Romeu & Julieta
até algum tempo atrás eu tinha uma mancha no ombro esquerdo. sei como a consegui e em que dia. foi jogando bola em um terreno baldio em londrina que chamávamos de "campinho do juarez". o terreno era do pai do juarez, e o time dele jogava ali.
a bola me foi passada. reparei no meu marcador mais forte do que eu. toquei a bola para que ela ganhasse uma certa velocidade fora do alcance dos pés do renato, meu marcador. era só enganá-lo num jogo de corpo e ficar livre com a bola à frente. a bola passou, eu não. o campinho do juarez era cercado por muros. fui imprensado e arrastado pelo corpanzil do renato num deles. parte da minha pele e sangue marcaram por anos, aquele muro. era um domingo.
e minha irmã, a rosa, me esperava em casa. ela tinha me convencido a acompanhá-la ao cinema. um tal de "romeu e julieta" estava em cartaz num cinema da cidade, depois de anos de atraso do seu lançamento chegava ao interior paranaense, ao cine vila rica.
com medo de alguma bronca. não mostrei meu ombro em carne viva e sangrando. tomei um banho rápido coloquei uma camisa, sem passar qualquer remédio. a ferida ardia. minha irmã reparou só no cinema o sangue na minha camisa. tirou um lenço da bolsa e tentou dar um jeito.
começa o filme. li o nome do bardo inglês literalmente no começo do filme. minha irmã me corrigiu. li o nome do diretor italiano e não entendi. o autor não era inglês? minha irmã me deu uma lição de inglês e falou do apóstrofe e do "s" ao final de algumas palavras em inglês. falou de adaptações de obras clássicas. afundei na cadeira. a ferida ardia.
o ator leonard whiting, que muitas meninas londrinenses tinham em poster nas paredes, apareceu na tela. suspiros numa sala recheada de mulheres. minha irmã também suspirou. a olivia hussey apareceu. me ajeitei na cadeira. minha irmã perguntou se estava doendo, eu respondi, não, agora não. apareceu a bunda do whiting, risinhos. minha irmã me fala que as amigas haviam lhe dito que tinha essa cena, da bunda do whiting. se eu tivesse essa informação antes...e a da olivia? minha irmã disse que não. a ferida doeu de novo. tudo isso acompanhado por uma música pegajosa feito chiclé e ferida ardendo.
a história vai...catarse final, quando os dois se desencontram nos planos deles. a moça à nossa frente tenta avisar romeu levantando da poltrona: "não faz isso, ela tá viva, nãão!!". e depois tenta de novo avisar julieta. minha irmã está pensativa ao meu lado. há outras feridas naquela sala. narizes fungam. as luzes da sala vão se acendendo. as pessoas demoram a se levantar. como é o nome mesmo? pergunto. wil-li-am, sha-kes--pea-re, minha irmã, brava. bom o cara hein?- cê acha? uma tragédia dessa!!, minha irmã, descontente como a maioria. pés se arrastam na saída da sala de cinema. minha ferida arde. a camisa está manchada de sangue, vou ter que avisar minha mãe. narizes ainda fungam. mas tive uma lição de inglês, outra sobre um autor que eu não conhecia e que o amor pode ser uma coisa complicada, cheio de feridas ardendo e marcando para sempre a nossa pele.
a bola me foi passada. reparei no meu marcador mais forte do que eu. toquei a bola para que ela ganhasse uma certa velocidade fora do alcance dos pés do renato, meu marcador. era só enganá-lo num jogo de corpo e ficar livre com a bola à frente. a bola passou, eu não. o campinho do juarez era cercado por muros. fui imprensado e arrastado pelo corpanzil do renato num deles. parte da minha pele e sangue marcaram por anos, aquele muro. era um domingo.
e minha irmã, a rosa, me esperava em casa. ela tinha me convencido a acompanhá-la ao cinema. um tal de "romeu e julieta" estava em cartaz num cinema da cidade, depois de anos de atraso do seu lançamento chegava ao interior paranaense, ao cine vila rica.
com medo de alguma bronca. não mostrei meu ombro em carne viva e sangrando. tomei um banho rápido coloquei uma camisa, sem passar qualquer remédio. a ferida ardia. minha irmã reparou só no cinema o sangue na minha camisa. tirou um lenço da bolsa e tentou dar um jeito.
começa o filme. li o nome do bardo inglês literalmente no começo do filme. minha irmã me corrigiu. li o nome do diretor italiano e não entendi. o autor não era inglês? minha irmã me deu uma lição de inglês e falou do apóstrofe e do "s" ao final de algumas palavras em inglês. falou de adaptações de obras clássicas. afundei na cadeira. a ferida ardia.
o ator leonard whiting, que muitas meninas londrinenses tinham em poster nas paredes, apareceu na tela. suspiros numa sala recheada de mulheres. minha irmã também suspirou. a olivia hussey apareceu. me ajeitei na cadeira. minha irmã perguntou se estava doendo, eu respondi, não, agora não. apareceu a bunda do whiting, risinhos. minha irmã me fala que as amigas haviam lhe dito que tinha essa cena, da bunda do whiting. se eu tivesse essa informação antes...e a da olivia? minha irmã disse que não. a ferida doeu de novo. tudo isso acompanhado por uma música pegajosa feito chiclé e ferida ardendo.
a história vai...catarse final, quando os dois se desencontram nos planos deles. a moça à nossa frente tenta avisar romeu levantando da poltrona: "não faz isso, ela tá viva, nãão!!". e depois tenta de novo avisar julieta. minha irmã está pensativa ao meu lado. há outras feridas naquela sala. narizes fungam. as luzes da sala vão se acendendo. as pessoas demoram a se levantar. como é o nome mesmo? pergunto. wil-li-am, sha-kes--pea-re, minha irmã, brava. bom o cara hein?- cê acha? uma tragédia dessa!!, minha irmã, descontente como a maioria. pés se arrastam na saída da sala de cinema. minha ferida arde. a camisa está manchada de sangue, vou ter que avisar minha mãe. narizes ainda fungam. mas tive uma lição de inglês, outra sobre um autor que eu não conhecia e que o amor pode ser uma coisa complicada, cheio de feridas ardendo e marcando para sempre a nossa pele.
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