Roubado na caruda do Nei Lopes
“NÃO RACIALISMO” É ISTO AQUI, Ó!
Dizem – não podemos afirmar com certeza – que a República Dominicana é um país complicado. Sua população declarada inclui 73% de mulatos e 16% de negros. E sua História conta que em 1523 um grupo de escravos africanos rebelava-se, fundando um quilombo, o primeiro da ilha, iniciativa que se repetiu em 1537 e 1548. Graças à exploração da mão-de-obra de africanos e descendentes, entre 1570 e 1630 a ilha foi o maior produtor de ouro das Antilhas, um dos maiores produtores de açúcar das Américas e dona de um rebanho bovino na proporção de uma cabeça para cada habitante. Em 1809, após a Revolução Haitiana, a Espanha retomou parte da ilha, num domínio que perdurou até 1822, quando o governo negro do Haiti voltou a ocupar todo o território. Nesse tempo, porém, e até o fim do governo haitiano de Jean-Pierre Boyer, constituiu-se o que se denominou “Haiti Espanhol”, em contraposição à República do Haiti, de fala francesa. Até que, em 1861, a burguesia crioula (branca, nativa) solicitou a reintegração do país à Espanha, em busca de apoio externo para manter o domínio sobre a maioria negra.
Quatro anos mais tarde, como resultado de um movimento liderado por mulatos, o país, declarou ainda uma vez sua independência, embora caindo logo depois sob a tutela econômica dos Estados Unidos.
Dizem – repetimos – que o racismo contra os negros come solto por lá. E isto parece claro num mini-conto de Eduardo Galeano, publicado no livro “Bocas do Tempo” (Porto Alegre, L & PM, 2010), que acaba de chegar por aqui.
É a história de Sonia Pie de Dandré, uma afro-dominicana orgulhosa de suas raízes étnicas. Que foi à repartição publica competente retirar o passaporte que solicitara.
Quando recebeu o documento, Sonia viu que, nele, a cor de sua pele figurava como “trigueña” (em português, “trigueira”, “amorenada”). Então, pediu que corrigissem, pois era “negra” – disse.
“- Neste país não há negros – explicou o funcionário, negro, que tinha preenchido os formulários”. – como finaliza o conto o grande autor de “As veias abertas da América Latina”.
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Pois é isso o que desejam os “não racialistas” brasileiros. Que nossa identidade seja o que eles querem e não o que na verdade somos e desejamos. Entendido?
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