dia que voltei para a cidade depois de anos fora de lá. ela será uma das três que me receberá com sorrisos, não o que irá chamar mais minha atenção, segurando um disco do Lou Rawls numa tarde de primavera londrinense. e será para ela que contarei a história com uma Denise.

(outros esboços para: o dia em que a tirei para dançar)

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