quarta-feira, 22 de junho de 2011

Benê 80

ainda continua estudando. fizemos juntos uma lição de inglês dela dia desses. quer trabalhar, quer ler um texto da lilia scharwz sobre as teses racistas vindas lá do século 19 para qualquer debate. mas agora ela anda meio rabugenta, coisa de "velho". não quer festa, comemoração, encontros. mas filho obedece mãe?
o texto abaixo de alguns anos atrás, é beijo e abraço nela.



É minha Mãe


Quando os filhos ainda eram pequenos, voltou aos estudos que tinha largado. Fez o antigo Madureza, muito parecido com o supletivo de hoje. Na mudança de Londrina para São Paulo se matriculou nos cursos regulares do Estado, sendo obrigada a usar uniformes, o que acatou sem constrangimento. Ganhou vaga numa instituição respeitada como a PUC-SP e, apesar das dificulddes concluiu o curso de Ciências Sociais. Parou? Não! O mestrado foi sua meta seguinte. Ainda quer trabalhar, colocar em prática seu aprendizado. Enquanto as oportunidades se apresentam de maneiras tímidas ou quase nenhuma, ela vai angariando simpatias pela sua força de vontade. Vontade mostrada onde muitos desistem. Acha tempo para aulas voluntárias em cursinhos populares e atualmente participa com pequenas pesquisas para a ONG Fala Preta!

Uma virada no tempo.

Meu irmão, caçula, o Ruy, recebe a bola pelo lado esquerdo da quadra. Sangue de boleiro nas veias, eu sei o que ele tem que fazer, ele também sabe. De olho no adversário, com a bola ao alcance do pé direito o oponente nem percebe a humilhação que sofrerá em milésimos de segundo. O lance seguinte é o adversário tendo a bola passando entre as pernas e a tentativa de agarrar meu irmão. Esdrúxulo. No chute a bola trisca a trave do time adversário, a jogada causa admiração na plateia presente na quadra. Com jeito de "eu já sabia!", olho o sujeito a meu lado e anuncio: "É o meu irmão!".

Hoje vou pegar o slogan que inventei quando via meu irmão mais novo jogar e vou olhar para vocês. E dizer que além dos fatos frios apresentados, ainda há a voz dela em algum canto da casa, a preparação de alguma iguaria caseira, as lições de piano e canto, o rádio ligado, a palavra que só ela sabia o significado, porque antes de ir ao dicionário, eu recorria a ela. Há ainda uma vida que se espreme no limite, para se manter digna. Vitórias esparsas? Não! Vitóris muitas da filha do Sr. Augusto e de Dona Maria, em algum lugar orgulhosos dela. Como orgulhosos muitos que a cercam e a merecem e a respeitam com sua presença e força. Como afimei, quem dribla bonito agora é ela. Eis. É minha mãe.

texto publicado no livro, São Sebastião e a Vila Guilherme, Memórias Paulistanas da Zona Norte, de Benedita Conceição de Carvalho Silva e José de Almeida Amaral Júnior, 2002


eu estava ouvindo a eldorado-am lá no fim dos 70. disco novo de caetano de antanho. a letra era a cara dela na minha vida. balancei. anos depois insisti para que ela a cantasse num evento em que a produzi. acompanhando a música pelo disco aprendeu a música e mandou ver.classuda.

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